Dez de outubro é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como Dia Mundial da Saúde Mental. Esse ano, a data tem como tema "Make mental health and wellbeing for all a global priority" (Tornar a saúde mental e o bem-estar uma prioridade global).
Nos últimos anos, a pandemia de Covid-19 fez com que os transtornos mentais aumentassem não apenas na poulação em geral, mas também entre médicos e estudantes de Medicina, que tiveram que conviver com uma série de novos desafios.
Recentemente, durante o 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que aconteceu e Fortaleza (CE), promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a psiquiatra Grasiela Marcon disse que a incidência de depressão, ansiedade, síndrome de burnout e outros problemas ligados à saúde mental é alta e preocupante entre profissionais de saúde. Segundo a médica, as tentativas de suicídio de colegas representam um desafio na profissão.
Pesquisa realizada antes da pandemia com 130 mil estudantes
de Medicina de 47 países revelou prevalência de 11% de manifestações psíquicas
nessa população, sendo que apenas 15,7% dos afetados buscaram atendimento
psiquiátrico. Foi encontrada prevalência de sintomas depressivos de quase 30%.
“A procura por auxílio não é feita pela maioria dos estudantes e isso vale para
os médicos também”, destacou Grasiela.
No Brasil, desde 2017, a Universidade de São Paulo
(USP) registrou seis tentativas de suicídio entre estudantes de Medicina,
tendência que acabou sendo verificada em outras universidades. Um estudo feito
na época encontrou prevalência de depressão de 30% entre os estudantes,
prevalência de ansiedade de quase 33%, baixa qualidade de sono e sonolência
matinal que atingiam quase metade dos alunos.
Em 2019, em tese de mestrado, Grasiela tentou entender quais
eram os estudantes de Medicina com tendência suicida e encontrou prevalência de
quase 9% em uma amostra de cerca de 5 mil estudantes que já tinham tentado
suicídio. Entre os fatores de risco nessa população aparecem homossexualidade,
bissexualidade, baixa renda, traumas na infância ou na fase adulta, bullying na
universidade, história familiar de tentativa de suicídio ou de suicídio
consumado, uso diário de tabaco e consumo excessivo de álcool.
Existem ainda fatores de vulnerabilidade. Entre as dificuldades encontradas estão idade precoce, dependência financeira da família, a própria saída da casa dos pais, distância da família, solidão, diferenças culturais e maior exposição a fatores estressantes, como as demandas acadêmicas.
Grasiela destacou que 90% dos pacientes que tentam suicídio têm
comorbidades psiquiátricas não tratadas ou tratadas de forma incorreta.
Covid-19
No início da pandemia de Covid-19, o isolamento social gerou impacto na saúde mental de todos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 25% dos sintomas depressivos e de ansiedade aumentaram durante a pandemia e no período pós pandemia.
O fato foi agravado pelo próprio adoecimento, pela doença de
familiares e morte de parentes e amigos. De um grupo de 41 estudantes, 37,9%
mostraram prevalência de depressão e 33,7% de ansiedade.
Estudo feito no Brasil apurou que 62% da massa de estudantes
de Medicina estavam em procedimento psíquico, 55% acabaram relatando perda de
interesse, quase 40% sentiram-se inúteis, quase 20% sentiram-se incapazes de
desempenhar um papel útil na vida e 9% demonstraram tendência suicida.
Na população médica, pesquisa efetuada na fase pré-pandemia, na China, em 2020, publicada na revista Lancet, revelou que 46% dos médicos tiveram sintomas de depressão grave; 41%, sinais de ansiedade e 70%, sintomas moderados a graves.
Para prevenir o suicídio tanto entre estudantes quanto
entre profissionais mais velhos, a psiquiatra disse que é preciso identificar
precocemente os sintomas e oferecer assistência em relação a isso.
Entre as motivações encontradas em 200 médicos que se
suicidaram nos Estados Unidos, durante a pandemia, a médica citou a
incapacidade de trabalhar ante a deterioração da saúde, o uso de substâncias
químicas, conflitos de relacionamento, estresse financeiro, questões
trabalhistas e institucionais.
A saída para garantir a saúde mental, conforme Grasiela, é
buscar o equilíbrio, contrabalançando as dificuldades com momentos prazerosos,
de modo que os médicos possam exercer a profissão de forma perfeita, com ética,
mas também com saúde.
Com informações de Agência Brasil.
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