- A resistência antimicrobiana, é uma crescente ameaça global, representando um problema de saúde pública com mais de um milhão de mortes anuais.
- A bactéria Acinetobacter baumannii, é um patógeno notório, capaz de sobreviver em condições adversas e resistir à maioria dos antibióticos existentes. Um exemplo crítico das dificuldades enfrentadas no combate à resistência microbiana.
- Os significativos desafios econômicos no desenvolvimento de novos antibióticos, destaca a falta de incentivos financeiros para as empresas farmacêuticas e a necessidade de estratégias inovadoras de financiamento.
A recente descoberta de uma nova classe de antibióticos representa um marco importante na luta contra a resistência antimicrobiana, mas levanta críticas sobre a economia do desenvolvimento de medicamentos. Esses novos antibióticos, enquanto promissores, também devem ser usados com moderação devido à ameaça contínua de resistência antimicrobiana.
Um exemplo emblemático da resistência antimicrobiana é o Acinetobacter baumannii, uma bactéria que causa diversas infecções e é capaz de sobreviver em condições adversas, como em dutos de ar hospitalares, teclados de computadores e na pele humana. Sua adaptabilidade metabólica e genética a tornou resistente à maioria dos antibióticos existentes. Esta resistência contribui significativamente para as mais de um milhão de mortes anuais causadas por micróbios resistentes a antibióticos, destacando a urgência de desenvolver novas soluções.
Estudos publicados recentemente na Nature apresentaram avanços no desenvolvimento de novos compostos para combater o A. baumannii. (C. Zampaloni et al. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-023-06873-0 (2023); K. P. Pahil et al. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-023-06799-7; 2023). Um desses compostos, chamado zosurabalpin, demonstrou eficácia contra várias cepas resistentes em culturas laboratoriais e em modelos animais, mostrando-se eficaz até mesmo contra cepas resistentes a todos os antimicrobianos disponíveis. Apesar desses resultados promissores, o caminho para a aprovação clínica desses compostos é longo e cheio de incertezas.
Um dos principais desafios no desenvolvimento de novos antibióticos não é apenas científico, mas também econômico. Os incentivos financeiros atuais são insuficientes para motivar muitas empresas a investir no risco de desenvolver novos antibióticos. Diante da crescente ameaça de resistência antimicrobiana, é essencial que a comunidade internacional intensifique seus esforços para garantir o desenvolvimento e a disponibilização desses medicamentos promissores.
Especialistas sugerem uma combinação de incentivos para o desenvolvimento de novos medicamentos antimicrobianos. Estratégias "push", como o financiamento governamental para pesquisa em estágios iniciais, visam reduzir os custos. Estratégias "pull", por outro lado, recompensam as empresas que desenvolvem antibióticos bem-sucedidos, por exemplo, garantindo um nível mínimo de compra pelo governo.
O Reino Unido implementou um programa pioneiro de "assinatura", onde as empresas são pagas uma taxa anual fixa baseada no valor do medicamento para o sistema de saúde. Nos Estados Unidos, a Lei PASTEUR propõe um programa similar, embora ainda esteja enfrentando desafios no Congresso. A União Europeia também está considerando planos semelhantes.
Apesar das preocupações com o impacto no orçamento da saúde, é crucial considerar esses investimentos como um seguro contra futuras crises de saúde. Se os governos conseguirem viabilizar o mercado para esses medicamentos, isso incentivará mais investimentos por parte das empresas.
Em setembro, a Assembleia Geral da ONU discutirá a resistência antimicrobiana, destacando o problema e buscando compromissos concretos dos estados membros. Mais de 150 países já se comprometeram a elaborar planos de ação, mas agora é hora de implementá-los e financiá-los integralmente.
Embora a descoberta de compostos com atividade pré-clínica promissora seja um grande avanço, sem um plano de financiamento estratégico, esses desenvolvimentos podem permanecer inacessíveis, enquanto o A. baumannii e outros organismos continuam a representar uma séria ameaça à saúde pública.
Referência:
Nature . (2024, 03 de janeiro). A new class of antibiotics is cause for cautious celebration — but the economics must be fixed. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-023-04086-z"
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