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As mulheres mais importantes que fizeram e fazem história na ciência brasileira e mundial

As mulheres mais importantes que fizeram e fazem história na ciência brasileira e mundial
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mar. 8 - 11 min de leitura
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97% dos ganhadores do Prêmio Nobel de Ciências foram homens(1). Entretanto, isso não é compatível com a intensa presença feminina na ciência. Assim como a cientista que ajudou a desvendar o DNA, (e cujos estudos foram a base para a premiação de colegas homens), as mulheres sempre estiveram presentes em todos os níveis do universo científico, mas, a importância da maioria delas foi relegada a segundo plano pela história(1). Quando pensamos  como um cientista e um ganhador do Prêmio Nobel devem parecer, normalmente pensamos em uma imagem masculina, branca e mais velha. Além disso, há estereótipos de que mulheres não são boas e não gostam de matemática e ciências, o que corrobora para a permanência da sub-representação feminina  nas áreas de STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática)(1).

Apesar disso, de acordo com o Instituto Americano de Física, as mulheres obtêm cerca de 20% dos diplomas de bacharel e 18% dos doutorados em física, um aumento em relação a 1975, quando as mulheres recebiam 10% dos diplomas de bacharel e 5% dos doutorados em física(1).

Esse pequeno avanço representativo, atenua a desigualdade de gênero e encoraja cada vez mais mulheres a seguirem o mesmo caminho e colaborarem com grandes pesquisas. 

Como forma de reconhecimento e incentivo às futuras cientistas, selecionamos algumas pesquisadoras que marcaram a história da ciência nos últimos anos, mas que também não tiveram seu trabalho reconhecido com a mesma credibilidade do que seus colegas de área. 

1.Ruth Sonntag Nussenzweig (1928- 2018) - Corante violeta genciana contra Chagas e o início do desenvolvimento da vacina contra malária

Austríaca de origem judaica, Ruth mudou-se com seus pais para o Brasil para escapar à perseguição nazista  aos judeus. Em 1948 ingressou na Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) onde conheceu Victor Nussenzweig, seu marido e colega de profissão.

Os primeiros estudos de Ruth foram focados no Trypanosoma Cruzi - parasita causador da doença de Chagas -, Ruth e Victor estabeleceram melhorias no método de detecção da doença e descreveram a capacidade de o corante violeta de genciana matar o parasita no sangue sem torná-lo tóxico(2).

Esta descoberta teve grande impacto na prevenção da doença, que pode ser transmitida por meio de transfusão de sangue infectado, e, por décadas, as bolsas de sangue usadas para transfusão na América Latina eram azuis devido à presença do corante.

Depois, Ruth começou a investigar a Malária, causada pelo parasita Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles infectado por uma forma do Plasmodium denominada esporozoíto. Ruth descobriu que a irradiação por raios X do mosquito  infectado enfraquece o esporozoíto, fazendo com que este não seja mais capaz de desencadear a doença, mas ainda suficiente para gerar uma resposta imune de proteção contra a Malária em animais de laboratório. Assim, abria-se o caminho para o desenvolvimento de uma vacina(2).

2.Irène Joliot-Curie (1897-1956) - O nêutron e a radioatividade artificial

A físico-química francesa Irène Joliot-Curie, filha de Marie e Pierre Curie, ficou conhecida por ter demonstrado a existência do nêutron e da radioatividade artificial, ambas descobertas realizadas no início da década de 30(2). E, por isso, em 1935, recebeu o prêmio Nobel de Química “em reconhecimento por sua síntese de novos elementos radioativos”, feita ao bombardear alumínio com partículas alfa(2). 

3.Rosalind Franklin (1920 – 1958) - Descoberta do formato e composição do DNA 

Rosalind Franklin nasceu em Londres, Reino Unido, fez físico-química pela Universidade de Cambridge, e foi reconhecida por seus estudos de análise física dos materiais sobre a difração dos Raios-X nas primeiras descobertas sobre o formato e composição do DNA usado até hoje(2). É considerada a Mãe do DNA, Franklin continuou seu caminho e se doutorou na Universidade de Cambridge em 1945; fez parte de diversas equipes de pesquisa em diferentes associações e laboratórios europeus e no Birkbeck College, contou com equipe própria e desenvolveu um importante trabalho sobre a estrutura molecular dos vírus, cuja continuação levaria seu colega Aaron Klug a ganhar o Nobel de Química em 1982(2).

5. Christiane Nusslein-Volhard (1942 -) Genética embrionária e seu fator genético

A bióloga, física e química alemã é co-vencedora do Prêmio Nobel de Fisiologia/ Medicina de 1995 por suas pesquisas sobre genética embrionária, juntamente com dois biólogos estadunidenses que, juntos demonstraram que todas as funções das células são formadas por seu fator hereditário, descoberta importante para compreender o desenvolvimento dos embriões(2). Recebeu muitas honrarias na Alemanha e no exterior, entre elas Brooks Lecturer, Harvard Medical School (1988) o Leibniz, considerado o maior concedido à pesquisadora ou ao pesquisador da Alemanha.

