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O ensino médico no Brasil se tornou um rolo compressor.

O ensino médico no Brasil se tornou um rolo compressor.
Vinícius de Souza
set. 18 - 2 min de leitura
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Na última semana um estudante de medicina da UFCSPA, universidade onde me formei, faleceu. Ele não é o primeiro, e, infelizmente, não será o único.
O aumento alarmante da taxa de suicídio e de depressão em médicos e estudantes de medicina é o sintoma de uma doença que insistimos em ignorar.

A faculdade de medicina talvez seja a instituição mais competente em destruir sonhos e ressignificar metas, transformando o desejo de ser médico em obrigação de sobreviver ao mercado de trabalho.

A carga emocional do curso de graduação mais difícil de todos faz com que toda energia mental seja gasta em "como vou sobreviver a mais esta semana" ao invés de "como deveria viver minha semana". Essa inversão de valores do ensino médico, ignorando os preceitos básicos da própria Medicina, fez com que uma das profissões mais centrais da saúde esquecesse do próprio cuidado.

E essa situação não é sem propósito ou sem causas definidas.
Muito pelo contrário.

Enfrentamos o vestibular mais concorrido, as maiores mensalidades, a pós-graduacao mais competitiva, a carga horária de trabalho mais densa e uma das rotinas de trabalho mais pesada.

O médico e, consequentemente, o estudante de medicina, é culpado 100% do tempo. Ou pela sociedade, ou pelo gestor, ou pela própria consciência.
O problema é que a lapidação da consciência durante toda a formação se faz com assédio, violência moral e humilhação profissional.

O médico não pode estar triste. Não pode errar. Não podeter medo. Não pode fraquejar e não pode ter dúvidas. Não pode desistir e, se muito, pode chorar.

Não é questão de vitimismo, muito pelo contrário, é de protagonismo. Protagonizar uma mudança de mentalidade na formação médica.

Não podemos mais aceitar que as coisas "sempre foram assim".

Temos que falar de saúde mental, mas temos que também falar das causas que estão acabando com a primeira.

Tanto se fala de humanização no atendimento, mas nos esquecemos de humanizar a jornada.

Antes, nos questionávamos: "Que médicos estamos formando?"

Agora, nos questionamos: "Que médicos estamos deixando de formar?", de tantos que perdemos no processo.

Simplesmente porque, na busca do médico mais humano possível, esquecemos do humano.


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