A busca por novas terapias para doenças autoimunes, como a esclerose múltipla (EM), tem avançado significativamente com o início dos primeiros ensaios clínicos nos Estados Unidos utilizando células imunes, conhecidas como células CAR-T. Essa abordagem terapêutica, já utilizada em cânceres hematológicos agora se expande no território das doenças autoimunes, trazendo esperanças de novas opções terapêuticas para a esclerose múltipla, uma doença neurodegenerativa devastadora.
Kyverna Therapeutics, uma empresa de biotecnologia com sede em Emeryville, Califórnia, está liderando esses esforços, explorando o potencial das células CAR-T para tratar a EM. Essas "drogas vivas" são produzidas a partir das células T do próprio paciente, que são coletadas e modificadas em laboratório para produzir receptores de antígenos quiméricos (CARs), permitindo que elas identifiquem e destruam células-alvo específicas.
A EM é impulsionada por células T e B mal orientadas que atacam as células nervosas. Tradicionalmente, neurologistas tratam a EM com anticorpos que visam a proteína CD20, marcadora das células B, para manter o sistema imunológico sob controle. No entanto, essas terapias, quando eficazes, apenas desaceleram a doença, não conseguindo detê-la completamente. A terapia com células CAR-T, direcionadas contra as células B que carregam a proteína CD19, oferece uma abordagem mais eficaz, capaz de penetrar tecidos, incluindo o cérebro, que os anticorpos não conseguem alcançar, promovendo uma depleção mais completa dessas células B.
A Kyverna Therapeutics, em colaboração com pesquisadores na Alemanha e na Stanford University, na Califórnia, está conduzindo ensaios clínicos para testar a segurança e a eficácia das células CAR-T em pacientes com EM. Paralelamente, a Bristol Myers Squibb também iniciou um ensaio clínico fase I nos Estados Unidos, sinalizando um crescente interesse na aplicação dessa terapia para doenças autoimunes.
Apesar do otimismo, a segurança é uma preocupação primordial, especialmente o risco de toxicidade cerebral, um efeito colateral observado no tratamento de cânceres com células CAR-T. Os pesquisadores estão monitorando de perto esses riscos, esperando que a menor abundância de células B na EM em comparação com os cânceres de células B possa resultar em menor toxicidade.
Os desenvolvedores de medicamentos estão entusiasmados com o potencial da terapia CAR-T para revolucionar o tratamento de doenças autoimunes, possivelmente oferecendo uma opção de tratamento única e definitiva. No entanto, desafios práticos e financeiros, como a necessidade de quimioterapia de "pré-condicionamento" e os altos custos de produção, ainda precisam ser superados.
Os esforços contínuos para desenvolver gerações futuras de células CAR-T, mais fáceis e baratas de usar, prometem avanços significativos. À medida que os ensaios clínicos prosseguem, a comunidade científica e os pacientes aguardam ansiosamente os resultados, esperando que essa nova abordagem possa oferecer um avanço significativo no tratamento da esclerose múltipla e de outras doenças autoimunes.
Referência:
Mullard, A. (2024, February 22). CAR-T therapy for multiple sclerosis enters US trials for first time. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00470-5