À medida que a população envelhece, é inevitável o aumento no número de pacientes idosos diagnosticados com câncer. No entanto, um desafio emergente é que muitas práticas oncológicas ainda se baseiam em ensaios clínicos que, historicamente, subrepresentam essa demografia. Um estudo publicado em JAMA Network Open, em 23 de outubro de 2023, investigou em profundidade os efeitos da quimioterapia em pacientes idosos, com foco particular nos que se encontram em estado de fragilidade.
Fonte: JAMA. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.39116
📍 Detalhamento das Descobertas:
- O estudo teve como objetivo principal analisar a relação entre os efeitos tóxicos da quimioterapia de grau 3 ou superior e as mudanças na qualidade de vida (QOL) e na funcionalidade dos pacientes idosos em dois períodos distintos: após 6 e 12 meses.
- Os dados revelaram que, independentemente da presença de fragilidade ou da intenção do tratamento, a maioria dos pacientes sofreu um declínio significativo na QOL e/ou na capacidade funcional, ou infelizmente veio a óbito nos períodos observados.
- Uma descoberta preocupante foi que, dos pacientes em estado de fragilidade, 65% sofreram efeitos tóxicos de grau 3 ou mais. A presença desses efeitos tóxicos estava diretamente ligada ao declínio na QOL e funcionalidade ou à mortalidade.
- Por outro lado, os pacientes que não estavam em estado de fragilidade não exibiram os mesmos resultados negativos associados aos efeitos tóxicos.
A seguir, apresentamos a tabela extraída do estudo original, que ilustra a incidência de diferentes desfechos de tratamento em todos os pacientes, segmentados por estado de fragilidade:
Fonte: JAMA. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.39116
Ao comparar os dados com pesquisas anteriores, os pesquisadores notaram que a porcentagem de pacientes com declínio na QOL e funcionalidade era superior. Além disso, observou-se que muitos dos pacientes do estudo foram diagnosticados com cânceres do trato gastrointestinal superior, notórios pelo seu prognóstico complicado.
Já na figura abaixo, é possível observar os desfechos compostos dos pacientes após 6 e 12 meses, de acordo com o estado de efeitos tóxicos relacionados à quimioterapia de grau 3 ou superior:
Fonte: JAMA. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.39116
📍 Relevância para a Prática Clínica:
Estas descobertas trazem à tona questões cruciais sobre o tratamento oncológico de pacientes idosos. A presença destacada de efeitos tóxicos e hospitalizações não planejadas, aliada ao declínio funcional em pacientes frágeis, aponta para a necessidade urgente de reavaliar as abordagens terapêuticas.
Neste contexto, o estudo sugere a incorporação rotineira de uma Avaliação Geriátrica (CGA) antes de qualquer tratamento. Este instrumento, multidimensional por natureza, visa identificar e atender a diversas necessidades do paciente idoso, desde médicas a sociais. A aplicação da CGA tem se mostrado uma ferramenta valiosa, especialmente considerando sua relação com o declínio funcional e a mortalidade.
📍 Conclusões e Direções Futuras:
Os insights proporcionados por este estudo sublinham a necessidade de abordagens individualizadas para pacientes idosos no cenário oncológico, sobretudo quando a fragilidade está em cena. A detecção precoce de pacientes em risco e a consequente adaptação do tratamento não apenas podem mitigar efeitos tóxicos adversos, mas, sobretudo, garantir uma terapia mais humanizada e centrada no paciente, buscando preservar sua QOL e funcionalidade.
Para acesso ao estudo na íntegra, disponibilizamos aqui o link de acesso.
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Referência:
Baltussen JC, de Glas NA, van Holstein Y, et al. Chemotherapy-Related Toxic Effects and Quality of Life and Physical Functioning in Older Patients. JAMA Netw Open. 2023;6(10):e2339116. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.39116
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