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Defeitos do Tubo Neural: Relação entre Agrotóxicos e Fatores Genéticos

Defeitos do Tubo Neural: Relação entre Agrotóxicos e Fatores Genéticos
Rosyellen R. Szvarça
jun. 9 - 5 min de leitura
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Os defeitos do tubo neural (DTNs) são malformações graves do sistema nervoso central, resultantes do fechamento incompleto do tubo neural durante as primeiras quatro semanas de gestação, entre os dias 17 e 28 após a concepção. Esse tubo origina o cérebro e a medula espinhal, e falhas nesse processo podem levar a condições como anencefalia, espinha bífida e encefalocele. Essas malformações figuram entre as mais comuns globalmente, e estão associadas a altos índices de morbidade, mortalidade neonatal e impactos permanentes na qualidade de vida.

No Brasil, dados reforçam a relevância clínica e epidemiológica desses agravos, como mostra o estudo publicado na PLOS One, em junho de 2025. A análise mostrou a prevalência das maiores anormalidades congênitas no Brasil, no período de 2011 a 2020. Entre os 29 milhões de nascimentos vivos, as DTNs representaram 14,7% de todas as anomalias congênitas maiores, sendo a terceira condição mais frequente.

Complementando essa visão populacional, o artigo “Critical appraisal on neural tube defects and their complexities” publicado em abril de 2025, na Pediatrics & Neonatology, revisa os mecanismos genéticos e ambientais que contribuem para a ocorrência dos DTNs. Os autores destacam que mais de 200 genes já foram implicados em modelos experimentais, com especial atenção à variante C677T do gene MTHFR, associada ao metabolismo do folato. Além da deficiência de ácido fólico, outros fatores relevantes incluem o uso de medicamentos teratogênicos como o ácido valpróico, a exposição à hipertermia durante a gestação, e condições metabólicas maternas como obesidade e diabetes, todos associados a um risco significativamente maior de DTNs. Entre os fatores ambientais, a exposição a compostos como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, arsênio e pesticidas foi descrita como particularmente preocupante. Essas substâncias podem atuar sinergicamente com predisposições genéticas, alterando o desenvolvimento do tubo neural ainda nos estágios iniciais da embriogênese.

A pesquisadora Dra. Izonete Cristina Guiloski, docente do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, atua na investigação da toxicidade de fármacos, agrotóxicos e ftalatos. Em 2025, ela conduziu uma revisão sistemática, intitulada A Systematic Review of Parental Occupational Pesticide Exposure and Geographical Proximity to Agricultural Fields in Association with Neural Tube Defectreunindo evidências ainda pouco exploradas sobre a associação entre defeitos do tubo neural e a exposição ocupacional dos pais a pesticidas, além da proximidade geográfica a áreas agrícolas.

A revisão analisou 16 estudos observacionais publicados entre 2000 e 2023, envolvendo casos de anencefalia, espinha bífida, encefalocele e craniorraquisquise. Os resultados indicam que trabalhadores agrícolas, aplicadores de pesticidas, jardineiros e profissionais da indústria alimentícia estão entre os mais expostos a compostos como organoclorados (DDT, endossulfano), mancozeb e bromoxinil, todos relacionados a um maior risco de DTNs.

Além disso, a proximidade da residência dos pais a lavouras, especialmente vinhedos e cultivos sazonais também esteve associada ao aumento de casos, com distâncias críticas variando entre 400 metros e 1 km. A exposição materna nos três meses anteriores à concepção e até o primeiro mês de gestação foi particularmente associada a maior risco de anencefalia. Um dos achados mostra que a exposição simultânea de ambos os pais amplifica ainda mais o risco reforçando a necessidade de vigilância em saúde ocupacional e de estratégias integradas para proteção de famílias em áreas agrícolas.

Para pesquisadores e profissionais de saúde, esses dados reforçam a importância de integrar ações clínicas, ambientais e educacionais na prevenção dos DTNs. A vigilância epidemiológica deve considerar a exposição crônica a pesticidas como um fator de risco emergente, e políticas públicas devem priorizar a proteção de mulheres em idade fértil, especialmente em zonas rurais com baixa cobertura de assistência pré-natal.

Referência: 

1. Silvestri Melkan MPI, Ferreira OS, Bassan LCL, Brizot ML, Francisco RPV, Rodrigues AS, Azevedo Carvalho M. Prevalence and trends of major congenital anomalies in Brazil: A study from 2011 to 2020. PLoS One. 2025 Jun 6;20(6):e0323654. doi: 10.1371/journal.pone.0323654. PMID: 40478925.

2. Fouziya Shaikh, Mallica Sanadhya, Safa Kaleem, Tiya Verma, Richard L. Jayaraj, Faizan Ahmad, Critical appraisal on neural tube defects and their complexities, Pediatrics & Neonatology, 2025, , ISSN 1875-9572, https://doi.org/10.1016/j.pedneo.2024.07.015.

3. Felisbino, K., Milhorini, S. d. S., Kirsten, N., Sato, M. Y., Silva, D. P. d., Kulik, J. D., & Guiloski, I. C. (2025). A Systematic Review of Parental Occupational Pesticide Exposure and Geographical Proximity to Agricultural Fields in Association with Neural Tube Defects. Toxics13(1), 34. https://doi.org/10.3390/toxics13010034



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