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O efeito "Times Square" e como ele pode afetar a memória e o aprendizado

O efeito "Times Square" e como ele pode afetar a memória e o aprendizado
Roberta Fittipaldi
jun. 18 - 6 min de leitura
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Dra. Roberta Fittipaldi é médica pneumologista, pesquisadora em ventilação mecânica, que trabalha nas principais UTIs da cidade de São Paulo e é professora da curso Ventilação Mecânica Online na Academia Médica.

Seguindo nossa sequência de posts sobre aprendizado e ensino da prática médica, hoje comentaremos um pouco sobre como acontece o processo de aquisição e retenção da memória, e como podemos otimizá-lo. 

Certamente você já visitou ou viu alguma foto da famosa Times Square, um dos principais pontos turísticos de Nova York que marca o encontro da Broadway com a 7ª Avenida. A enorme quantidade de anúncios, mídias e cartazes confunde o observador e excede a capacidade de absorção de informações, tornado todas aquelas imagens e sons uma mera sobrecarga cerebral e praticamente nada é absorvido.

Por que isso acontece?

Basicamente, nosso cérebro funciona como um hardware infinito, no qual podemos decodificar e absorver qualquer tipo de informação. Porém, o processo de recebimento da informação, decodificação e armazenamento sofre inúmeras variações e é diretamente influenciado tanto por características individuais como pela forma como a informação é ofertada. Para entender melhor como isso acontece, devemos voltar aos conceitos da neurociência. 

Na neurociência, sabemos que existem três tipos de memórias que interferem e se comunicam para o processo de aprendizado e retenção da informação. A memoria sensitiva (sensory memory), a memória de trabalho (working memory) e a memória de longo prazo (long term memory).

A memória sensitiva é o primeiro passo do processo. Através de olhos e ouvidos, neurônios recebem estímulos sonoros e visuais, processam e criam um "caminho de conexões neuronais" até regiões cerebrais onde existe a memória de longo prazo, quanto mais conexões, mais aquisições (lembram o nosso primeiro post?). Porém, para essas conexões nascerem, o indivíduo precisa necessariamente prestar atenção. A partir do momento em que não há atenção, a informação pode até ser decodificada, mas não é armazenada na memória de longo prazo.

O segundo passo é que esta informação pode ser resgatada na memória de trabalho, ou memória de curto prazo, a qualquer momento em que o indivíduo precisar. A memória de trabalho nada mais é do que memórias simples, memórias rapidamente resgatadas, memórias que fazemos "no automático". Por exemplo, quando dirigimos de casa para o trabalho, podemos estar ouvindo música, conversando, e mesmo assim nos lembramos do percurso.

Caso aconteça algum imprevisto no caminho, precisamos mudar o percurso para outro desconhecido; precisamos estar atentos, sem distrações externas, para chegar ao novo destino. É assim que funciona a memória de curto prazo, ou seja, já existe um conceito prévio fixado e que é rapidamente resgatado quando precisamos. Logo, para a memória de curto prazo "funcionar", a informação obrigatoriamente foi armazenada na memória de longo prazo. Saber utilizar memórias prévias, ou informações prévias, para criarmos novas memórias de longo prazo é uma estratégia interessante que pode ser utilizada a favor do ensino e da otimização do aprendizado.

A memória de longo prazo nada mais é do que o local onde informações foram armazenadas, sua capacidade de armazenamento é infinita, e é pela memória de longo prazo que podemos dizer que o processo de aprendizado acontece. Saber algo necessariamente quer dizer que esta informação está armazenada na memória de longo prazo, e pode ser resgatada a qualquer momento. Portanto, o principal objetivo do ensino deve ser a oferta de informações da forma mais efetiva para atingir a memória de longo prazo.

Como fazer para criar e consolidar a memória de longo prazo? 

Diversos autores, como John Sweller, Richard Mayer, Paul Ayres, descrevem como melhorar o processo de decodificação e armazenamento na memória de longo prazo e como facilitar o resgate dessa memória para as necessidades do dia a dia.

A utilização de esquemas, diagramas, multimídias, e a forma como a informação é narrada afetam diretamente o processo de aprendizado e retenção da informação.

Porém, de nada adianta utilizarmos todas essas técnicas se o processo de atenção estiver comprometido – ai voltamos para o nosso exemplo da "Times Square". Num mundo onde aluno/espectador vive conectado a "distrações" como celulares, tablets, chats... a memória fica sobrecarregada, e a absorção da informação é praticamente nula. Isto porque o processo de atenção é comprometido.

Portanto, permitir que a atenção do aluno/espectador seja resgatada deve ser um processo ativo e constante. A utilização de mídias digitais, a estimulação de trabalho em equipe, as apresentações interativas e cada vez mais a possibilidade de trazer o aluno para ser parte ativa do processo de aprendizado é um desafio do educador atual. Atualizar as técnicas de didática, melhorar a narrativa e saber inspirar e motivar o aluno/espectador é hoje papel fundamental para professores de todos os níveis de ensino. 

E você? Já passou por uma experiência em que a sua memória de longo prazo precisou ser resgatada e não conseguiu?  Entendeu agora por que isso acontece?

No próximo post, vamos falar de algumas dicas para evitar que esse processo aconteça.

Até la!

 

Leia também primeiro post da série sobre Ensino Médico, publicado pela Dra. Roberta Fittipaldi.

 

 


Curso de Ventilação Mecânica Online com Dra. Roberta Fittipaldi

Roberta Fittipaldi é colaboradora da Academia Médica e professora do curso Ventilação Mecânica Online, uma um curso para se manter atualizado e ainda aprender de vez Ventilação Mecânica, com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do paciente, intensivo ou não, que necessita de suporte ventilatório. 
É também doutora em Ventilação Mecânica pela FMUSP, especialista em Educação Medica pela Harvard TH Chan e médica das UTIs respiratórias do HIAE e Incor.

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