Revisão publicada no Journal of Hepatology sobre a
epidemiologia e implicações clínicas do consumo de álcool associado à síndrome
metabólica discute impactos independentes e combinados do problema,
principalmente relacionados a doenças hepáticas. O uso de álcool e a síndrome
metabólica são altamente prevalentes na população e frequentemente coexistem.
Ambos implicam em diversos problemas de saúde, entre deles doença crônica do
fígado, carcinoma hepatocelular e outras enfermidades hepáticas.
Os efeitos prejudiciais do álcool
não estão restritos a indivíduos com alto consumo dessa bebida, porém níveis
seguros de ingesta de álcool são difíceis de definir. A Organização Mundial da
Saúde recomenda que as pessoas não bebam mais de 20 g/dia de etanol puro (2
bebidas comuns), estando seu consumo acima disso associado ao aumento de riscos
cardiovasculares e mortalidade relacionada ao câncer.
Anualmente, ocorrem mais de 2.4
milhões de mortes decorrentes do uso de álcool, sendo a mortalidade mais alta
entre homens do que entre mulheres e jovens adultos. As doenças
cardiovasculares relacionadas ao álcool são as principais responsáveis pelas
mortes, seguida por ferimentos e doenças digestivas. Além disso, foi reportado
pelos Estados Unidos e Reino Unido que a mortalidade de doenças hepáticas
relacionadas ao álcool aumentou em aproximadamente 20% durante a pandemia do
COVID-19.
Segundo a revisão, a síndrome
metabólica se tornou um problema global e é altamente atribuída ao excesso
calórico consumido, inatividade física, consumo de tabaco e baixa qualidade
alimentar, contribuindo para uma série de fatores, como obesidade, alta
resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão arterial. Além disso,
pacientes com essa síndrome frequentemente tem diabetes tipo II, NAFLD e
fenótipo aterogênico de lipoproteína.
A síndrome aumenta o risco de
problemas relacionados ao fígado, independentemente ou associados ao uso de
álcool. Em estudo finlandês, avaliado durante a revisão, foi encontrado que 42%
dos problemas relacionados ao fígado são relacionados ao álcool, sendo os
mesmos mais comuns entre jovens com NAFLD. Já em estudo francês, foi
identificado que as complicações hepáticas foram atribuídas ao uso de álcool,
onde menos de 10% foi atribuído à síndrome metabólica ou obesidade.
O resultado de doenças no fígado
devido ao efeito da interação entre o uso abusivo de álcool e síndrome
metabólica é maior do que a soma de efeitos individuais. Diversos estudos
mostraram efeitos aditivos entre os dois fatores sobre doenças hepáticas.
Evidência mostra que álcool e fatores metabólicos têm fatores independentes e
combinados sobre o início e a progressão da doença hepática crônica. Assim como
fatores de risco para doenças cardiovasculares, onde os riscos podem ser
quantificados com fatores preditivos, as doenças hepáticas são multifatoriais.
Referência:
Fredrik Åberg; Christopher D. Byrne; Carlos J. Pirola; Ville Männistö;
Silvia Sookoian. Alcohol consumption and metabolic syndrome: Clinical and
epidemiological impact on liver disease. DOI:https://doi.org/10.1016/j.jhep.2022.08.030
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