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As epidemias que não aconteceram: Febre Amarela

As epidemias que não aconteceram: Febre Amarela
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mai. 21 - 9 min de leitura
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Dando seguimento às postagens sobre as epidemias que não aconteceram hoje falaremos sobre uma velha conhecida nossa, a Febre Amarela.

Se você perdeu os artigos anteriores, é só clicar aqui  para ler sobre a varíola do macaco e o texto de abertura aqui  

Sobre a Febre Amarela:

O vírus da febre amarela, que se espalha entre mosquitos e primatas (humanos e não humanos), foi trazido da África para as Américas pelo comércio de escravos no Atlântico. Um dos primeiros surtos registrados foi em meados do século 17 em Yucatan, e entre 1693 e 1905 matou mais de 100.000 pessoas nos Estados Unidos. Os surtos continuam a ocorrer em áreas tropicais da África e da América do Sul, onde não pode ser totalmente eliminado, pois circula entre mosquitos e primatas não humanos nativos da floresta.

O Brasil conseguiu eliminar a febre amarela urbana em 1942.

Geralmente, quem contrai este vírus não chega a apresentar sintomas ou os mesmos são muito fracos. As primeiras manifestações da doença são repentinas: febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos por cerca de três dias. A forma mais grave da doença é rara e costuma aparecer após um breve período de bem-estar (até dois dias), quando podem ocorrer insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele amarelados), manifestações hemorrágicas e cansaço intenso. A maioria dos infectados se recupera bem e adquire imunização permanente contra a febre amarela.

Não há cura para a febre amarela e 30-60% das pessoas com infecções graves morrem. Uma vacina eficaz foi desenvolvida no final da década de 1930 e 90% das pessoas que recebem a vacina estão imunes em 10 dias. Nos últimos anos, grandes surtos de febre amarela causaram escassez global da vacina.

No Brasil, as pessoas que vivem ou trabalham na floresta tropical ou próximas a ela estão em maior risco de infecção por febre amarela. Nos últimos anos, mudanças ambientais levaram a uma maior circulação do vírus da febre amarela entre macacos em ecossistemas florestais que, junto com o contato mais próximo de humanos e mosquitos e mudanças no comportamento humano, levou a uma explosão de infecções em populações humanas próximas. O maior número de casos - incluindo surtos em animais e humanos - permitiu a rápida disseminação da doença em áreas florestais próximas a grandes cidades brasileiras, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo, onde a cobertura de vacinação contra febre amarela é baixa devido à longa ausência da doença.

Em 2016 houve uma mudança...

Antes de 2016, haviam relativamente poucos casos de febre amarela no Brasil - a temporada de febre amarela de 2015/2016 teve apenas três casos humanos confirmados e duas mortes. Mas em dezembro de 2016, ficou claro para os epidemiologistas que monitoravam a febre amarela no sudeste do Brasil que uma epidemia era iminente. O maior surto de febre amarela no Brasil nos tempos modernos estava surgindo, exatamente quando o suprimento global de vacinas contra a febre amarela estava caindo perigosamente.

Durante a temporada 2016-2017, os casos subiram para 792, com 274 mortes. Na temporada de dezembro de 2017 a maio de 2018, os casos e mortes continuaram a aumentar, com 1.266 novos casos humanos e 415 mortes. As infecções concentraram-se em áreas vizinhas às grandes cidades que não eram tipicamente consideradas de alto risco para febre amarela; as autoridades temiam que a transmissão pudesse explodir se a doença começasse a se espalhar entre humanos e espécies de mosquitos urbanos.

Também preocupante para a comunidade internacional foi a propagação da febre amarela além das fronteiras do Brasil. De janeiro a março de 2018, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos relatou pelo menos quatro mortes e 10 casos entre viajantes internacionais que voltavam do Brasil para a Europa e América do Sul.

O medo de um surto mais amplo se aproximava.

