Este texto pode soar como desabafo de um mero pneumologista. Mas não é. A realidade insiste em perturbar a mente de inúmeros profissionais da saúde que combatem esta grave enfermidade - a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
Estima-se, de acordo com o Documento Global GOLD 2017 (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease),que cerca de 50 % dos pacientes que fumam irão desenvolver a doença, em grau variado de morbidade. A DPOC pode se tornar a terceira causa de morte no mundo em 2020.
Com a melhora dos programas de cessação do tabagismo e aumento da medicina preventiva, houve queda no número de casos de doenças cardiovasculares tabaco-relacionadas enquanto que o número de casos novos de DPOC aumentou. Isso se deve ao efeito tardio do cigarro no surgimento da doença, ao envelhecimento da população e também ao aumento dos novos fatores de risco como a poluição atmosférica.
O custo gerado devido à DPOC gira em torno dos bilhões de dólares nos EUA e dos bilhões de euros na União Européia sendo que as exacerbações são as principais responsáveis pelo alto custo. Outro dado que não é muito divulgado seria o custo indireto que o paciente com DPOC gera na população economicamente ativa de um país. Além da incapacidade laborativa do paciente em si, a assistência depende sempre de seus familiares que deixam de trabalhar e produzir. Junta-se a esse cenário a incapacidade dos serviços locais de saúde promoverem suporte necessário ao indivíduo com DPOC.
E o que a Gestão Pública da Saúde tem feito para melhorar esse quadro alarmante?
Pouco. E o pouco que é feito, mostra-se ineficaz. Não existe programas de Educação Continuada sobre DPOC para os profissionais de saúde.O acesso à espirometria, exame essencial para o diagnóstico, é pífio. A atenção primária de saúde, que deveria combater o tabagismo, não tem forças contra a epidemia que assola a população em todas as faixas etárias.E por fim,o escasso (ou a inexistência de) acesso às medicações que podem diminuir as exacerbações da doença a longo prazo.
Vamos pegar o exemplo do Município de Curitiba, no Paraná. Nos últimos 07 anos, houve uma diminuição significativa das Unidades Básicas de Saúde que ofertavam programas de cessação do tabagismo, que é o pilar para evitar o surgimento de novos casos de DPOC. O acesso à espirometria ainda é falho, mesmo que a maior parte das unidades tenham o espirômetro. Medicação inalatória para a doença em pacientes com sintomas moderados inexiste. E as medicações que existem, não chegam ao paciente pelo excesso de burocracia da gestão de Saúde Estadual . Não há até o momento estudos locais de custo-benefício em linhas de tratamento. Há evidência científica de sobra provando que é mais barato investir na prevenção e tratar com qualidade e efetividade o doente grave do que pagar pelas exacerbações e pelas longos internamentos hospitalares. Fecha-se o perigoso círculo vicioso que "engole" milhares de vidas todos os dias.
Enfim, são inúmeros obstáculos para combater esta doença nefasta que mata o paciente aos poucos, tirando dias de vida preciosos. Que a incompetência oceânica dos "gestores" da saúde pública não tire o último suspiro de quem trabalha para ganhar "fôlego" no combate À DPOC.
Para ler e divulgar:
From the Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of COPD, Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) 2017. Available from: http://goldcopd.org.
Um forte abraço,
Dr. Lucas Moreira CRM-PR 24817
Pneumologia