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Saliva de carrapato tem efeito anticoagulante importante, segundo estudo do Butantan com Instituto da Tunísia

Saliva de carrapato tem efeito  anticoagulante importante, segundo estudo do Butantan com Instituto da Tunísia
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mar. 16 - 4 min de leitura
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Publicado na revista Toxins, o estudo feito em parceria com o Butantan e o Instituto Pasteur da Tunísia demonstrou que a molécula rDromaserpina, encontrada  nas glândulas salivares do carrapato de camelos do Deserto do Saara, possui uma atividade anticoagulante importante e que pode ajudar no tratamento de doenças cardiovasculares e doenças cancerígenas.

Fisiologicamente, a hemostasia serve para manter a fluidez do sangue dentro das veias e artérias, evitando a perda excessiva de sangue após lesão por formação de coágulos (2). Esse sistema é um conjunto de processos com a atuação de várias enzimas controladas por moléculas endógenas, incluindo inibidores de serina protease (serpinas), que são atingidas pela  rDromaserpina (2).  As serpinas são responsáveis por ativar e desativar moléculas da cascata de coagulação, alternando entre fisiologia normal e patologia, garantindo a função biológica normal ou levando a doenças, respectivamente(2). 

Animais hematófagos, como sanguessugas, mosquitos e carrapatos, usam as serpinas para combater o sistema de defesa do hospedeiro e inativar a cascata de coagulação do animal, a fim de garantir seu alimento, o sangue. Estas espécies representam uma fonte natural atrativa para o desenvolvimento de novas serpinas anti-hemostáticas(2).

Os pesquisadores testaram o efeito da rDromaserpina nas vias de coagulação do sangue e encontraram que, quando associada a trombina, a rDromaserpina tornou o plasma incoagulável. Durante o tempo de incubação, formou-se o complexo covalente e a rDromaserpina impediu que a trombina convertesse o fibrinogênio em fibrina. Então, os cientistas sugeriram que a rDromaserpina provavelmente inibe a(s) protease(s) serina(s) envolvida(s) na via intrínseca e comum da coagulação sanguínea(2).

Na hemostasia, a trombina está envolvida nas últimas etapas da via comum e na ativação da agregação plaquetária. Assim, devido à sua atividade inibitória, os pesquisadores encontraram que a rDromaserpina  reduziu significativamente a agregação plaquetária induzida pela trombina(2). Por ser produzida por um carrapato que se alimenta de sangue de camelo, a molécula anticoagulante é acostumada em atuar sob altas taxas de geração de trombinas, com resistência a altas temperaturas e níveis do fator 8 de coagulação 8x mais que nos humanos, promovendo hipercoagulabilidade(2).

Como inibidor suicida, a rDromaserpina reduziu a atividade enzimática residual da trombina de maneira dose-dependente. Por outro lado, segundo o estudo, a atividade da serpina pode ser aumentada por cofatores, principalmente glicosaminoglicanos(2). 

Em uma análise paralela, os cientistas testaram a atividade da molécula na presença da heparina, um anticoagulante comumente utilizado em hospitais(1).A heparina atua por meio da ativação comum da serpina, é capaz de aumentar a atividade da rDromaserpina em relação à trombina. Para várias serpinas, a heparina interage e modula sua atividade aumentando o nível de inibição em direção às proteases alvo(2). Assim, o artigo encontrou que a rDromaserpina induz a inibição acelerada da trombina na presença de heparina.

Para os cientistas, o próximo passo para a continuidade do trabalho é investigar a atividade da Dromaserpina em células (testes in vitro), usando modelos como inflamação e câncer, onde a trombina, seu principal alvo, pode atuar. Caso os resultados sejam positivos, os testes em animais devem começar no próximo ano(1).

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Referências 

  1. Instituto Butantan. Molécula encontrada em saliva do carrapato pode ajudar a tratar distúrbios da coagulação, presentes em doenças cardiovasculares e câncer, aponta estudo do Butantan. Fev 2022. Disponível em: https://butantan.gov.br/noticias/molecula-encontrada-em-saliva-do-carrapato-pode-ajudar-a-tratar-disturbios-da-coagulacao-presentes-em-doencas-cardiovasculares-e-cancer-aponta-estudo-do-butantan. Acesso em março de 2022.

  2. AOUNALLAH, Hajer et al. rDromaserpin: a novel anti-hemostatic serpin, from the salivary glands of the hard tick Hyalomma dromedarii. Toxins, v. 13, n. 12, p. 913, 2021. Disponível em:https://www.mdpi.com/2072-6651/13/12/913. Acesso em março de 2022.

 


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