Pesquisadores têm desvendado mais sobre como o estresse pode impactar diretamente nosso sistema imunológico por meio de uma complexa comunicação entre o cérebro e o intestino. Um estudo publicado em 8 de agosto de 2024 na revista Cell, conduzido por Ivan de Araujo do Instituto Max Planck de Cibernética Biológica, explora essa relação detalhadamente, oferecendo novas abordagens para tratamentos de distúrbios relacionados ao estresse.
Glândulas de Brunner
O foco do estudo são as glândulas de Brunner, pequenos órgãos localizados nas paredes do intestino delgado, cuja função era até então pouco conhecida além da produção de muco. A pesquisa revela que essas glândulas desempenham um papel crucial na manutenção de bactérias benéficas do gênero Lactobacillus e na proteção contra inflamações.
Estresse e Suscetibilidade a Infecções
Os experimentos mostraram que a remoção das glândulas de Brunner em camundongos aumentava sua suscetibilidade a infecções e elevava os marcadores de inflamação. Interessantemente, indivíduos que haviam passado por cirurgias para remoção de tumores na mesma região das glândulas também apresentavam níveis elevados de células brancas do sangue, um indicador de inflamação.
Comunicação Cérebro-Gut
O estudo também descobriu que os neurônios presentes nas glândulas de Brunner estão conectados ao nervo vago, estabelecendo um canal direto com a amígdala cerebral, crucial para o processamento de emoções e respostas ao estresse. Essa conexão sugere que o cérebro pode influenciar diretamente a saúde intestinal e, consequentemente, o sistema imunológico.
Consequências do Estresse Crônico
Sob condições de estresse crônico, observou-se que camundongos com glândulas de Brunner intactas exibiam uma queda nos níveis de Lactobacillus e um aumento na inflamação, similar ao que acontecia com a remoção das glândulas. Isso indica que o estresse pode "desligar" essas glândulas, comprometendo a barreira intestinal e permitindo que substâncias nocivas invadam a corrente sanguínea.
A pesquisa sugere novas oportunidades para o tratamento de doenças relacionadas ao estresse, como a doença intestinal inflamatória. Compreender esses caminhos específicos pode ajudar a desenvolver estratégias mais eficazes para combater os efeitos adversos do estresse sobre nosso corpo.
Este estudo esclarece importantes mecanismos biológicos que ligam o estresse à saúde intestinal e imunológica, mas também destaca a necessidade de abordagens terapêuticas que considerem o bem-estar psicológico como parte do tratamento de distúrbios físicos. As implicações para o desenvolvimento infantil e a função imune também são áreas promissoras para futuras investigações, ampliando o escopo de como podemos entender e intervir nos impactos do estresse desde cedo na vida.
👉🏻 Para aprofundar o seu conhecimento neste estudo, disponibilizamos aqui, o link de acesso ao estudo na íntegra.
Referência:
Reardon, S. (2024, August 8). How the stressed-out brain can weaken the immune system. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-02557-5