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As mortes por COVID-19 entre os vacinados e a comunicação falaciosa

As mortes por COVID-19 entre os vacinados e a comunicação falaciosa
Isadora Mesadri
fev. 15 - 3 min de leitura
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Considere a descrição desse indivíduo: Steve é muito tímido, retraído, prestativo, porém desinteressado nas pessoas ou no mundo real,  tem paixão por detalhes e necessita de ordem(1). É mais provável que Steven seja um bibliotecário ou um vendedor?

 


 

Provavelmente você pensou que Steve é bibliotecário. Consoante um amplo estudo denominado “Programa Heurísticas e Vieses” (2) , isso ocorre pois a probabilidade é avaliada segundo o grau em que ele é representativo de, ou similar ao estereótipo de um bibliotecário. 

A similaridade da personalidade de Steve com o estereótipo de um bibliotecário é pensado instantaneamente pelas pessoas, entretanto, as considerações estatísticas de que existem mais vendedores do que bibliotecários são ignoradas. Essas estatísticas, denominadas como taxa base da população em referência, deveriam integrar qualquer estimativa da probabilidade de que Steve seja um vendedor (maior probabilidade), ou um bibliotecário (menor probabilidade). 

Essa taxa, também intitulada como falácia da taxa básica, negligência de taxa básica ou de viés de base, é um erro no pensamento. Se o dado for apresentado com informações de taxa básica relacionadas e informações específicas, a mente tende a ignorar o primeiro e se concentrar no último. 

O viés de base foi muito utilizado por agências de comunicação e propagadores de Fake News para divulgar dados sobre o COVID-19 e a vacinação. Durante a pandemia, títulos sensacionalistas como “Metade das pessoas que morreram de COVID-19 são vacinadas” foram comuns. Essas manchetes e o conteúdo da notícia incluem a falácia de base por não divulgarem os dados referentes à quantidade de pessoas vacinadas e não vacinadas na população e focarem apenas no número absolutos de morte daquela região. 

Para exemplificar essa questão, o veículo “Our World in Data”(3) montou um caso fictício de uma população de 60 indivíduos, na qual 10 pessoas morreram de COVID-19, sendo 5 pessoas vacinadas e as outras 5 não. Jornalistas então publicaram que metade das mortes de COVID-19 foram de pessoas vacinadas. Entretanto, esse número absoluto não reflete a realidade. Qual é a porcentagem da população que foi vacinada? Desse dado, qual a porcentagem dos que morreram? Supondo que 50 indivíduos se vacinaram e apenas 10 não. Desses 50, apenas 5 morreram, ou seja, apenas 10% da população vacinada morreu de COVID nesse exemplo e não 50% como divulgado pelo noticiário.

Portanto,  ao analisar o conteúdo e dados divulgados no meio de divulgação, é fundamental se atentar as estatísticas utilizadas para que vieses como o de taxa base não sejam propagados como verdade e prejudiquem o meio científico com falsas informações sobre saúde.



 

REFERÊNCIAS

  1. Kahneman, D. Rápido e Devagar, duas formas de pensar; tradução Cássio de Arantes Leite. Objetiva. 2012 

  2. Kahneman, D.; Slovic, P.; Tversky, A. Judgment Under Uncertainty: heuristics and biases. Cambridge University Press. Cap.34: On the study of statistical intuitions. 1982

  3. Edouard Mathieu  and Max Roser, How do death rates from COVID-19 differ between people who are vaccinated and those who are not? 23, Nov, 2021. Disponível em: https://ourworldindata.org/covid-deaths-by-vaccination 

 

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