A nefrologia é a especialidade clínica responsável por estudar, diagnosticar e tratar as doenças relacionadas aos rins e trato urinário. Algumas pessoas confundem a nefro com a urologia. A urologia também é responsável por diagnosticar e tratar as patologias relacionadas aos rins e trato urinário, mas uma das diferenças entre as duas especialidades, é que a nefro é responsável pelo tratamento clínico, enquanto que a uro pelo tratamento cirúrgico.
Sendo assim, o pré-requisito para ingresso no programa de residência médica em nefrologia, são os dois anos de clínica médica, enquanto que para urologia são os dois anos em cirurgia geral, (iremos comentar sobre a urologia em um próximo texto).
De acordo com o censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) faltam profissionais nas redes primária e secundária do SUS. O número total de nefrologistas hoje no Brasil é de mais de 4700, sendo que destes 3975 estão cadastrados na Sociedade Brasileira de Nefrologia (Censo médico 2018). Além disso, assim como em outras especialidades, há uma distribuição desproporcional, com a maioria dos profissionais concentrados nas regiões Sul e Sudeste.
O Brasil tem o maior programa público de transplante de rim no mundo. Embora a fila para conseguir um transplante ainda seja grande (de acordo com dados da ABTO de 2014: 17.969 pessoas aguardam por um transplante de rim), e em 2016 24.914 pessoas aguardavam um rim, muita coisa melhorou nos últimos anos. Em 2010 foram realizados 4.657 transplantes de rim no Brasil.
A Residência Médica em Nefrologia:
Para ingressa em nefrologia, como já comentado acima, são necessários os 2 anos de residência em clínica médica e a duração da residência em nefro é de mais 2 anos.
Mas, para se obter o registro de especialista perante o CFM, além da residência, é necessário também especialização (ou estágio) em nefrologia, credenciada pela SBN e ainda comprovar trabalho na especialidade pelos últimos 8 anos.
A partir daí, o médico poderá realizar a prova para homologação do título de especialista pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.
De acordo com a AMB e a SBN o conteúdo programático e as cargas horárias recomendadas para a residência em nefrologia são:
Estágios obrigatórios:
-Unidade de Internação: 25% da carga horária.
-Ambulatório de Nefrologia Geral e Especialidades : 20% da carga horária.
-Serviço de Terapia Renal Substitutiva (hemodiálise e diálise peritoneal): 15% da carga horária.
-Interconsulta Nefrológica: 20% da carga horária.
-Atividades Didáticas : 10% da carga horária.
-Estágios Opcionais: 10% da carga horária.
Estágios opcionais:
-Imagem em Nefrologia
-Laboratório Clínico
-Nefrologia Intervencionista
-Nefrologia Pediátrica
-Serviço de Nutrição e Dietética
-Laboratório de Patologia Renal
-Unidade de Terapia Intensiva
-Urologia
-Transplante Renal
-Outros serviços à critério da instituição
Para conhecer o conteúdo previsto detalhado para cada ano de residência, confira aqui.
Áreas de atuação:
As áreas de atuação do nefrologista são: injúria renal aguda, doença renal crônica, hipertensão arterial, nefropatia diabética, glomerulonefrites, cálculo renal, infecção urinária, terapia renal substitutiva (compreendem: hemodiálise, diálise peritoneal, transplante renal) e nefrologia intervencionista: área de atuação cada vez mais crescente, o nefrologista é responsável por realizar procedimentos invasivos, como: implantação de cateter vascular temporário e permanente, para realização de hemodiálise e diálise peritoneal; realização de biópsias renais.
A rotina do nefrologista divide-se em: consultório, hospital (enfermaria, UTI e unidades de transplante) e clínicas de terapia renal substitutiva (diálise peritoneal e hemodiálise).
No consultório, o que o nefrologista mais encontra na prática são os pacientes com cálculos renais, infecções urinárias, doença renal crônica e hipertensão. Geralmente são pacientes encaminhados de outros centros de atenção primária ou de outras especialidades, no qual o nefrologista dá um suporte ao tratamento principal.
Em hospital, o nefrologista costuma ser muito requisitado para interconsultas. Em UTIs por exemplo, é sempre solicitado para avaliação de pacientes em estado crítico, para a prescrição de tratamentos como hemodiálise e diálise peritoneal e para avaliação de medicações nefrotóxicas, avaliação da função renal, balanço hidroeletrolítico, etc.
As clínicas de terapia renal substitutiva costumam atuar em regime de plantão. O dia é dividido em 3 turnos, e os pacientes ficam em tratamento de hemodiálise por 4 horas. Em geral, o plantão completo de diálise dura 14 horas.
Existe um novo campo de atuação, semelhante ao homecare, que é a hemodiálise domiciliar. O paciente realiza a hemodiálise em casa, sob a supervisão de uma equipe multidisciplinar: médico, enfermeiro e auxiliares. Geralmente, a equipe de enfermagem permanece no local e o médico é chamado de sobreaviso se houver alguma intercorrência.
No transplante renal, o nefrologista atua na preparação do paciente para cirurgia, fazendo-se a avaliação clínica e imunológica de compatibilidade do doador (se for doador vivo) e do receptor.
Como vimos, a nefrologia permite uma ampla variedade de atuação. Então a rotina do especialista será de acordo com as áreas que ele escolher atuar. Se for atuar mais em consultório, a rotina é mais monótona, o médico verá mais doentes renais crônicos, encaminhados de outras especialidades. Mas, geralmente, os nefrologistas costumam atuar tanto em consultório, quanto hospitais/UTIs e clínicas de diálise.
Geralmente os "recém-especialistas" iniciam a prática nas clínicas de hemodiálise, com uma remuneração de R$ 350,00 por 4 horas. Na UTI, ele ganha por sessão de diálise e por visita.
Por fim, para o médico nefrologista Dr. Marcelo Barreto Lopes, no livro Como Escolher a Sua Residência Médica:
"A vida de um nefrologista é muito atribulada, mas paradoxalmente pode também ser monótona, caso permaneça muito tempo em tratamento de pacientes crônicos. Porém, pode ser desafiante e multi-facetada, pois há amplo espaço para trabalho em outros ambientes, inclusive em terapia intensiva. (...)
É fascinante lidar com doenças de outros órgãos que afetam o rim, e ter que enveredar em outra especialidade, ganhando assim, a confiança dos colegas, porém os procedimentos da nefrologia são exclusivos da especialidade.
A felicidade, por exemplo, de tirar um paciente da máquina de hemodiálise para realizar um transplante renal e possibilitar que este possa levar normalmente a sua vida é uma das grandes recompensas de tanto estudo."
Fontes: Livro: Como escolher a sua residência médica