Por Yan Kubiak Canquerino - Colaborador da Academia Médica
Hoje é dia 26 de maio, dia do combate nacional ao glaucoma, uma doença ocular que cursa com a degeneração do nervo óptico, podendo ou não causar cegueira. Durante esse artigo, tentaremos criar a curiosidade e entregar um painel ou então uma revisão sobre essa patologia ocular, esperamos que goste, boa leitura!
Por que falar sobre glaucoma?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2 bi de indivíduos possuem algum tipo de deficiência visual e desses casos, pelo menos metade deles poderiam ter sido evitados. E o glaucoma está como a primeira causa de cegueira e deficiência visual irreversível no Brasil, assim como no mundo. Estudos estimam que até 2030 o número de portadores de glaucoma possa chegar a 95,4 milhões, sendo que em 2020 a projeção era de 76 milhões.
A cegueira é a 3º maior causa, segundo a OMS (2017) de anos vividos com deficiência. O glaucoma se distribui de maneira diferente no espaço geográfico e também sofre influência da etnia, no Brasil, assim como no mundo ocidental, a apresentação mais comum do glaucoma é o glaucoma por ângulo aberto, sendo responsável por 80% dos casos da doença.
Um consenso internacional em 2002 realizou as definições do glaucoma de ângulo aberto e fechado.
Epidemiologia
Aos 40 anos surgem aproximadamente 1,6 novos casos de glaucoma para cada 100.000 pessoas/ano e aos 80 anos 94,3/100.000 habitantes. A diferença de prevalência entre brancos e negros na faixa etária entre 73 a 74 anos é de 3,4% para brancos e 5,7 % para negros, essas taxas vão respectivamente para 9,4% e 23,2% se considerarmos a faixa etária de 75 anos ou mais, uma vez que o glaucoma possui relação direta com a raça e com a idade.
Espera-se que nos próximos anos a incidência e prevalência do glaucoma aumente, devido ao aumento da expectativa de vida da população.
O que é o glaucoma propriamente dito?
A atual definição define que o glaucoma trata-se de uma neuropatia óptica que está presente quando ao menos um dos olhos possui defeitos tanto estruturais quanto funcionais (dano no disco e perda de campo visual).
Esses danos no disco resultam de uma elevada pressão intraocular, causando a degeneração de neurônios ganglionares da retina na camada interna e perda dos axônios no nervo óptico, o resultado macroscópico disso é um aumento da escavação e uma palidez de margem no disco óptico. A razão entre a escavação e o tamanho do disco é uma ferramenta extremamente importante para avaliação durante uma consulta, pois quanto maior a escavação do nervo óptico, mais grave tende a ser a condição do(a) paciente.
Essas alterações estruturais macroscópicas podem ser identificadas pela oftalmoscopia e por técnicas de imagem.
O que é a degeneração que ocorre?
O aumento da escavação do nervo óptico trata-se da perda de neurônio ganglionares da retina assim como deformação do tecido conjuntivo que suporta o disco óptico.
Como realiza-se o diagnóstico?
Segundo o consenso internacional, a pessoa possui glaucoma quando tem três ou mais locais no teste de campo com perda visual, assim como uma razão entre a escavação e o tamanho do nervo óptico maior do que o tamanho visto em 97,5% das pessoas. Isso garante que não trata-se de apenas uma variação, ou de uma lesão estrutural ou funcional esporádica.
O objetivo deste artigo não era tratar de assuntos extremamente técnicos, mas sim abordar a importância de falarmos sobre o glaucoma, no entanto, além de apenas teorizar, o ideal seria levarmos esse debate para uma ação prática no dia a dia em prol de diminuir as consequências dessa doença na qualidade de vida das pessoas portadoras.
Mesmo assim, caso seu anseio seja conteúdos mais técnicos, deixo aqui bons artigos que abordam o assunto com maestria:
The pathophysiology and treatment of glaucoma: a review - JAMA
The Diagnosis and Treatment of Glaucoma - Deutsches Arzteblatt International
Genetics of glaucoma - Human molecular genetics (Oxford)
Portanto, sendo o glaucoma uma doença genética, ainda ela não é evitável, portanto, a partir do ponto de vista da saúde coletiva, em prol de garantir uma boa qualidade de vida para esses pacientes, cabe aos profissionais de saúde, desde a atenção primária até a atenção especializada realizar uma boa prevenção secundária, de forma a identificar precocemente e iniciar um tratamento eficaz).
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Referências
Friedman DS, Wolfs RC, O’Colmain BJ, Klein BE, Taylor HR, West S, et al.; Eye Diseases Prevalence Research Group. Prevalence of open-angle glaucoma among adults in the United States. Arch Ophthalmol. 2004;122(4):532–8.
Friedman DS, Jampel HD, Muñoz B, West SK. The prevalence of open-angle glaucoma among blacks and whites 73 years and older: the Salisbury Eye Evaluation Glaucoma Study. Arch Ophthalmol. 2006;124(11):1625–30
World Health Organization (WHO). World Report on Vision [8 October 2019]. Geneva: WHO; 2019. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/world-report-on-vision
GUEDES, R.A.P. Glaucoma, saúde coletiva e impacto social. Disponível em: https://doi.org/10.5935/0034-7280.20210001. Acesso em: 26/05/2021.
QUIGLEY. H. A. Glaucoma. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(10)61423-7. Acesso em: 25/05/2021.