O Setembro Amarelo chegou e estamos falando sobre saúde mental nas redes sociais, compartilhando o contato do Centro de Valorização da Vida (188), além de destacar o quanto é importante falar e ser ouvido. Trabalhei voluntariamente no CVV em 2019, me lembro de um público específico que ligava todos os dias, os LGBTQIA+. Inúmeras eram as pessoas que ligavam, simplesmente porque não tinham com quem conversar ou por terem a necessidade de desabafar que não podiam contar para a família que eram LGBTQIA+. Assim, aquela conversa sincera e sem julgamentos era tudo o que eles tinham para sentirem-se melhor nessa sociedade cheia de tabus.
Ainda nesse sentido, recentemente venho acompanhando a transição de gênero de uma amiga que me revelou um fato triste. Ao procurar o médico para começar a tomar os hormônios e as medidas necessárias para a mudança de gênero, certo dia ela estava diante dele no consultório, cheia de exames nas mãos e muito ansiosa. Ele, porém, mal olhou para o rosto dela e indicou rapidamente alguns hormônios e encerrou a consulta. Não sentindo confiança na prescrição, mais tarde ela procurou conversar com outras pessoas que estavam passando pelas mesmas coisas em comunidades on-line. Lá ela foi informada que aqueles hormônios eram muito perigosos e essa declaração trouxe a tona o quanto essa população é carente de informações e acolhimento humanizado, não só na sociedade em geral, mas na área da saúde.
Segundo a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a estimativa da população LGBT no Brasil é de cerca de 18 milhões de pessoas (2019). Pessoas essas que precisam mais do que um simples atendimento médico, mais do que apenas ser chamados por nomes sociais, mas uma população que precisa ser atendida de forma assertiva e personalizada com suas necessidades, por exemplo, como deve ser a anamnese, a abordagem do exame físico, os exames necessários, as medicações hormonais para a transição de gênero e o aspecto das necessidades em saúde mental. Realizei uma pesquisa rápida na internet sobre esses aspectos e percebi que ainda estamos com uma carência muito grande dessa literatura cientifica brasileira de forma transdiciplinar.
Portanto, fica aqui meu incentivo a uma reflexão aos profissionais da saúde e principalmente aos médicos: " o que vocês tem estudado e preparado e como têm visto seus pacientes LGBTQIA+?"