O mundo médico sempre esteve intrigado com a variabilidade da resposta do sistema imunológico humano às infecções e doenças. Por que algumas pessoas envelhecem mais saudáveis do que outras? Por que algumas são mais resistentes a doenças? Para lançar luz sobre essas perguntas, um estudo recentemente publicado em Nature Communications desvendou um aspecto crítico: a Resiliência Imunológica (RI).
A RI descreve nossa capacidade de manter e recuperar rapidamente as funções imunológicas após a exposição a antígenos e reações inflamatórias. Em outras palavras, é a medida da capacidade do nosso sistema imunológico de retornar ao seu estado normal após um estímulo, processo denominado "alostase imune". Indivíduos com ótima RI possuem um sistema imunológico robusto e baixos níveis de inflamação.
O estudo, liderado por Sunil Ahuja, professor de medicina na Universidade do Texas e diretor do Departamento de Assuntos de Veteranos para a Medicina Personalizada, explorou os fatores que influenciam nossa suscetibilidade a doenças e a longevidade, destacando a genética, o ambiente e a resposta ao estresse inflamatório. As descobertas apontam que a capacidade de controlar a inflamação e preservar a imunocompetência estava associada à ausência de sintomas em algumas pessoas e, mais importante, à expectativa de vida.
Contudo, nem todos são capazes de manter essa RI satisfatória. Aqueles com RI insatisfatória possuem um sistema imunológico menos eficaz e inflamação mais elevada, tornando-os mais suscetíveis a doenças e com um risco maior de gravidade dessas doenças e até de morte. O estudo identificou dois fenótipos distintos: pessoas que preservam ou restauram rapidamente a RI satisfatória (fenótipo resistente à erosão da RI) e aquelas que têm dificuldade em fazê-lo (fenótipo suscetível à erosão da RI).
Curiosamente, a pesquisa sugeriu que a RI pode mudar à medida que envelhecemos, apontando que o declínio imunológico que associamos ao envelhecimento pode ser influenciado por mecanismos além da idade. Por exemplo, foi observado que as mulheres podem ser mais capazes de manter uma RI satisfatória, enquanto uma RI insatisfatória pode ser mais comum em homens e idosos.
Essas descobertas, apesar de impressionantes, ainda têm suas limitações, incluindo a falta de uma variedade de resultados clínicos em um único grupo de pessoas e a impossibilidade de avaliar as características imunológicas em amostras de sangue coletadas do mesmo indivíduo em diferentes momentos da vida.
Apesar disso, a pesquisa em RI abre um novo horizonte para a medicina moderna. Com uma melhor compreensão da RI, podemos identificar mais cedo os fatores que levam ao estresse inflamatório e desenvolver estratégias para melhorar a Resiliência Imunológica. Isso pode revolucionar nosso modo de prevenir e tratar doenças, impactando diretamente a saúde e a longevidade das pessoas.
A Resiliência Imunológica é um campo promissor que merece nossa atenção, pois nos ajuda a avaliar a saúde imunológica, independentemente da idade, sexo e outras condições de saúde. Para os médicos é relevante as atualizações e conhecimentos nesta área, pois podem contribuir com insights valiosos para atuação no campo da medicina personalizada.
Este estudo ressalta a importância da medicina de precisão ao abordar a Resiliência Imunológica. Ou seja, em um mundo cada vez mais centrado no indivíduo, a medicina de precisão, pode favorecer condutas terapêuticas e estratégias preventivas adaptados à genética e ao estilo de vida individual e desempenhar um papel crucial na otimização da Resiliência Imunológica.
Ao entender melhor os componentes da resiliência imunológica e como eles se aplicam de maneira única a cada indivíduo, podemos desenvolver terapias mais personalizadas e eficazes. Assim, nós da Academia Médica, incentivamos nossos colegas médicos a aprofundarem seus conhecimentos neste campo emergente. Para mais detalhes sobre o estudo sobre RI acesse o artigo original. E para maior conhecimento sobre a Medicina de Precisão, baixe nosso Ebook gratuito: desvendando a medicina de Precisão: Conceitos fundamentais para médicos especialistas.
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Referências:
- Immune resilience despite inflammatory stress promotes longevity and favorable health outcomes including resistance to infection. Nat Commun 14, 3286 (2023). https://doi.org/10.1038/s41467-023-38238-6
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Scientific American. (2023). Why some people get sick more often. Retrieved July 5, 2023, from https://www.scientificamerican.com/article/why-some-people-get-sick-more-often/?utm_source=Nature+Briefing&utm_campaign=f68d75e941-briefing-dy-20230705&utm_medium=email&utm_term=0_c9dfd39373-f68d75e941-46468098