Pesquisadores do Instituto Holandês de Neurociência acabam de adicionar um capítulo inédito à nossa compreensão do neurotransmissor dopamina. A descoberta, apresentada em uma publicação de maio de 2023 no Journal of Neuroscience, harmoniza duas teorias principais sobre a dopamina. Como Ingo Willuhn, co-autor da pesquisa, coloca: "É provável que a dopamina desempenhe um duplo papel - um sinal para a aprendizagem e uma força motriz para a motivação".
Em uma jornada experimental com ratos machos, os pesquisadores exploraram duas formas conhecidas de condicionamento: pavloviano e operante. Lembra do experimento clássico do cão de Pavlov? Isso exemplifica o condicionamento pavloviano, onde um estímulo antes neutro passa a desencadear uma resposta após estar repetidamente associado a outro estímulo que naturalmente produz essa resposta. Já o condicionamento operante, pensado em termos de recompensa e punição, motiva uma ação específica em resposta a um estímulo - imagine um rato pressionando uma alavanca para receber uma recompensa.
Focalizando a atenção na liberação de dopamina no núcleo accumbens - uma área cerebral crucial para o processamento de informações de recompensa e motivação - os pesquisadores fizeram uma observação fascinante. Em ambos os grupos de condicionamento, a liberação de dopamina era semelhante no início da previsão de recompensa. No entanto, no condicionamento operante, os níveis de dopamina mantiveram-se em um platô sustentado durante todo o sinal preditivo de recompensa. Isso sugere que a dopamina pode ser o elo entre o aprendizado e a ação, atuando como o motor por trás da motivação para buscar uma recompensa.
Esta descoberta tem implicações profundas, especialmente no tratamento de distúrbios onde a dopamina está comprometida, como a dependência química, a doença de Parkinson e a esquizofrenia. Sugerindo que a dopamina pode desempenhar simultaneamente papéis de aprendizado e motivação, este estudo pode abrir portas para novos tratamentos mais eficazes que podem atingir ambos os sistemas.
Considerando o caso de pacientes esquizofrênicos tratados com antipsicóticos clássicos, que podem sofrer de apatia e lentidão devido à redução da motivação, ou de pacientes com Parkinson que começam a exibir comportamentos compulsivos com um sistema de dopamina em superdrive, esta pesquisa traz novas perspectivas.
O próximo passo? Refinar e replicar os experimentos, e aprimorar nossa compreensão das multifuncionalidades da dopamina. Este estudo representa um passo significativo nesta direção, desafiando a noção preexistente de aprendizado e motivação como processos separados. A dopamina, como sugere esta pesquisa, pode atuar em ambas as áreas, oferecendo um caminho promissor para tratamentos personalizados e mais eficazes para distúrbios dopaminérgicos.
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Fonte:
Science Daily. (2023, June 6). New findings on dopamine's role in the brain. ScienceDaily. https://www.sciencedaily.com/releases/2023/06/230606111734.htm