“Quando eu tinha 20 anos, eu passei por uma situação de abuso sexual de um dos médicos mais bem conceituados da minha cidade. Minha família consultava com ele e fui indicada pelos meus avós a fazer o mesmo. Só não imaginava que ao chegar à consulta médica, eu deveria ficar completamente nua e que o médico fosse ficar me tocando dando a entender que fazia parte do procedimento. Fiquei completamente constrangida. Via em seus olhos a maldade ao qual se implantava naquele momento. Pedi licença, fui me vestir e saí de lá para nunca mais voltar.”
Esse relato foi compartilhado por uma das participantes da websérie Legados. O relato que traz angústia, medo e aflição, foi vivenciado por uma mulher paciente sendo vítima, mas poderia ter sido um relato de uma pessoa de outro gênero, idade e com outra posição dentro do hospital.
A violência sexual em ambiente de saúde pode afetar e ser também cometida por pacientes e acompanhantes, funcionários, médicos, gestores e prestadores de serviços terceirizados.
Para ilustrar essa mobilidade entre agressor e vitima da violência sexual em ambientes de saúde, eu deixo aqui meu relato de importunação sexual. Estava em um plantão no pronto socorro no rodízio de clínica cirúrgica do internato. Era uma manhã de sexta-feira, e chegou um homem casado de 40 anos vítima de acidente auto x moto de alta energia. Como protocolo da avaliação precisamos fazer a palpação de tórax, costelas. Palpando o tórax dele perguntei se ele estava sentindo dor. Ele respondeu em tom jocoso “não estou sentindo dor, só está muito bom mesmo você me palpando”. Outros pacientes homens que estavam ao lado dele riram do que ele falou. Eu engoli seco e sai pegar material porque ainda tinha que fazer um curativo na mão dele.
Os relatos que mencionei aqui são incomparáveis, possuem diferentes gravidades e tipos de violência sexual. O objetivo de trazer esses relatos é demonstrar um pouco a diversidade de manifestações de violência sexual que podem estar presentes em locais de saúde.
Você também já passou por algum tipo de violência sexual dentro de um ambiente de saúde?
Caso queira, compartilhe sua história nos comentários, ou de forma anônima por este link.
A violência sexual em nosso país é cultural, desapercebida e tida por muitos como um exagero da vítima, um famoso “mimimi”. A risada dos demais homens na situação em que eu relatei, o tom jocoso com que o paciente respondeu evidenciam isso.
Mas chega dessa cultura! Aqui NÃO!
Precisamos agir contra essa cultura, precisamos pensar em soluções práticas que consigam coibir e mitigar esse tipo de violência em ambientes de saúde. Vamos começar esse movimento dentro dessas instituições, para que esse movimento se espalhe e possa reverberar em outros espaços públicos e privados.
O Legados é uma capacitação que proporcionará aos interessados combater a violência sexual de maneira ativa, proporcionando os caminhos para a resolução de problemas complexos de forma colaborativa e inovadora. O programa tem como intuito previnir a violência sexual em ambientes de saúde e, para isso, ao final dos encontros será elaborado um plano de ação pelos participantes, para ser entregue aos gestores e resposáveis por essas instuições.
Ficou interessado em mudar esse cenário?
Acesse este link para saber mais sobre o programa.