Certo dia assisti um vídeo, desses que viralizam na Internet, em que um irmão consola o outro que está chorando por não querer ficar na escola. Entre palavras de incentivo e aconchego ele diz “você já é um rapazinho, não pode chorar”, questões sobre machismo a parte, o que me chama a atenção no vídeo é a atitude de desespero do garotinho para impedir o choro e o sofrimento do irmão.
Aquela cena me manteve em alerta por alguns instantes, e, entre a dúvida se achava fofo ou não, me deparei com a inevitável constatação de que nós raramente somos incentivados ou até mesmo expostos de maneira saudável à possibilidade do sofrimento como caminho de amadurecimento.
Pare de se punir quando erra
Uma maneira de amadurecer emocionalmente é olhar para o passado sem dor.
Sim, é isso mesmo, e é verdade que isso é difícil e custoso. Acontece que, quando nos punimos pelos erros do passado, esquecemos o princípio básico: aquilo não poderá ser refeito ou desfeito.
O exercício aqui é lembrar do passado, reconhecer os erros e pensar não no que poderia ter feito diferente e sim no que fará diferente quando confrontado com uma situação similar.
Aqui nós esquecemos o papel do outro ou a ação do outro naquela situação dolorosa. Não temos nenhum poder ou impacto no comportamento de outra pessoa, temos apenas no nosso próprio comportamento, então é perda de tempo e inútil refazer mentalmente o acontecimento imaginando que a outra pessoa se comportaria de modo diferente.
Imagine que está pensando no acontecimento indesejado, você o relembra com todo o seu corpo.
Suas mãos suam, seu coração palpita, por vezes você chora ou sente raiva, tudo isso faz parte e é natural que ocorra; mas o salto da mudança acontecerá quando, ao observar seus pensamentos relacionados a isso, você se perceba ponderando as mudanças que aconteceram em sua maneira de agir e o amadurecimento que teve com o acontecimento.
Ao invés de chorar e se magoar por ter sido ciumento a ponto de fazer com que seu relacionamento tenha se esgotado, você identifica EM SI MESMO os principais motivos que o levaram a agir dessa maneira.
Nem tudo é REALMENTE o que parece, muito mais depende de nossa percepção a partir de nossas crenças pessoais.
A primeira coisa que pode vir à mente é que o comportamento de sua namorada era equivocado, ou que ela se vestia de maneira provocante, ou até mesmo que dava abertura a outros para se aproximarem dela – e se for, nada disso você pode mudar (isso se partirmos da convicção de que se trata de um fato que ela efetivamente agia desse modo) porque poderia ser apenas a sua percepção distorcida pela sua insegurança.
O que VOCÊ pode mudar desse fato?
Apenas a sua interpretação e percepção do acontecimento, e o lugar que você se coloca nessa relação.
Pode mudar a maneira que irá agir quando a raiva começar a aparecer em seu estômago e a rispidez na voz que usará para perguntar quem era ao telefone.
Tenha consciência de seus pensamentos e sentimentos
Imagine que você usa óculos.
Você passou o dia inteiro em frente ao computador do escritório, num daqueles dias atarefados (você tem uma consulta médica e tem que dar conta de tudo antes de sair mais cedo do trabalho) portanto não teve tempo sequer para limpá-los decentemente.
Você sai do escritório e ainda é dia, então dirige apressado até sua consulta. Algo parece embaçado, se lembra dos seus óculos, mas deixa para lá, afinal ainda é dia e os quinze minutos que faltam para não chegar atrasado ao seu destino são mais preciosos do que qualquer outra coisa ao redor.
Ok.
Agora imagina a mesma situação, só que desta vez é noite, está chovendo e tem neblina nesse dia de agosto.
Em ambas as situações você vai conseguir chegar a seu destino, conseguirá enxergar e sem dúvidas alguma, não vai deixar sua consulta médica por conta disso.
Os óculos embaçados são uma metáfora para seu mundo interno. Nas duas situações há apenas uma variável que pode ser controlada por você mesmo e, sem dúvidas, essa variável fará uma diferença considerável na CLAREZA com que enxergará seu caminho.
Quando nos engajamos em nosso processo de conhecimento interior e maturidade emocional somos como a pessoa que resolve investir os 5 dos 15 minutos corridos de seu tempo para limpar os óculos embaçados.
Saímos do caos mental que faz com que sejamos tragados pelos problemas cotidianos para o estágio de lucidez mental, no qual governamos nossos pensamentos e os direcionamos para a eficácia.
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