Um estudo publicado em Computers in Human Behaviors, investiga os efeitos da restrição do uso de smartphones na atividade neural relacionada a estímulos visuais (cues) associados ao uso desses dispositivos. O contexto desse estudo é bastante relevante considerando a ubiquidade dos smartphones em nossas vidas diárias e seu uso excessivo, que pode apresentar semelhanças comportamentais com transtornos aditivos.
A pesquisa propõe uma abordagem dimensional para entender o uso excessivo de smartphones, posicionando-o em um contínuo que varia na intensidade e frequência de uso, onde os extremos podem satisfazer os critérios para transtorno de jogos segundo a CID-11. Esta perspectiva é importante pois evita categorizar de forma binária os usuários como viciados ou não viciados, permitindo uma compreensão mais matizada dos comportamentos relacionados ao uso de smartphones.
O estudo utiliza neuroimagem multimodal e avaliações ambulatoriais digitais para investigar as mudanças na atividade neural associadas à restrição do uso de smartphones por 72 horas. A hipótese era de que essa restrição aumentaria a atividade neural em áreas-chave relacionadas à atenção e ao processamento de recompensas, como o córtex cingulado anterior (ACC).
Os resultados revelaram mudanças na atividade cerebral em regiões relacionadas ao craving (desejo intenso) e processamento de recompensas após o período de restrição. Interessantemente, não foi observado um aumento significativo no comportamento de craving, ou seja, o desejo intenso e muitas vezes irresistível por uma substância ou experiência específica, o que sugere que os mecanismos neurais podem responder diferentemente em comparação às manifestações comportamentais do desejo por uso de smartphone.
Os achados são significativos porque mostram que mesmo uma curta duração de abstinência do uso de smartphones pode modificar a atividade cerebral de maneiras que são comuns a outras formas de adição, como jogos de internet e abuso de substâncias. Isto é corroborado por alterações na conectividade funcional e estrutural em circuitos cerebrais envolvidos na recompensa e no controle executivo, que são semelhantes aos observados em outros transtornos aditivos.
Este estudo acrescenta ao crescente corpo de literatura que sugere que intervenções focadas na restrição consciente do uso de smartphones podem ser benéficas e que o uso excessivo de smartphones deve ser considerado seriamente como um comportamento potencialmente aditivo. Os autores sugerem que pesquisas futuras devem explorar mais profundamente esses efeitos, talvez estendendo o período de restrição ou utilizando grupos de controle adicionais para melhor entender as dinâmicas subjacentes ao uso excessivo de smartphones.
Referência:
Mike M. Schmitgen, Gudrun M. Henemann, Julian Koenig, Marie-Luise Otte, Jakob P. Rosero, Patrick Bach, Sophie H. Haage, Nadine D. Wolf, Robert C. Wolf, Effects of smartphone restriction on cue-related neural activity, Computers in Human Behavior, Volume 167, 2025, 108610,ISSN 0747-5632, https://doi.org/10.1016/j.chb.2025.108610.