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Consumo moderado de vinho tinto pode remodelar a flora intestinal e beneficiar a saúde cardiovascular

Consumo moderado de vinho tinto pode remodelar a flora intestinal e beneficiar a saúde cardiovascular
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fev. 8 - 4 min de leitura
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Um grupo de pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Brasília (UnB) e Estadual de Campinas (Unicamp) - em parceria com as universidades de Verona (Itália), de Harvard (Estados Unidos) e do Instituto de Tecnologia Austríaco - descobriu que o consumo moderado de vinho tinto ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota intestinal, cujo papel nas doenças cardiovasculares é cada vez mais reconhecido pela ciência.  

O trabalho, que utilizou metodologia cross over, foi publicado na revista The American Journal of Clinical Nutrition, e envolveu 42 pacientes do sexo masculino com idade média de 60 anos e com doença arterial coronariana conhecida. Cada participante foi submetido a dois tipos de intervenção: durante três semanas, consumiam diariamente 250 mililitros de vinho tinto (com 12,75% de concentração alcoólica e produzido com uva merlot especialmente produzida para o estudo) ou abstinência de bebidas alcoólicas. 

Ambas as intervenções foram precedidas por um período de washout de duas semanas sem consumo de bebidas alcoólicas, prebióticos (incluindo insulina), probióticos, fibras, derivados do leite e alimentos fermentados (iogurte, kombucha, lecitina de soja, kefir e chucrute, por exemplo).  Todos os participantes foram submetidos a uma dieta controlada e sem outros componentes presentes no vinho, como por exemplo polifenóis, que também são encontrados nos chás, em frutas vermelhas e no suco de uva. 

A cada intervenção, a microbiota intestinal foi analisada por sequenciamento de alto rendimento de 16S rRNA, tecnologia que permite a identificação genética de espécies de bactérias pelo gene 16S. Além disso, foram analisados metabólitos presentes no plasma resultantes da metabolização de compostos químicos e alimentos. Isto foi feito por meio da técnica LC-MS/MS, que separa os compostos em um sistema de cromatografia líquida e depois os analisa em um espectrômetro de massas. 

Um dos metabólitos de interesse dos pesquisadores foi o chamado TMAO (N-óxido de trimetilamina), produzido pela microbiota intestinal a partir de alimentos ricos em proteínas e associado ao desenvolvimento de doença ateroesclerótica. Os cientistas observaram então que a microbiota intestinal sofreu remodelação significativa após o período de consumo da bebida – com predominância dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella. Tais clados de microorganismos são reconhecidamente fundamentais na homeostase humana. 

Também foram observadas mudanças significativas em metabólitos plasmáticos consistentes com a melhoria da homeostase de controle do estresse oxidativo. O que fez com que os pesquisadores concluíssem que a modulação da microbiota intestinal pode contribuir para os supostos benefícios cardiovasculares do consumo moderado de vinho tinto. 

Apesar dos benefícios observados, os autores do estudo alertam para o fato de que o consumo excessivo de álcool (mais do que 30 gramas por dia, no caso do vinho 250 ml) é maléfico e está associado a aumentos na mortalidade. Por fim, eles afirmam que os efeitos do consumo de vinho na composição da microbiota intestinal e na produção de metabólitos antioxidantes deve ser mais investigada, pois o prazo de três semanas analisado no presente estudo é muito curto para que sejam tiradas conclusões efetivas. 

Referências: 

Elisa A Haas, Mario J A Saad, Andrey Santos, Nicola Vitulo, Wilson J F Lemos, Jr, Aline M A Martins, Carolina R C Picossi, Desidério Favarato, Renato S Gaspar, Daniéla O Magro, Peter Libby, Francisco R M Laurindo, Protasio L Da Luz, for the WineFlora Study, A red wine intervention does not modify plasma trimethylamine N-oxide but is associated with broad shifts in the plasma metabolome and gut microbiota composition, The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 116, Issue 6, December 2022, Pages 1515–1529. https://doi.org/10.1093/ajcn/nqac286

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