A alarmante e premente crise de saúde mental nas Américas se apresenta com um panorama desolador: mais de 80% dos indivíduos que enfrentam quadros graves de saúde mental não têm acesso a um tratamento apropriado. Nas duas últimas décadas, temos observado uma escalada perturbadora das taxas de suicídio em todos os grupos etários, o que aponta para uma insuficiente disponibilidade de assistência, profundas desigualdades e uma desconsideração crítica em relação a questões de saúde mental, como ansiedade e depressão. A situação foi exacerbada pela pandemia de COVID-19, que aprofundou sentimentos de medo e incerteza, particularmente em relação à morte e ao luto.
Diante desta realidade, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou um relatório intitulado "Uma Nova Agenda para a Saúde Mental na Região das Américas", no qual propõe 10 medidas indispensáveis para abordar esta crise emergente. Segundo o relatório, em 2020, mais de 80% dos indivíduos com transtornos mentais severos, incluindo psicopatologias, não tiveram acesso a tratamento adequado, enfatizando a necessidade de aprimorar os cuidados e ampliar os serviços em saúde mental.
É imprescindível serem resguardados os direitos humanos das pessoas que lidam com problemas de saúde mental, assim como é vital promover a saúde dessas pessoas ao longo de sua vida. A formação de parcerias sólidas com líderes e formuladores de políticas nas Américas é fundamental para enfrentar a crise. A juventude, em particular, que enfrenta instabilidades econômicas e sociais, além do impacto psicológico da pandemia, deve ser um foco prioritário. Neste cenário, o apoio às famílias e comunidades, o combate à discriminação e aos preconceitos associados à saúde mental, e o enfrentamento das questões de uso e abuso de substâncias que contribuem para a desestabilização do ambiente são ações de suma importância.
Fatores como pobreza extrema, falta de oportunidades econômicas e consumo excessivo de álcool - este último responsável por um número expressivo de mortes na região - afetam a saúde mental nas Américas. Apesar disso, apenas 3% do investimento médio dos orçamentos nacionais é destinado à saúde mental, um valor insuficiente para abordar a crise de forma efetiva. O aumento significativo no financiamento, e a alocação de recursos adequados para prevenção, tratamento e pesquisa nesta área, são indispensáveis para oferecer o suporte necessário às pessoas que enfrentam desafios relacionados à saúde mental e para promover uma melhora substancial no cenário.
A crise da saúde mental nas Américas demanda uma resposta imediata. É vital que a saúde mental seja priorizada na agenda nacional, e integrada a todas as políticas de saúde. O relatório da OPAS fornece diretrizes valiosas, traçando um caminho para ações efetivas. É crucial trabalhar em colaboração com líderes políticos, comunidades e profissionais de saúde para superar os desafios e assegurar assistência adequada para todos. Coletivamente, podemos avançar na promoção da saúde mental, proteger os direitos humanos e construir uma sociedade mais saudável e resiliente.
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Fonte:
Organização das Nações Unidas. Pandemia evidencia crise da saúde mental nas Américas. Notícias da ONU. https://news.un.org/pt/story/2023/06/1816007