A pandemia de Covid-19, identificada inicialmente em Wuhan, China, em 2019, não só impactou a saúde global, mas também gerou consequências significativas no ambiente de trabalho. Uma das questões centrais é o efeito da doença na Capacidade para o Trabalho (CT) dos trabalhadores.
Essa métrica multidimensional inclui as capacidades física, mental e social necessárias para um bom desempenho laboral. Amplamente estudada, a CT é avaliada através do Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT), desenvolvido pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional. Este instrumento é fundamental para compreender como a saúde e as demandas do trabalho influenciam a performance profissional.
Com a marca de mais de 753 milhões de casos de Covid-19 registrados até janeiro de 2023, segundo a OMS, ficou claro que as consequências da doença se estendem para além dos sintomas imediatos, afetando a saúde a longo prazo e, consequentemente, a CT. Nesse contexto, uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil, buscou entender como a Covid-19 afeta a CT, enfocando os efeitos neuropsicológicos comuns em pacientes pós-Covid, como ansiedade e depressão.
O estudo transversal e exploratório avaliou 119 trabalhadores que tiveram Covid-19, revelando que mais da metade (52,9%) apresentava um ICT comprometido. Notavelmente, a ansiedade e a sonolência surgiram como sequelas significativas relacionadas ao comprometimento da CT.
Esses achados destacam a complexidade da relação entre a saúde pós-Covid e o trabalho. Dada a natureza multissistêmica da Covid-19 revelada pela pandemia, torna-se crucial entender como suas sequelas, particularmente as neuropsicológicas, afetam a capacidade laboral. Distúrbios do sono, redução da concentração e problemas de memória são alguns dos desafios enfrentados por esses trabalhadores.
Diante dessas descobertas, ressalta-se a necessidade do envolvimento ativo dos profissionais de saúde, incluindo médicos do trabalho, na avaliação e orientação para um retorno seguro ao trabalho. As diretrizes e normas legais atuais mostram-se inadequadas diante da complexidade das sequelas da Covid-19 e precisam ser revistas. É imprescindível desenvolver estratégias de retorno ao trabalho individualizadas, que considerem as necessidades específicas de cada trabalhador e adaptem ambientes e processos de trabalho para assegurar a segurança e a saúde.
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Referência:
Ferreira, L. D. P., Yasuda, C., Cendes, F., Martinez, M. C., Lucca, S. R. D., Azevedo, V., & Bandini, M. (2023). Comprometimento da Capacidade para o Trabalho e efeitos neuropsicológicos entre trabalhadores com Covid-19 prévia. Saúde em Debate, 47, 776-790.