Madeleine Brès foi a primeira mulher francesa a obter um diploma de medicina em 1875 Pouco se fala sobre ela nos livros e bibliografias. Mas o caminho que ela percorreu para viver sua paixão diz muito sobre ela: uma mulher que lutou e trilhou incansavelmente seu caminho para defender seus direitos e valores.
Madeleine Brès nasceu na família Gebelin em 1842, em Bouillargues, na região de Nîmes . Sua origem social foi seu primeiro obstáculo. Seu pai era um artesão. Ele consertava na época charretes. Como o pai estava doente ela acompanhava o pais nas suas visitas e consultas hospitalares.
Ela disse mais tarde que foi ali que nasceu sua vocação, quando uma freira lhe mostrou como fazer cataplasmas e chás de ervas no hospital onde seu pai fazia tratamento de saude. Mais tarde, a família se mudou para Paris, onde Madeleine foi casada com um motorista de ônibus, Sr. Brès, aos 15 anos de idade.
Em 1866, quando tinha 24 anos e já tinha vários filhos, ela ousou comparecer perante o Reitor da Faculdade de Medicina de Paris, Charles-Adolphe Wurtz, para pedir permissão para se matricular na faculdade de medicina.
Só se pode imaginar a coragem exigida a uma jovem de origem extremamente modesta, vinda da província, quando esta formação era reservada aos homens.
O reitor não se opôs - o primeiro obstáculo foi eliminado! Mas ele a mandou para casa e lhe pediu para tirar o bacharelado primeiro, e que para as mulheres na época algo muito recente/novo com menos de 6 anos de implementação.
Isto não desencorajou a jovem Madeleine, que voltou com o diploma três anos mais tarde. Seguiu com um processo administrativo que refletia o estado de espírito da época. Dean Wurtz foi obrigado a encaminhar o pedido ao Ministro da Instrução Pública, Victor Duruy o transmitiu ao Conselho de Ministros. Este último deliberou, mas a história diz que foi a Imperatriz Eugenie que anulou a decisão, referindo-se à lei sobre a liberdade de trabalho. Madeleine pôde ir à faculdade de medicina, mas ela também teve que obter o consentimento de seu marido não a parte mais complicada para ela, pois este homem de mente aberta já lhe havia dado para passar seu bacharelado.
Ela pôde finalmente começar sua formação como estagiária no departamento do Professor Paul Broca no Hospital Salpêtrière, no 13º arrondissement de Paris.
Dois anos depois, o hospital tinha falta de médicos porque eles tinham partido para linha de frente na guerra franco-alemã. O professor Broca a nomeou como “ estagiária-interna provisória “que chamamos hoje de FFI (faisant fonction d’interne). O professor Broca, que a descreveu como uma mulher brilhante e corajosa, tomou medidas para garantir que ela pudesse fazer os exames do estágio e trabalhar no hospital, entrou no meu departamento como estagiária em 1869. Em setembro de 1870, a ausência de vários estagiários chamados aos hospitais militares exigiu a nomeação de "estagiários-internos provisórios". Madame Brès, sob minha proposta, foi indicada como “interna” provisória (FFI) , durante os dois ciclos do internato de Paris até julho de 1871 e ela realizou no serviço a função com muita precisão que só foi foi interrompida pelo bombardeio do hospital.
Madame Brès sempre se destacou por seu zelo, sua devoção e seu excelente comportamento. Ela foi particularmente útil e chamada para participar da “ultima revolta contra o poder ” que era chamada na época de *“dernière insurrection” e a administração do hospital lhe recusou este direito, pois o acesso a estas competições ainda era proibido às mulheres. Madeleine Brès passou então sua tese para se tornar médica em junho de 1875, e se especializou em pediatria.
O estágio externo *l’externat (no Brasil seria o internato) l’internat, aberto às mulheres em 1881 e o estágio interno (que chamamos hoje de residência médica) em 1885.
A tese de Madeleine Brès foi em química biológica sobre as mudanças na composição do leite materno durante a amamentação. Ela recebeu a distinção ( mention) de "extremamente boa".
Apesar de ter ficado viúva desde cedo e criado seus três filhos sozinha, ela continuou sua carreira, viajou para a Suíça para entender como funcionavam as creches, editou a revista Hygiène de la femme et de l'enfant ( higiene da Mulher e da criança) e escreveu vários outros livros.
Desenvolver a higiene na época era a melhor maneira de lutar contra a mortalidade infantil. Madeleine Brès foi designada pelo Prefeito do Sena para dar palestras sobre higiene em creches. Mas Madeleine Brès, talvez por causa de suas origens, também tinha uma preocupação social. Em 1893, ela criou uma creche em Batignolles , que foi inaugurada pelo Dr. Roussel, senador e presidente da Sociedade de “proteção as crianças” . Foi um dos primeiros lugares em que as crianças eram cuidadas gratuitamente Foi um dos primeiros lugares onde as crianças eram atendidas e cuidadas gratuitamente.
Há anos ela apoiava esta instituição, ela investia seu próprio dinheiro nesta instituição projeto. E ela não escolheu trabalhar nos bairros ricos de Paris pois sua vocação era ajudar. A história conta que ela morreu em 1925, aos 83 anos de idade, na pobreza.
Na Ordem Nacional dos Médicos a porcentagem de mulheres é 49,8%. Estima-se que estes números serão ainda maior até 2022.
Isto é uma evolução e tanto quando se considera que em 1913, a proporção de mulheres médicas era de apenas 6%. Atualmente 60% dos estudantes de Medicina na França são mulheres.
- insurrection: ação de se levantar (revolta ,revolução) contra o poder estabelecido. Em francês: Action de s'insurger ,de se soulever contre le pouvoir établi pour le renverser.
Bibliografias:
Les femmes médecins aujourd'hui : l'avenir de la médecine ? De Véronique Leblond, Agnès Hartemann, Brigitte Autran
Mme Brès (née Madeleine Gebelin)?», in?: C.-E. Curinier (dir.), Dictionnaire national des contemporains contenant les notices des membres de l’Institut de France, du gouvernement et du parlement français, de l’Académie de médecine, t. 4, Office général d’édition de librairie et d’imprimerie, 1899-1919, p. 146-147.
site: remplafrance.com
J.-L. Debré, Les oubliés de la République, Fayard, 2008.P. Broca cité par C. Schultze in?: La femme médecin au XIXe siècle, Ollier-Henry, 1888, p. 19.N. Pigeard-Micault, Histoire de l’entrée des femmes en médecine, Bibliothèque numérique Médica