A área médica pode se gabar por tanto contribuir com a linguística. Significamos muitos de nossos termos Por meio da semântica. Observem:
Extra-celular (fora da célula); exérese (retirar a parte de um órgão), "ex"... "Ex" parece ser o prefixo de algo que é tirado para fora, ou algo que é retirado de alguém, algo que não mais existe como era antes.
Isso posto, levanto o questionamento, colegas: será que, para algo retirado de nós mesmos, poderíamos denominar "ex-sistência?"
No dicionário, ''sistência'' é uma palavra que pode ser usada para adjetivar um sujeito como forte e resistente. ''Ex-sistência'' então poderia ser a perda de nossa resistência, ou de nossa força, seja ela física ou mental - o que faz cada vez mais sentido na profissão que escolhemos.
No âmbito médico, temos colecionado "ex-sistência", perda da força coletiva, perda da força vital, temos caminhado para existência fora de nós mesmos.
Cada paciente contribui com uma parcela de sofrimento que não podemos eliminar com o diagnóstico assertivo ou com o bom prognóstico. Nossas mazelas são sociais, nossas dores vêm da dona ''Maria'' que adoeceu por comprometimento do sistema, ou do seu ''João'', falecido por cortes de verba para saúde. A quem recorrer nesse terreno prestes a desabar?
''Ex-sistência'' me faz lembrar do colega médico acusado de abusar de pacientes ou do colega médico que negligencia atendimento. O que dizer sobre a deturpação profissional?
''Ex-sistência'' quando vejo a ética médica sendo tratada como dispensável ou até desempregada. Se o sofrimento requer e propaga uma política, há de se admitir que devemos rever nossos conceitos.
''Ex-sistencia'', ''ex-sistema''...
''ex-austão''. Parece que cheguei em minha palavra chave.
Exaustão médica, síndromes de burnout, transtornos de humor, transtornos depressivos. Eis o mundo médico moderno. Seja você um grande e experiente neurocirurgião ou calouro prestes a fazer os primeiros exames, a síndrome da prática médica moderna vai te rondar e exigir de você, entre tantas coisas, resiliência.
Porém, em busca da resiliência nos deparamos com uma cura mascarada. Aceitação diagnóstica não é recuperação. Se vivemos o fenômenos da ''ex-sistência'' devemos não só voltar a resistir, como também ressignificar nossos propósitos.
Transformar o mundo parece distante. Mas transformar a si próprio, apesar de árduo, é possível. Vamos abrir os olhos e tirar as vendas. Aceitar os contratempos pode ser por onde vamos readquirir nossa resiliência. Porém, para tanto, devemos parar de normalizar os absurdos diários e voltar a ter nossa força.
''Ex-perimente'', tire para fora de si o que permeia a sua mente. Lute pela sua profissão, pelo seu paciente, pela saúde do país.
RESISTA!