Um estudo publicado na revista Nature em 14 de fevereiro de 2024 trouxe uma descoberta relevante, relacionada aos efeitos nocivos do tabagismo no sistema imunológico persistirem por anos após o último cigarro. A pesquisa, conduzida por Violaine Saint-André e sua equipe do Instituto Pasteur em Paris, analisou as respostas imunológicas de 1.000 pessoas saudáveis da região da Bretanha, na França.
Os resultados revelaram que o tabagismo, o índice de massa corporal elevado e infecções prévias pelo vírus citomegalovírus têm impactos significativos nas respostas do sistema imunológico. Surpreendentemente, o efeito do tabagismo sobre essas respostas foi tão pronunciado quanto os efeitos da idade, sexo e genética. Mesmo após anos de abstinência do cigarro, os efeitos persistiam, destacando a importância de considerar não apenas os efeitos imediatos, mas também as consequências duradouras das escolhas de estilo de vida no funcionamento do sistema imunológico.
O estudo, que faz parte de um esforço para compreender por que as respostas imunológicas variam tanto de pessoa para pessoa, associou os efeitos do tabagismo, índice de massa corporal e infecções virais prévias a padrões de modificações químicas no DNA das células, conhecidas como grupos metil. Essas modificações podem alterar a atividade dos genes, influenciando diretamente as respostas imunológicas do organismo.
Para Vinod Kumar, geneticista da Radboud University Medical Center, na Holanda, o estudo é de extrema importância não apenas pelos resultados específicos sobre o tabagismo, mas também pelo esforço geral em rastrear as fontes de variabilidade nas respostas imunológicas. Ele destaca a necessidade de considerar detalhes minuciosos ao desenvolver terapias direcionadas ou medicina personalizada.
Apesar dos resultados promissores, Saint-André ressalta a importância de repetir o estudo para garantir sua generalização e incluir uma amostra mais diversificada em termos étnicos e raciais. O estudo está sendo expandido para incluir participantes do Senegal e de Hong Kong, além de acompanhar os participantes originais ao longo do tempo, com coleta de novas amostras de sangue após uma década.
No contexto de COVID-19, a compreensão de como o tabagismo influencia a função das células imunológicas e, consequentemente, as respostas do corpo a infecções e vacinações, torna-se essencial. Este estudo oferece insights sobre as consequências à saúde associadas ao tabagismo, destacando a importância de estratégias de prevenção e cessação do hábito de fumar para proteger a saúde do sistema imunológico e reduzir o risco de doenças graves.
Referência:
Ledford, H. (14 de fevereiro de 2024). Smoking scars the immune system for years after quitting. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00412-1