Um dia me falaram que quando nos tornamos médicos nunca mais deixaremos de ser! Diferente da maioria das profissões que você pode abandoná-las, mudar para outra e as pessoa compreendem sua atitude. Na medicina é diferente, pois o que está “em jogo” são vidas em todas as suas complexidades e finitudes. Quando quem amamos adoece, não há como não falar com aquele amigo médico em que confiamos, um tio, um irmão. Sempre queremos mais uma opinião; uma olhadinha no exame.
E quando você toca, escuta, medica e orienta alguém, seja isso agora ou há 3 anos, esse alguém se torna seu paciente. Ainda que "não queira", cria-se a partir daí um elo – a chamada relação médico-paciente! E se souber cuidar e cativar, ele sempre o terá como médico, passe o tempo que passar. Como está escrito no livro O Pequeno Príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Na medicina também é assim: é se entregar, se doar, cativar.
É preciso estar muito certo quando se escolhe a medicina. Lembre-se: O PACIENTE É O AMOR DE ALGUÉM!
Portanto, não dá para ser mediano; não dá para fazer mea-culpa, nem ser medíocre em nossas ações, muito menos negligenciar o cuidado. Tem que se entregar, e só se entrega aquele que ama. Apesar de todas as bonanças financeiras que a medicina pode trazer, o fardo pesa demais frente a tantas adversidades diárias, más condições e excesso de trabalho, assim como as perdas e ausências que teremos na vida dos que amamos.
Com o passar do tempo, se não houver entrega, você se tornará um técnico e não mais médico! E deixa eu lhe contar um segredo: há uma grande diferença entre eles...
Portanto, não é uma profissão, é a escolha de uma vida; uma marca que levaremos até o fim de nossos dias (se assim agirmos dentro dos preceitos éticos legais), carregando as respectivas responsabilidades em cada “carimbada” que dermos.
É a convicção que nosso tempo (horas, dias, anos) muitas vezes será subtraído de nossa existência e doado para outrem que muitas vezes nunca vimos ou conhecemos direito. Parece um preço alto, né? Mas sabe, para quem ama o que faz, isso não tem preço! É inestimável salvar alguém, aliviar suas dores, amenizar seu sofrimento! É imensurável o amor que emana deles, a fé, a gratidão, a troca, os laços criados, e isso é que transforma a PROFISSÃO EM ARTE! A MAIS BELA DAS ARTES!
Só o ferido cura, só o AMOR salva!
A imagem que ilustra esse texto é a pintura "O Doutor", de Samuel Luke Fildes, 1891. Galeria Tate (Londres).