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Uma análise sobre a superlotação das UPAs e demais serviços de emergência

Uma análise sobre a superlotação das UPAs e demais serviços de emergência
Luiz Duplat
ago. 1 - 6 min de leitura
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A superlotação das UPAs e de outros serviços de emergências não ocorre somente em Camaçari, nem somente na Bahia ou mesmo no Brasil, é um problema mundial, que se evidencia com a ocupação de todos os leitos e macas das UPAs em suas salas de observação, medicação, corredores e, muitas vezes, na própria recepção.

Também o longo tempo entre o “fazer a ficha” na recepção e o atendimento médico provoca ansiedade, tensão e indignação dos pacientes e acompanhantes, motivo de conflitos com a equipe de plantão e de divulgação em redes sociais do caos do segmento de urgência e emergência do setor de saúde. Este problema da superlotação não ocorre somente nas UPAs, mas também nas emergências dos hospitais privados.

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), “emergência é o agravo à saúde que implica em risco iminente de vida ou sofrimento intenso que exige tratamento médico imediato”. Já urgência, “é a ocorrência de um agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata”. Perceberam a diferença?

Uma emergência exige tratamento imediato, enquanto uma urgência exige assistência à pessoa. Sei que para o paciente ou seu acompanhante, que vai a uma UPA, é muito difícil fazer esta diferença. Até mesmo para o profissional de saúde fazer esta distinção às vezes é difícil. Daí a importância de fazer a separação do “joio do trigo”, o grave do não grave.

No passado, os serviços médicos atendiam os pacientes por ordem de chegada, o que provocava erros com sofrimento e mortes, a exemplo de: “um paciente com uma unha encravada ser atendido primeiro que um paciente que estava infartando”. Atualmente, o atendimento é realizado obedecendo uma ordem de prioridade, de acordo com a gravidade do quadro, uma Classificação de Risco, e no Brasil o Protocolo de Manchester é o mais utilizado.

No cenário de superlotação das UPAs, a classificação de risco se torna imperativa para organizar o fluxo de quem vai ser atendido primeiro.  Os pacientes são classificados por cores, conforme suas queixas clínicas: Vermelho(risco de morte, atendimento imediato), Laranja (caso urgente, atendimento em 10 minutos), Amarelo (pode correr risco, mas não imediato, atendimento em 1 hora), Verde (pouco urgente, atendimento em 2 horas) e Azul (não há urgência, atendimento em 4 horas ou pode ser encaminhado para uma Unidade Básica de Saúde).

Os serviços de urgência e emergência têm utilizado monitores, banners ou cartazes nas recepções indicando a previsão de horas para o atendimento do paciente, conforme a classificação do paciente, com o objetivo de diminuir a ansiedade e conflitos na recepção.

Vários fatores provocam a superlotação das UPAs. Entre eles, o mais citado por usuários e profissionais é a procura da população pelo serviço de emergência devido à dificuldade que encontra na chamada Atenção Básica - ou seja, nas  Unidades Básicas de Saúde (UBSs) - para agendamento de uma consulta. Na UPA, o paciente tem certeza que vai ser atendido pelo médico, mesmo que demore.

Os pacientes classificados como azul ou verde geralmente vão à UPA em busca de solução de uma demanda que poderia ser resolvida em uma UBS, no chamado “Postinho do Bairro”. Exemplos disso são: troca de receita, atestado médico para afastamento trabalho, solicitação de exames, encaminhamento para especialistas e relatórios médicos.

Entre as causas da superlotação das UPAs, está o fechamento abrupto das portas das emergências dos hospitais sem um planejamento para que os outros serviços de emergência absorvessem os seus pacientes, aliado ao aumento do número de usuários da assistência médica do SUS devido ao desemprego e à inflação no país, que acarretou uma diminuição dos pagantes de planos de saúde.

Outro fator determinante é que, a cada dia, para ter seu problema resolvido ou atenuado, o paciente permanece mais tempo na emergência. Este aumento no tempo de permanência reflete a baixa resolutividade do serviço por falta de normatização de fluxos e de protocolos clínicos. A inexistência de uma integração entre os setores do serviço (raios X, laboratório, higienização, segurança, serviço social, médicos, enfermagem, regulação e administração) acarreta falhas na comunicação e no trabalho da equipe, que eleva o tempo de permanência do paciente na emergência.

A alta rotatividade dos médicos plantonistas das UPAs, o desconhecimento da rede de atenção à saúde do município, assim como o adiamento da decisão clínica de conceder alta ao paciente, por ter tido uma formação médica deficiente ou mesmo por medo de processo judicial, também são importantes fatores que interferem na superlotação.

Segundo os relatórios gerenciais da SESAU (Secretária de Saúde de Camaçari), 80% dos pacientes que procuram uma UPA são classificados como azul ou verde, 15% como amarelo e 5 % como vermelho. O município com população de 309 mil habitantes, pela estimativa do IBGE (2022), possui duas UPAs (Gleba A e Arembepe), duas PA (Abrantes e Monte Gordo) e uma UPA Pediátrica. Todas com dimensionamento do número de médicos plantonistas em conformidade ao estabelecido nas normativas do CFM. Mesmo assim, alguns dias ficam com superlotação.

Portanto, o problema ocorre mais devido à dificuldade de saída dos pacientes dos serviços de emergência, do que pelo número de usuários que entram com alguma demanda. A culpa não é exclusiva das Unidades da Atenção Básica. Imperioso saber se a UPA está SUPERLOTADA ou se a estão SUPERLOTANDO.

Luiz Duplat é Médico Saúde da Família e sub-secretário de Saúde de Camaçari (BA).

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