A poluição plástica já não é apenas uma questão ambiental distante, restrita a oceanos e praias. Ela está presente em nosso cotidiano, silenciosamente atravessando barreiras biológicas e se instalando em nossos próprios tecidos. A evidência é cada vez mais clara: a saúde do planeta e a saúde humana são inseparáveis.
Um estudo publicado na revista Osteoporosis International e apoiado pela FAPESP revelou que os microplásticos, partículas minúsculas derivadas da degradação de objetos plásticos, além de circularem pelo sangue, cérebro, placenta e leite materno, também conseguem penetrar em ossos humanos, incluindo a medula óssea.
Diariamente, partículas plásticas se desprendem de cortinas, móveis, roupas e utensílios domésticos, permanecendo suspensas no ar, aderindo aos alimentos ou dissolvendo-se na água. Elas podem ser inaladas, ingeridas ou entrar em contato com a pele. Uma vez dentro do organismo, podem atravessar barreiras biológicas e se acumular em tecidos antes considerados "protegidos", como os ossos.
Efeitos sobre as células ósseas
Segundo o pesquisador Rodrigo Bueno de Oliveira, coordenador do Laboratório de Estudos Minerais e Ósseos em Nefrologia (LEMON) da FCM-UNICAMP, estudos in vitro mostraram que os microplásticos prejudicam a viabilidade celular, aceleram o envelhecimento das células, promovem inflamação e alteram a diferenciação de células-tronco da medula óssea. Isso favorece a formação de osteoclastos, células responsáveis pela reabsorção óssea e pode levar ao enfraquecimento da estrutura óssea.
Estudos em animais mostraram que a exposição a microplásticos pode comprometer a microarquitetura dos ossos, causar displasias, deformidades e até fraturas patológicas. Em casos extremos, os pesquisadores observaram interrupção do crescimento esquelético, o que acende um alerta para potenciais impactos no desenvolvimento infantil.
A osteoporose já é considerada uma epidemia global associada ao envelhecimento populacional. A International Osteoporosis Foundation prevê um aumento de 32% nas fraturas relacionadas à osteoporose até 2050. Se os microplásticos se confirmarem como um fator ambiental que agrava a perda de massa óssea, eles podem ser responsáveis por parte desse aumento, um fator potencialmente controlável.
A equipe de Oliveira está iniciando um projeto para avaliar, em modelos animais, se a presença de microplásticos no organismo afeta diretamente a resistência óssea, por exemplo, a força necessária para fraturar o fêmur. Os resultados podem abrir caminho para políticas de saúde pública e novas estratégias preventivas, incluindo a redução da exposição a microplásticos como medida para prevenção de osteoporose e fraturas.
Embora já existam estratégias comprovadas para manter ossos saudáveis, como dieta equilibrada, exercício físico regular e uso de medicamentos quando indicados, este estudo chama a atenção para uma nova dimensão da prevenção: o combate à poluição plástica como ferramenta para reduzir o risco de doenças osteometabólicas.
Referência:
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. "Scientists discover microplastics deep inside human bones." ScienceDaily. ScienceDaily, 19 September 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/09/250918225014.htm>.

