A saúde mental e a saúde física são duas vertentes fundamentais e indissociáveis da saúde. São condições humanas essenciais para o bom funcionamento da sociedade e, sobretudo, do sistema de tratamento de saúde.
A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais.
Alguns critérios foram definidos como sendo determinantes na condição e estabelecimento de uma saúde mental:
- Atitudes positivas em relação a si próprio;
- Crescimento, desenvolvimento e autorrealização;
- Integração e resposta emocional;
- Autonomia e autodeterminação;
- Percepção apurada da realidade;
- Domínio ambiental e competência social.
Ao longo da vida, todos nós podemos ser afetados por problemas de saúde mental, de maior ou menor gravidade. Algumas fases, como a entrada na escola, a adolescência, a menopausa e o envelhecimento, ou acontecimentos e dificuldades, tais como a perda de familiar próximo, o divórcio, o desemprego, a reforma e a pobreza podem ser causa de perturbações da saúde mental. Fatores genéticos, infecciosos ou traumáticos podem também estar na origem de doenças mentais graves.
O isolamento social é uma das ferramentas utilizadas e aplicadas pelos países contra a Covid-19, sendo que este método previne o avanço da doença e protege dos efeitos danosos do vírus. Porém, tanto a quarentena quanto o medo de uma enfermidade nova impactam diretamente na saúde mental das pessoas. Em tempos de pandemia e de isolamento social, esse distanciamento e essa mudança drástica do dia a dia podem causar sensações de depressão, ansiedade e, em casos mais graves como os de profissionais da saúde, o estresse pós-traumático.
Segundo Maria Tavares Cavalcanti, professora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
“nós nos damos conta de que o espaço da nossa casa, o espaço da nossa intimidade era de fato o espaço menos habitado por nós”.
Uma alteração radical de vida de maneira tão brusca não muda apenas o cotidiano individual e familiar, mas também é um abalo na organização da sociedade.
Ainda segundo Cavalcanti, os dois grupos mais afetados pela quarentena em virtude do Covid-19 são as pessoas com antecedentes de transtornos psicológicos e os profissionais da saúde. O primeiro grupo pode sofrer com mais crises de ansiedade e momentos de depressão, mas, paradoxalmente, as pessoas que tinham como gatilho principal de suas crises fatores externos, como o trabalho ou o fato de sair de casa, podem ter alívio dos sintomas. Já os profissionais de saúde, que são a linha de frente no combate ao vírus, lidam com o estresse, a pressão psicológica e os riscos da doença diariamente.
Seguem, abaixo, dicas da professora Maria Tavares Cavalcanti para lidar com o isolamento:
- Converse com pessoas nas quais você confia. Entre em contato com seus amigos e familiares.
- Ao ficar em casa, mantenha um estilo de vida saudável (incluindo uma dieta adequada, sono, exercício e contato social com os entes queridos em casa).
- Mantenha contato com familiares e amigos por e-mail, telefonemas e uso das mídias sociais e outras plataformas.
- Não use tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com suas emoções.
- Se você se sentir sobrecarregado, converse com um profissional de saúde, assistente social, ou outro profissional ou pessoa confiável em sua comunidade.
- Tenha um plano para onde ir e procurar ajuda para a saúde física, mental e psicossocial, se necessário.
- Conheça os fatos sobre o seu risco e saiba como tomar precauções. Use fontes confiáveis para obter informações, como o site da Organização Mundial da Saúde, da UFRJ ou uma agência de saúde pública local.
- Diminua o tempo em que você e sua família passam assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas perturbadoras.
- Use as experiências e habilidades que você usou no passado em tempos difíceis para gerenciar suas emoções durante o surto.
As epidemias em geral elevam as taxas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), diretamente relacionado a experiências catastróficas. Em Hong Kong, a epidemia do vírus da síndrome respiratória aguda (SARS) em 2003 trouxe cicatrizes psiquiátricas: 40% das pessoas que adoeceram de SARS grave estavam sofrendo de TEPT dez anos depois. Os transtornos mentais surgem de causas multifatoriais e o estresse é a gota d´água de uma tempestade perfeita neurofuncional que pode evoluir sob a forma de sintomas duradouros e incapacitantes e risco de suicídio.
Vivemos num período, de uma certa maneira, histórico: a primeira pandemia da nova década, contudo, além de adotar as medidas físicas necessárias para nos prevenirmos contra ela, precisamos obter também apoio emocional e psicológico para lidar com situações antes, durante e após a pandemia, sobretudo os profissionais de saúde, que estão mais sujeitos à riscos ao trabalharem na linha de frente no combate à doença.
Para mais informações
- http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1059
- https://www.adeb.pt/pages/o-que-e-a-saude-mental
- https://ufrj.br/noticia/2020/03/25/coronavirus-saude-mental-em-tempos-de-isolamento
- https://jornal.usp.br/artigos/saude-mental-em-tempos-de-coronavirus/
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