A resposta contra a doença se iniciou

O controle do surto de 2016-2018 exigiu que o Brasil expandisse significativamente a imunização à medida que as infecções se espalhavam pelas grandes cidades. O Brasil estava bem posicionado para fazer isso:

o país é um dos maiores produtores da vacina contra a febre amarela do mundo e tem um sistema de saúde pública integrado que prioriza a vacinação de rotina, incluindo a vacina contra a febre amarela administrada em crianças pequenas.

No entanto, na época do surto, o estoque de vacinas era baixo; um surto de febre amarela em Angola e no congo esgotou os estoques do governo brasileiro. Mesmo assim, o Brasil desenvolveu um ambicioso plano de vacinação. As autoridades expandiram drasticamente as vacinas contra a febre amarela em 2017, distribuindo 45 milhões de doses de vacinas e mais 24 milhões em 2018, incluindo nos altamente populosos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Eventualmente, para se prevenir contra a disseminação de casos de febre amarela, as autoridades expandiram a vacinação contra a febre amarela para todo o país, visando mais 77 milhões de pessoas.

O Brasil foi o único capaz de responder à febre amarela, pois desenvolveu perícia científica sobre a endemia a partir do final do século 19 e participou do desenvolvimento da vacina contra a febre amarela na década de 1930, motivado pelo risco nacional. Como já era um dos maiores produtores da vacina, em 2018 conseguiu dobrar sua produção mensal para 8 milhões de doses para sustentar sua ambiciosa meta de vacinar toda a população.

Comunicado – Vacinação contra a Febre Amarela - Município de Morro da FumaçaImagem demonstrando um chamado para a campanha de vacinação contra a febre amarela pelo governo de Santa Catarina. Fonte:  Munícipio de morro da fumaça.

Para administrar o grande número de vacinas necessárias em meio a uma escassez de vacinas, as autoridades solicitaram suprimentos adicionais de um estoque internacional para complementar sua capacidade de produção doméstica. Para ampliar ainda mais a oferta, em colaboração com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil decidiu usar doses parciais da vacina. Estudos mostram que um quinto de uma dose padrão pode fornecer até um ano de imunidade e pode ser benéfico na contenção de surtos.

Em conjunto com a vacinação, as autoridades de saúde priorizaram a vigilância de surtos de febre amarela entre animais - fornecendo um aviso prévio de onde os casos humanos apareceriam mais tarde - gerenciamento de casos para reduzir as mortes entre os infectados e diagnósticos de teste altamente específicos.

No final da temporada de febre amarela de 2019, essas medidas produziram resultados dramáticos: apenas 85 casos de febre amarela e 15 mortes foram registrados. Uma doença que ameaçava se expandir por todo o Brasil e além das fronteiras foi contida.

Este estudo de caso foi desenvolvido em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde e demonstra como o país conseguiu conter a ameaça que a Febre Amarela representou para o país a partir de 2016.

 


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Referências

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  2. https://portal.fiocruz.br/taxonomia-geral-6-doencas/febre-amarela
  3. Staples, J. E. & Monath, T.P. (2008). Yellow Fever: 100 Years of Discovery. JAMA, 300(8), 960. https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/182442
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  8. Gotuzzo, E., Yactayo, S. & Córdova, E. (2013). Efficacy and Duration of Immunity after Yellow Fever Vaccination: Systematic Review on the Need for a Booster Every 10 Years. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 89(3), 434-444. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3771278/
  9. Kupferschmidt, K. (2016, April 4). Angolan yellow fever outbreak highlights dangerous vaccine shortage. Science | AAAS. https://www.sciencemag.org/news/2016/04/angolan-yellow-fever-outbreak-highlights-dangerous-vaccine-shortage
  10. Possas, C., Lourenço-de-Oliveria, R., Tauil, P. L., Pinheiro, F. P., Pissinatti, A., Cunha, R. V., Freire, M., Martins, R. M. & Homma, A. (2018). Yellow fever outbreak in Brazil: the puzzle of rapid viral spread and challenges for immunization. Memórias Do Instituto Oswaldo Cruz, 113(10), e180278. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6135548/

Texto elaborado por Diego Arthur Castro Cabral.


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