Publicado em 07 de agosto de 2023 na JAMA Network, o artigo 'An AI-Enhanced Electronic Health Record Could Boost Primary Care Productivity' explora o vasto potencial da Inteligência Artificial (IA) em revolucionar a prática da medicina contemporânea. Em vez de substituir médicos, como alguns especularam, é mais provável que a IA sirva como uma ferramenta poderosa para aprimorar e facilitar o trabalho clínico.
Enquanto especialidades médicas já estão se beneficiando de técnicas de reconhecimento de padrões baseadas em IA para detecção e tratamento de condições diversas, os médicos de cuidados primários, que desempenham o papel vital de encaminhar pacientes para especialistas, contiuam enfrentando desafios relacionados à falta de tempo e sobrecarga de trabalho.
Uma nova geração de registros eletrônicos de saúde (EHR) potencializados pela IA promete ser a solução para muitos desses desafios. Esses sistemas avançados podem identificar potenciais interações medicamentosas ou complicações, como a trombocitopenia induzida por medicamentos, por exemplo.
Com a capacidade de ler e interpretar automaticamente os resumos de alta hospitalar usando processamento de linguagem natural, os EHRs podem garantir um acompanhamento apropriado e eficiente dos pacientes. Além disso, esses sistemas podem reconhecer e alertar os médicos sobre diagnósticos potenciais não documentados anteriormente, e até priorizar diagnósticos diferenciais com base em relatórios de imagem, poupando médicos de pesquisas adicionais.
Para que essa transformação dos EHRs seja bem-sucedida, várias mudanças estruturais e estratégicas são necessárias. O design dos EHRs atuais, muitas vezes sobrecarregado e ineficiente, precisa ser totalmente reestruturado. Simplesmente adicionar aplicativos de IA a interfaces já sobrecarregadas não será suficiente; ao contrário, pode até agravar a confusão.
Além disso, os EHRs do futuro devem ser adaptáveis, permitindo a integração de vários add-ons inovadores. Isso permitirá que clínicas ou populações específicas personalizem seus sistemas para atender às suas necessidades. Além disso, o atual sistema de certificação governamental dos EHRs, que frequentemente age como um obstáculo à inovação, precisa ser revisto. A ênfase deve ser colocada na compatibilidade e inovação, e não na conformidade rígida.
Em resumo, a evolução do EHR com IA pode tornar os cuidados mais eficientes, precisos e centrados no paciente. Em um mundo ideal, um médico de cuidados primários poderia, por exemplo, encaminhar um paciente com facilidade, com todos os detalhes necessários gerenciados eficientemente pela IA, permitindo-lhe dedicar mais tempo ao que realmente importa: cuidar de seus pacientes.
Certamente, a perspectiva de integrar a IA na medicina é promissora. No entanto, não podemos desconsiderar os desafios operacionais e infraestruturais que surgem com essa implementação. A adesão a esses avanços vai além do investimento tecnológico, exigindo também a constante capacitação dos profissionais de saúde e o comprometimento com as inovações na área.
A academia médica, em seu papel vital, está frequentemente trazendo à tona estudos e publicações sobre as inovações das tecnologias em saúde. À medida que novas pesquisas e estudos destacam as capacidades transformadoras da IA em saúde, é fundamental que estejamos à frente desse movimento, internalizando e aplicando esse conhecimento. Isso pode ser alcançado por meio de leituras atualizadas, treinamentos constantes e colaborações com grupos especializados na vanguarda da tecnologia.
Esta tríade - tecnologia de ponta, educação continuada e colaboração profissional - é fundamental para assegurar que as potencialidades da IA se traduzam em melhorias tangíveis e efetivas na qualidade e precisão dos nossos atendimentos.
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Referência:
Harris JE. An AI-Enhanced Electronic Health Record Could Boost Primary Care Productivity. JAMA. Published online August 07, 2023. doi:10.1001/jama.2023.14525