O compromisso em direção à equidade em saúde tem sido uma prioridade global. Muitos órgãos de saúde, como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e a Associação Médica Americana, têm dado destaque a essa questão. Uma das estratégias identificadas para aprimorar a equidade em saúde é o fomento de uma força de trabalho médica diversa que reflita a população que ela atende. Em especial, o campo da medicina de emergência, onde a diversidade do corpo clínico é crucial, visto que trata diretamente com populações vulneráveis.
Estudos anteriores já apontaram que as avaliações de desempenho médico muitas vezes refletem preconceitos, com estudantes do sexo feminino e de grupos etnorraciais sub-representados muitas vezes sendo descritos em termos de traços de personalidade em vez de competências. Essas desigualdades não se restringem apenas à formação médica de graduação, mas também são observadas em programas de residência médica, onde residentes do sexo feminino e/ou de grupos minoritários frequentemente recebem avaliações mais baixas.
A pesquisa publicada na JAMA Netw Open em 21 de setembro de 2023 ao adotar uma abordagem interseccional, analisou como raça, etnia e sexo se combinam e interagem para influenciar as avaliações de residentes em medicina de emergência, dos anos acadêmicos de 2014 a 2015 até o ano acadêmico de 2017 a 2018. Este foco foi crucial para entender as desigualdades no ambiente médico, especialmente quando se considera a formação e avaliação de profissionais emergentes na área.
Na tabela a seguir extraída da pesquisa original, é possível observar as características de base dos residentes de medicina de emergência incluídos (n = 2708)
JAMA Netw Open. 2023. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.30847
Os resultados mostraram que residentes femininas de grupos etnorraciais sub-representados consistentemente recebiam avaliações mais baixas em comparação com seus pares masculinos brancos. Em programas de três anos, estas residentes foram avaliadas em média 0,25 pontos abaixo, o que seria equivalente a cerca de dois meses de treinamento adicional.
A discriminação no ambiente de aprendizagem clínica são vastas, podendo afetar a retenção e promoção de médicas, residentes de grupos minoritários e, em especial, médicas de grupos minoritários, fundamentais para diversificar a força de trabalho médica. Também podem impactar diretamente o bem-estar psicossocial desses residentes, como em estudos que mostram associações entre experiências de discriminação e desgaste profissional, depressão e até mesmo abandono da profissão médica entre esses grupos.
No entanto, esta pesquisa também apresenta algumas limitações. Por exemplo, os dados demográficos não capturam completamente a experiência de discriminação, além da pesquisa não ter sido capaz de avaliar experiências de residentes transgêneros e não binários, que também enfrentam altos níveis de discriminação.
Portanto, para atingir a equidade em saúde e melhorar o atendimento aos pacientes, é vital reconhecer e eliminar desigualdades em todas as fases da formação médica. A diversidade na medicina não é apenas uma questão de representação, mas uma estratégia essencial para promover a justiça em saúde e garantir o melhor cuidado possível para todas as populações. A busca por uma força de trabalho médica diversa e representativa é mais do que uma meta a ser alcançada; é uma necessidade ética e profissional.
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Referência:
Lett E, Tran NK, Nweke N, et al. Intersectional Disparities in Emergency Medicine Residents’ Performance Assessments by Race, Ethnicity, and Sex. JAMA Netw Open. 2023;6(9):e2330847. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.30847