A American Association for Cancer Research publicou recentemente um estudo em Clinical Cancer Research intitulado 'Lorazepam stimulates IL-6 production and is associated with poor survival outcomes in pancreatic cancer'. Esta pesquisa destaca como certos benzodiazepínicos podem interagir com o ambiente tumoral e influenciar os resultados do tratamento do câncer de pâncreas.
Os benzodiazepínicos são medicamentos frequentemente prescritos a pacientes com câncer para aliviar sintomas como ansiedade, insônia e convulsões decorrentes da doença ou tratamento. Contudo, as pesquisas sobre a influência destas drogas nos desfechos oncológicos ainda são incipientes.
O estudo revelou que pacientes com câncer de pâncreas que utilizaram lorazepam, um benzodiazepínico comum, apresentaram uma sobrevivência livre de progressão menor em comparação com aqueles que não o usaram. Por outro lado, aqueles que utilizaram alprazolam apresentaram uma sobrevivência livre de progressão significativamente maior.
O Dr. Michael Feigin, professor associado de farmacologia e terapêutica no Roswell Park Comprehensive Cancer Center e principal autor da pesquisa, e sua equipe identificaram que 30,9% dos pacientes tratados no Roswell Park com diferentes tipos de câncer receberam benzodiazepínicos. Surpreendentemente, a maior taxa de uso dessas drogas foi observada em pacientes com câncer de pâncreas, com 40,6%.
Após ajustes estatísticos, como idade, raça, sexo, estágio e progressão da doença, e tratamentos recebidos, observou-se que o uso de benzodiazepínicos estava associado a um risco 30% menor de morte relacionada ao câncer de pâncreas. No entanto, uma análise mais detalhada revelou que o lorazepam, em particular, estava associado a um risco quase quatro vezes maior de progressão da doença ou morte. Já o alprazolam mostrou uma redução de 62% nesse risco. Estes efeitos foram específicos, sendo que a correlação entre o uso de lorazepam e piores desfechos foi também identificada em outros tipos de câncer, como de próstata, ovário, cabeça e pescoço, entre outros.
A equipe acredita que a explicação para tais diferenças pode estar na estrutura molecular dos benzodiazepínicos. O lorazepam e outros semelhantes podem ativar uma proteína chamada GPR68, expressa em fibroblastos que apoiam o tumor. Esta proteína amplia a expressão da citocina IL-6, promovendo inflamação no microambiente tumoral do pâncreas e, consequentemente, um crescimento tumoral acelerado.
Por outro lado, o alprazolam, por sua estrutura química, não afeta a GPR68, mas tem um efeito potente na redução do IL-6, diminuindo assim o potencial inflamatório desses tumores. Contudo, é essencial ressaltar que esta foi uma análise correlacional. O Dr. Feigin enfatizou que ainda é cedo para recomendar alterações na prescrição destes medicamentos. As implicações clínicas desses achados ainda necessitam ser esclarecidas e a próxima etapa seria a realização de um ensaio clínico.
Embora promissor, o estudo possui limitações, incluindo a dosagem variável de benzodiazepínicos entre seres humanos e modelos animais, bem como o ambiente tumoral específico em modelos murinos. Em síntese, como profissionais da saúde, continuamos acompanhando as descobertas e futuras pesquisas para entender melhor as implicações clínicas destes achados e ajustar seus protocolos de tratamento conforme necessário.
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Referência:
Medical Xpress.
(2023). Lorazepam treatment may be linked to worse outcomes for pancreatic cancer patients. https://medicalxpress.com/news/2023-08-lorazepam-treatment-linked-worse-outcomes.html