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Dia do Médico! Um médico para chamar de seu!

Dia do Médico! Um médico para chamar de seu!
Luiz Duplat
out. 17 - 5 min de leitura
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Atualmente, é comum nas conversas das pessoas sobre sua saúde, elas falarem: “meu cardiologista”, “meu gastroenterologista”, “meu nefrologista”, “meu endocrinologista" ou mesmo abreviando para um íntimo "meu cardio", "meu gastro", "meu nefro", "meu endócrino". Nas minhas consultas ou mesmo em conversas informais, quando ouço isso, eu faço a seguinte indagação: seu coração tem o cardiologista, seu estômago tem um gastroenterologista, seus rins têm o nefrologista, sua diabetes tem o endocrinologista. E você? Qual o seu médico? Aquele que vai te olhar de forma integral e não fragmentado por órgãos ou doenças, aquele que vai te olhar além do corpo, vai olhar também a sua alma e as coisas e as pessoas que estão ao redor da sua vida.

Certa vez, ouvindo uma entrevista do colega médico pneumologista Edmon Lucas, na Rádio Metrópole, quando ele foi perguntado sobre o que era Ser Médico, respondeu: “Creio que seja ter um olhar além da doença. Creio que é ter um olhar que cada paciente tem, além do corpo, uma alma, uma vida, preenchida de pessoas, familiares ou não, que ele ama e é amado, e não simplesmente um corpo humano, mas uma pessoa que deseja viver, portanto deve entender o paciente além da doença, entender a sua aflição. Creio que seja se emocionar a cada melhora do quadro clínico do paciente, e até mesmo sofrer a cada perda. É lutar pela manutenção da vida (corpo e alma) do paciente, como se fosse a sua. Enfim, creio que para ser médico o mais importante seja Gostar de Gente”.

O dia 18 de outubro, no Brasil, desde 1969, e em outros países, é comemorado o Dia do Médico, data do nascimento de São Lucas, seguidor de Jesus Cristo, que em várias citações bíblicas é chamado de médico. Neste dia, o profissional médico que possui importância indiscutível para a sociedade, que exige estudos e atualizações constantes, com um exercício profissional que muitas vezes provoca esgotamento físico e sofrimento mental, tem seu trabalho reconhecido.

Mas, neste momento, os médicos têm pouco a comemorar e muito para refletir. Desde as alterações do seu papel social que vem ocorrendo nas últimas décadas, com a burocratização da Medicina e a forte atuação do complexo econômico da saúde (indústria dos equipamentos médicos, insumos e de medicamentos), além da mercantilização da saúde, através dos planos de saúde.

Temos ainda, segundo a pesquisadora da Fiocruz Maria Helena Machado, a fragmentação do conhecimento através da especialização médica precoce, gerando desinteresse do jovem médico pelas áreas básicas da medicina: clínica médica, ginecologia/obstetrícia e pediatria; o declínio do prestígio social; a perda da credibilidade social; e o uso abusivo de tecnologia médica, levando a perda da capacidade do raciocínio clínico com desnecessárias solicitações de exames e encaminhamentos a especialistas. Acrescente o número abusivo de processos judiciais tendo o médico como réu e ações do Ministério da Saúde, que atacam o médico ao invés de resolver os problemas estruturais do sistema de saúde brasileiro.

Outro ponto que merece reflexão é o número excessivo de faculdades particulares no país, muitas sem a mínima condição de formar um médico, pois faltam professores, campos de estágios e instalações adequadas, resultando na formação de médicos que não sabem sequer realizar um exame clínico, colocando em risco as pessoas que serão atendidas por profissionais sem a qualificação esperada.

No dia 18 de outubro, Dia do Médico, devemos também lembrar dos pacientes, pois médicos e pacientes enfrentam juntos a falta de uma política pública de saúde, a falta de recursos para a saúde, falta de leitos hospitalares, resultando numa famigerada fila de regulação, também chamada de fila da morte, pois várias vidas se vão aguardando uma vaga em um hospital. Mas resistimos, os médicos e os pacientes.

Enfim, tenho esperança de que tenhamos médicos capacitados que “gostem de gente”, pacientes e familiares parceiros, para que juntos possamos lutar para garantir o previsto na Constituição Federal do Brasil, que no seu artigo 196 diz que saúde é direito de todos e que você leitor tenha um médico para chamar de seu.

 

Luiz Duplat

Médico Saúde da Família

Subsecretário de Saúde de Camaçari





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