O câncer de pâncreas, especificamente o adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC), é uma das neoplasias mais desafiadoras de serem diagnosticadas em estágios iniciais. O processo de diagnóstico convencional, que envolve sintomas clínicos, exames radiológicos e procedimentos invasivos, muitas vezes só é conclusivo após biópsias ou ressecções do tumor pancreático. Considerando a necessidade de um diagnóstico mais eficiente, pesquisadores têm buscado marcadores sanguíneos específicos para o PDAC.
Neste contexto, um estudo publicado na JAMA Netw Open em em 28 de agosto de 2023 apresentou um modelo de predição para câncer pancreático em estágio inicial utilizando biomarcadores sanguíneos rotineiramente medidos. O estudo concentrou-se principalmente na relação entre os níveis séricos de antígeno carbohidrato 19-9 (CA19-9) e bilirrubina, uma vez que altos níveis de CA19-9 têm sido associados ao PDAC. Curiosamente, a bilirrubina, produzida principalmente a partir da decomposição do hemoglobina em eritrócitos senescentes, pode ter seus níveis elevados tanto em condições benignas quanto malignas que resultam em obstrução do sistema biliar.
A pesquisa demonstrou que ajustar os níveis de CA19-9 de acordo com a bilirrubina poderia melhorar significativamente sua capacidade diagnóstica. Este ajuste é relevante porque obstruções no trato biliar podem causar hiperbilirrubinemia e, consequentemente, elevação nos níveis de CA19-9, reduzindo sua especificidade no diagnóstico de doenças hepatopancreaticobiliares.
Prediction Model for Early-Stage Pancreatic Cancer Using Routinely Measured Blood Biomarkers
JAMA Netw Open. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.31197
O estudo foi conduzido em duas fases: uma população inicial foi usada para desenvolver o modelo, enquanto uma segunda população foi usada para validação externa. Notavelmente, o modelo apresentou alta performance discriminatória e se mostrou adequadamente calibrado, ou seja, foi eficaz na distinção entre PDAC e doenças benignas periampulares.
Outra grande vantagem do modelo é que ele se baseia exclusivamente em testes laboratoriais facilmente disponíveis. Isso contrasta com modelos anteriores que buscavam marcadores de sangue mais novos e específicos que não são rotineiramente medidos em clínicas. Portanto, este modelo não apenas evita testes diagnósticos desnecessários em pacientes com baixo risco de PDAC, mas também pode servir como base para a incorporação de novos biomarcadores conforme são descobertos.
A pesquisa trouxe uma ferramenta potencialmente valiosa para a prática clínica. O modelo de predição apresentado poderia facilitar o diagnóstico precoce do câncer de pâncreas, uma doença que frequentemente é identificada em estágios avançados, quando as opções de tratamento são limitadas. Ainda que sejam necessárias mais validações externas e ajustes para diferentes contextos clínicos e geográficos, o estudo representa um passo significativo em direção a um diagnóstico mais eficiente do PDAC.
Para mais detalhes ou aprofundamento do seu conhecimento no assunto, disponibilizamos aqui o link de acesso ao estudo na integra.
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Referência:
Boyd LNC, Ali M, Comandatore A, et al. Prediction Model for Early-Stage Pancreatic Cancer Using Routinely Measured Blood Biomarkers. JAMA Netw Open. 2023;6(8):e2331197. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.31197