Marie Skłodowska-Curie foi uma cientista polonesa naturalizada francesa que se tornou a única pessoa ao longo da história a ganhar dois Prêmios Nobel, em dois campos científicos diferentes: Física e Química, além de ter sido a primeira mulher a ser laureada com o prêmio. Ela conduziu grandes descobertas acerca da radioatividade, propriedade utilizada em diversas áreas (como medicina, produção de energia, datação, e muitas outras) e também descreveu dois novos elementos químicos, o rádio e o polônio, até então desconhecidos. Ela teve sua candidatura para membro na Academia Francesa de Ciências negada, justamente por seu gênero. Anos mais tarde, ela se tornou a primeira mulher professora da Universidade de Paris.
Curie, embora tenha tido percalços em seu caminho, teve seus feitos eventualmente reconhecidos. Outras pesquisadoras, como Rosalind Franklin, que fez contribuições importantíssimas à pesquisa que descobriu a estrutura do DNA (autora da famosa "Foto 51"), as quais não lhe foram corretamente creditadas, não tiveram o mesmo desfecho. Com o passar da décadas, as mulheres foram galgando seu lugar na ciência, tecnologia, engenharia e matemática. A Organização das Nações Unidas tem, no ODS- 5 (Igualdade de Gênero), a meta de garantir acesso pleno e igualitário e a participação na ciência para mulheres e meninas, e alcançar, de forma mais proeminente, a igualdade de gênero e o empoderamento feminino.
Desde 2016, comemora-se no dia 11 de fevereiro o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma tentativa de dar visibilidade às fundamentais contribuições femininas na construção de pesquisas tecnológicas e científicas. Atualmente, de acordo com um estudo realizado pela UNESCO, as mulheres ocupam apenas entre 28% e 33% das posições de pesquisa no mundo. Quando o foco são os cargos mais elevados, a disparidade entre os gêneros pode ser ainda maior. As mulheres recebem menos financiamento para pesquisa do que os homens e têm menos probabilidade de serem promovidos. Também no setor privado, as mulheres estão menos presentes na liderança das empresas e em cargos técnicos em indústrias de tecnologia.
No Brasil os números são um pouco mais animadores. Por aqui, aproximadamente 40,3% dos cientistas que declararam possuir doutorado na Plataforma Lattes do CNPq são do sexo feminino. Apesar do ambiente marcado pela desvalorização feminina e exclusão, muitas mulheres quebraram barreiras e se destacaram nacional e internacionalmente.
A pandemia de COVID-19 tem demonstrado claramente o papel fundamental das mulheres pesquisadoras em diferentes estágios da luta contra a doença, desde o avanço do conhecimento sobre o vírus até o desenvolvimento de técnicas de testagem e, claro, no desenvolvimento de vacinas e tratamentos, como a médica Ester Sabino, que coordenou a equipe que sequenciou o genoma do Sars-CoV-2 em 48 horas, juntamente com Jaqueline Goes de Jesus. Ressalta-se também as milhares de profissionais que estavam na linha de frente e ainda assim encontraram forças para coletar dados de tratamentos e mortalidade, a fim de construir uma base científica robusta que auxiliasse no combate à doença. Ao mesmo tempo, a realidade imposta pela pandemia também proporcionou um impacto negativo significativo sobre as mulheres cientistas, em particular aquelas em estágios iniciais de carreira e também aquelas que dividem a pesquisa com a árdua tarefa da maternidade.
Como tema do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência 2022, a ONU elegeu “Equidade, diversidade e inclusão: a água nos une”, pois relatórios apontam que, até 2030, o total de pessoas ao redor do mundo que não terão acesso a água potável, saneamento e higiene gerenciados com segurança será de cerca de 3 bilhões de pessoas, a menos que as taxas de progresso do acesso quadruplicam. A organização reconhece o papel fundamental que as mulheres e meninas possuem na abordagem sustentável necessária para apoiar o alinhamento de estratégias sobre a água.
Mesmo assim, nos encontramos em um lugar muito distante na luta pela igualdade entre os gêneros na pesquisa. As mulheres não só têm menos acesso a redes de estudo e investimentos, mas, também, têm seus feitos minimizados, sofrem boicotes e assédio, o que acaba por dificultar o caminho a cargos de liderança.
Como podemos mudar esse cenário? Um ponto comum e que parece ser uma importante medida no combate à desigualdade é o incentivo de mulheres cientistas a participarem como modelos em eventos, iniciativas e, claro, em pesquisas, inspirando meninas e mulheres mais jovens e mostrando que a participação das mulheres na ciência é um fato, além de uma necessidade. Não obstante, deve-se assegurar a garantia do cumprimento dos direitos das mulheres e proporcionar um ambiente seguro e confortável para que estas possam, nós possamos, exercer nosso pleno potencial científico e, assim, contribuir na construção de um futuro mais justo, igualitário e com cada vez mais participação científica na pesquisa.
Deixo aqui a sugestão de um TedTalk, de Nathalia Holt, intitulado "For the Future of Women in Science, Look to the Past". Também indico os filmes "Estrelas além do tempo" e "Radioactive", excelentes produções que podem, quem sabe, inspirar nossas queridas leitoras a se dedicarem à produção científica.
“Para a mulher vencer na vida, ela tem que se atirar. Se erra uma vez, tem que tentar outras cem. É justamente a nova geração a responsável para levar avante a luta da mulher pela igualdade”.
Bertha Lutz
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Referências:
In focus: International Day of Women and Girls in Science. UN Women. Disponível em https://www.unwomen.org/en/news-stories/in-focus/2022/02/in-focus-international-day-of-women-and-girls-in-science