 

6. Dorothy Mary Crowfoot (1910 - 1994) - Cristalização e difração de raios-X

Dorothy estudou Física e Química e escolheu fazer seu projeto de pesquisa em cristalografia de raios- X. Ela cristalizou a substância em estudo e disparou feixes de raios X no cristal, e, em seguida, estudou a forma como os raios-X foram difratados para fora dos planos da estrutura do cristal(2). Em 1937, Dorothy Mary Crowfoot recebeu seu doutorado em Química em Cambridge, o tema da sua tese foi o estudo cristalográfico dos esteróis, trabalho que continuaria após seu retorno a Oxford. Eram as moléculas mais complexas que já haviam sido estudadas por esta técnica, tornando-se, assim, a terceira mulher a ganhar um prêmio Nobel, depois de Madame Curie e sua filha Irene Joliot-Curie(2). 

 

7.Ada E. Yonath (1939 -) - Mapeamento da estrutura do ribossomo

Ada recebeu o prêmio Nobel de Química, em 2009, juntamente com os cientistas Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz pelo mapeamento da estrutura do ribossomo. No Instituto Weizmann, onde antes recebera seu título de Doutora, Ada estabeleceu o primeiro (e por muito tempo, único) Laboratório de Cristalografia Biológica de Israel(2). A partir de então, mergulhou no objeto de estudo ao qual se dedica até hoje: o ribossomo. Ada foi a primeira mulher do Oriente Médio a ser laureada com o Prêmio Nobel em ciências, a quarta a ganhar o Nobel de Química e a primeira a receber este prêmio desde 1964. Em 2008, recebeu o prêmio Unesco-L’Oreal para mulheres na ciência e possui ainda muitas outras premiações(2).

 

7.Marie Skłodowska-Curie (1867- 1934) - Radioatividade espontânea e os elementos Rádio e Polônio 

A polonesa Marie Skłodowska-Curie, física e matemática, é a primeira mulher a obter o título de doutora em Física e única pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas distintas, um em Física em 1903 (juntamente com seu esposo Pierre Curie e com Henri Becquerel), sobre a radioatividade espontânea, o outro em Química de 1911, pelos seus serviços no avanço da química e suas contribuições na descoberta dos elementos rádio e polônio(2).

 

8.Maria Goeppert-Mayer (1906 - 1972) - Estruturação do átomo

Maria Goeppert Mayer nasceu na Alemanha (em território que atualmente pertence à Polônia). A física alemã foi a segunda mulher a conquistar o Nobel de Física, em 1963, com a pesquisa sobre a estrutura do átomo, em que propôs um novo modelo do envoltório do núcleo atômico, isto é, a criação de um modelo nuclear por camadas(2).

9.Donna Strickland (1960 -) Laser para manipulações biológicas

A canadense Donna Strickland, Nobel de Física de 2018, é a terceira mulher a ser laureada com o prêmio Nobel de Física, depois de Marie Curie (1903) e de Maria Goeppert-Mayer (1963), ambas em física nuclear. É formada em Engenharia Física, uma das três alunas mulheres em uma sala com 25 alunos (2). Defendeu a tese desenvolvimento de um laser ultra-brilhante e aplicação para ionização multi-photon em seu doutorado em óptica. A ideia dela era criar um laser muito intenso, mas que não destruísse o local onde estivesse agindo. A grande quantidade de energia em um curto espaço de tempo permite o uso deste tipo de laser para manipulações biológicas. Para combinar intensidade com operacionalidade, os pulsos de laser de alta intensidade foram gerados com duração muito curta(2).

10.Elisa Frota Pessoa (1921- 2018) Fundadora do Centro  Brasileiro de Pesquisas Físicas

Elisa Frota Pessoa foi uma das primeiras mulheres a se graduar em física no Brasil, junto com Sonja Ashauer. Além de notável fisicista experimental, foi uma voz importante na política científica brasileira (2). Como consequência de suas posições, foi expurgada pelo Ato Institucional Nº 5, o famigerado AI-5. Não se deixando abater, continuou sua luta científica até a aposentadoria. Recebeu a outorga do título de Professora Emérita do CBPF, sendo uma das fundadoras do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (2). 

 

11.Sonja Ashauer (1923 - 1948) Primeira mulher brasileira a ser eleita membro da Cambridge Philosophical Society

Sonja foi a primeira brasileira a concluir o Doutorado em Física, em fevereiro de 1948, na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Também foi a primeira mulher brasileira a ser eleita membro da Cambridge Philosophical Society (2). A vida profissional de Sonja foi abruptamente interrompida depois de sua volta do exterior. De acordo com o atestado de óbito a causa mortis foi “bronco pneumonia, miocardite e colapso cardíaco”. Sonja havia apanhado chuva num dia frio, resfriou-se e não deu atenção. Quando a família se deu conta, ela já estava gravemente enferma e foi imediatamente internada no Hospital Alemão (atualmente, Hospital Alemão Oswaldo Cruz) em São Paulo, falecendo 6 dias depois(2).

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Referências 

  1. FEENEY, Mary K. Por que tão poucas mulheres ganharam prêmios Nobel de ciência? 19/11/2019. Revista Galileu. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/11/por-que-tao-poucas-mulheres-ganharam-premios-nobel-de-ciencia.html  Acesso em: 08 Mar 2022.

  2.  SILVEIRA, Maria Lucimar Alencar de Sousa; CHAGAS, Flomar Ambrosina Oliveira. A CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA FEMININA NO DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA: produto educacional vinculado à dissertação a (in)visibilidade da produção científica feminina nos livros didáticos de biologia, física, química e matemática aprovados no pnld do ensino médio de 2009 a 2020. 2019. 55 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação Para Ciências e Matemática, Instituto Federal de Goias, Itajaí, 2019.

 


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