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Medicina com medo

Medicina com medo
Fernando Carbonieri
mar. 31 - 6 min de leitura
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São inúmeros os motivos. Mas de fato estamos com medo. Insultos gratuitos, desrespeito dos gestores, violência urbana, educação da sociedade precária e a eleição dos médicos e profissionais de saúde como vilões proporciona uma medicina com medo.

Infelizmente não é uma exclusividade do médico. O sentimento de medo está presente em todos os extratos da população. Apesar deste lugar comum, precisamos falar sobre medo de trabalhar como médico. Não deveria ser assim, mas infelizmente vivemos neste caos.

Já experimentei e ouvi casos de pacientes e familiares que ao entrar no serviço de saúde, colocam portas abaixo, ameaçam médicos e outros profissionais para serem atendidos no momento que desejam.

Obviamente, alguns destes casos são motivados pelo desespero que gera uma emergência médica. Apesar dos gritos, e insultos, na grande maioria as emergências são sanadas e resolvidas. Mas as palavras foram lançadas, as atitudes tomadas e os insultos proferidos. A situação piora quando todos estes efeitos são gerados por simples falta de educação, pela necessidade individual de ser atendido primeiro, pelo fato de ser uma "autoridade" por ser amigo do gestor ou do secretário de saúde ou do prefeito.

Não há o entendimento de que muitas vezes a demora do atendimento é gerada pelo risco de morte que um paciente em atendimento apresenta, pelas procuras infundadas de serviços de urgência e emergência que incham as filas pois o atendimento primário não cumpre sua função e finalmente pelas atestadites oriundas do jeitinho brasileiro que tem paixão por burlar seus empregadores.

Não ha dúvidas de que lidamos com todos os tipos de pessoas, principalmente no sistema público (no privado também), e algumas simplesmente nos desmotivam a continuar nestes trabalhos. Mas não são elas as únicas culpadas. Também temos culpa.

Acredito que a situação chegou ao ponto crítico devido a falta de sabedoria que médicos tem no lidar com empregadores e contratantes. Sem falar na falta de vigilância de muitos dos colegas.

Trabalhamos para receber um dinheiro que nos permita viver uma vida digna, como todas as pessoas. O problema que não trabalhamos dignamente.

Falo isto pois nos prostituímos por contratos falhos, sem vínculo, pelo recebimento por pessoa jurídica ou por PRA. Fora o contrato, trabalhamos em lugares inadequados, sem segurança, sem estrutura de atendimento que permita o exercício de uma boa medicina e atenção em saúde.

Atenho-me na falta de segurança neste momento e na péssima visão que alguns populares emitem sobre a classe médica e por mais um caso de sequestro de médico (pelo menos 3 sequestros de médicos em frente ou dentro do trabalho por ano)

Em Pinhais - Pr , há apenas 15 minutos do centro de Curitiba, uma colega foi sequestrada de dentro de seu consultório em uma UPA. O motivo uma provável encomenda por seu veículo. O sequestrador entrou em seu consultório como paciente, rendeu-a com uma arma, solicitou para que ela trocasse de roupa e saiu com ela pela porta da frente. Não havia um profissional que zelasse pela segurança do local e nem dos profissionais que ali trabalham. Tanto ela quanto os demais profissionais estavam a mercê da miséria da humanidade. Como explicar uma reação popular como esta que chegou até nós?

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Sem entrar também no mérito da pressão por números de atendimentos, que facilmente ultrapassam os 80 por 12 horas, revolta-me o fato de que estes médicos e demais profissionais não conseguem cobrar de seus empregadores melhores condições. Não há uma união entre os médicos que trabalham em um estabelecimento-problema e nem entre os diversos profissionais que la trabalham. Ouço de muitos a seguinte frase: "Se eu sair de lá, ou brigar por melhores condições, vai ter outro que vai aceitar o emprego no outro dia".

Se você é um desses, emito minhas opiniões pois ninguém deve trabalhar com medo:

Reclame. Contate o CRM. Apesar de chato, é a função dele zelar pelo bom exercício da medicina. Não há bom exercício da medicina se não há segurança para o desenvolvimento de seu trabalho. Isso vale para todos os profissionais de saúde.

Una-se - fale com os colegas médicos. Converse também com seus colegas não médicos. Vocês provavelmente tem as mesmas demandas e apenas a união fortalecer o cumprimento das exigências comuns.

Pressione o gestor de seu hospital ou o prefeito da cidade para manter um segurança / policial municipal, para zelar tanto pelo patrimônio, quanto pela segurança das pessoas que ali trabalham.

Exija de seu sindicato - Caso o problema seja de ordem trabalhista, oriente-se com o sindicato. Procure-os para ajudar a decidir sobre o contrato trabalhista, sobre o abuso de poder dos gestores e pelo fazer-se cumprir do seu contrato.

Exponha a população atendida que o problema pela demora do atendimento não está em você. Todos sabemos que normalmente a demora é gerada pela ineficiência de gestão e pela pressão para que um profissional atenda mais pacientes que o adequado.

Denuncie - Sim existem péssimos profissionais médicos. Sabemos disso. Denunciá-los ao CFM é nossa função para zelar pela boa repercussão de nossa profissão! Não devemos ser coniventes com algo que irá sofrer generalização pela mídia e população. Vale que macular o trabalho de um colega deliberadamente para o paciente, não colabora em nada. Caso haja fortes indícios de mau exercício da medicina faça a denuncia ao Conselho Regional de Medicina, ou ao Conselho responsável pelo profissional negligente, imperito ou imprudente.

Sei que muitos dos colegas não irão de acordo com todo o conteúdo deste texto. Mas temos e devemos zelar pela nossa profissão. A única maneira é sabermos nos organizar e sabermos o que podemos fazer efetivamente por nosso ganha-pão que é a medicina. Deixe logo abaixo nos comentários alguma experiência vivida. Podemos assim identificar semelhanças entre os médicos e profissionais de saúde que lêem este texto.


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