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A ética da ética em publicidade médica.

A ética da ética em publicidade médica.
Henri Hajime Sato
ago. 23 - 6 min de leitura
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Na minha antiga residência de patologia (aquela que eu me demiti e você pode conferir a história clicando aqui), houve em uma aula do zoom sobre telemedicina e de segurança de dados.

Em um determinado momento, o preceptor que dava aula incluiu algumas normas internas do departamento.

“Tirar fotos para redes sociais e uso pessoal no setor é estritamente proibido, incluindo confraternizações, aniversários e afins”

Ele complementou “Hospital é lugar para médico trabalhar”

Eu achei essa uma das coisas mais desumanizadoras que eu já ouvi em medicina (e olha que em um serviço eu já recebi um não para aumento porque a equipe de plantão pedia hemograma demais).

 O argumento dado era de ter sigilo de dados dos pacientes, segurança de dados e evitar desconfortos administrativos.

Um jeito bonito de dizer, não somos donos do seu trabalho só dentro dos muros, mas fora dele, assim como a sua opinião também.

Somos vigiados 24h por algoritmos até com nossos celulares em repouso.

O argumento dado para tais imposições era o possível vazamento de dados de pacientes ou de informações sigilosas do hospital embasada pela famosa cartilha de publicidade do CFM.

Existem dezenas de proibições, permissões e modelos em anexo que podem ser resumidos em dois objetivos.

  • Preservar a ética da relação médico paciente e o bom nome da medicina.
  • Coibir o que é chamado de autopromoção.

O problema que essa cartilha é tão polêmica que abriu uma série de debates e críticas muito duras em dois lados:

Lado A diz que a cartilha é flexível demais e os conselhos são pouco punitivos, ou seja, tem muito médico extrapolando o limite do bom senso em rede social.

Lado B diz cartilha é dura demais, proporciona injustiças, censura e não pune todos igualmente.

De flexibilidade pode-se conferir inúmeros exemplos, como a quantidade de fotos que estudantes de medicina, médicos colocam na internet sem preservar o sigilo do paciente, médico com posturas, divulgando produtos, terapias questionáveis ou até mesmo o uso político de redes sociais por médicos, a meu ver, de forma caluniosa e desonesta (a famosa “fake news”).

Já a parte de injustiça podemos conferir vários detalhes. Médico é proibido postar fotos de antes e depois, porém um profissional não médico o faz, isso dá margem a concorrência desleal, afinal de contas temos um médico censurado (por motivos justos ou não) e outro que inclusive tem capacidade técnica inferior livre para mostrar o que quiser.

"E quando questionado essa situação há sempre o argumento de que isso compete a cada autarquia e a justiça comum e não para norma interna."

O que abre uma anomalia moral e jurídica muito grande dando margem a más impressões, injustiças e juntando profissionais mal treinados, despreparados e sem capacitação técnica em marketing, ética e gestão é a receita do desastre.

Podem proibir de um médico postar fotos de seu paciente, mas o paciente não é proibido. O médico vai ter que processar todos os pacientes que postarem fotos dele? Haja dinheiro e jurídico para pagar advogado.

Médico não pode divulgar autopromoção, mas pode divulgar seu estilo de vida que muitas vezes não é condizente com a realidade, até onde vai a persona rede social-médico? É enganação nível esquema Ponzi/boi gordo/telexfree? Ou é só narcisismo? Ou vai contra uma boa medicina?

Ou observar que a capacidade punitiva pode existir conflitos inclusive internos:

  • Existe por exemplo uma parte bem taxativa que é terminante proibido médico aceitar e receber congratulação de melhor médico de tal serviço, porém vemos hospitais, laboratórios e clínicas que mostram prêmios best place to work ou top of mind
  • Em teoria um médico não pode se autopromover, então médico dar entrevista na tv, rádio, podcast sem anonimato se enquadra?
  • O governo pode promover então o marketing de planos de metas em saúde como o Mais Médicos mostrando resultados de que o Estado funciona, mas um médico não pode medir seu sucesso por essas métricas e divulgar isso?

Isso que não entrei no assunto anúncio de especialidade, técnica e o RQE.

De qualquer maneira, na internet, o marketing muda muito rápido e uma coisa temos certeza, os representantes da medicina estão com dificuldade de acompanhar por qualquer motivo que seja.

Quanto a minha opinião tem médico que é contra, tem médico que é a favor. Eu sou da máxima, que inclusive é um parecer do CFM

“o ato médico é livre e irrestrito desde que respeitado o bom senso”

Seja na pessoa física como jurídica.

E questionar e punir ou não uma licença médica de quem faz a blogueirinha eu preferia dizer:

“mil concordam e mil criticam, mas se houvesse uma pessoa que ensinasse ética, marketing e o mundo médico como ele realmente é, sem hipocrisia não teríamos gastado tempo com burocracia e interpretações”

E não estaríamos ouvindo ações punitivas, ineficazes e ainda por cima uma aula que nem disse no começo que parece mais um discurso de burocrata monopolizando seu ego em detrimento da sua mão de obra do que um aprendizado sobre progredir a medicina sem concorrência desleal ao bem do paciente.

Talvez com eleições isso mude, mas enquanto temos o dono de hospital/convênios/burocratas e seus asseclas de jaleco determinando ordens e certificações para se autopromoverem, quem perde a vaidade e a aparência viva são os funcionários, inclusive médicos.

Porque perda de vaidade pode ser sintoma e consequência de depressão e burnout. Ainda bem que não proibiram o médico chorar em hospital e de ir ao banheiro, podem até usar uma autopromoção:

"Aqui temos amor e o médico pode se expressar livremente, inclusive ele pode até chorar escondido no banheiro"

 


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