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Farmacogenética na Neonatologia: Como Evitar a Ototoxicidade Induzida por Aminoglicosídeos

Farmacogenética na Neonatologia: Como Evitar a Ototoxicidade Induzida por Aminoglicosídeos
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jul. 17 - 4 min de leitura
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Uma recente publicação no JAMA Pediatrics trouxe uma luz inovadora à farmacogenética na neonatologia, ao revelar o desenvolvimento de um novo teste genético point of care. Este teste é capaz de rastrear uma variante genética que predispõe os neonatos à ototoxicidade induzida por aminoglicosídeos, com o resultado disponível em uma média de apenas 23 minutos. Através dessa informação genética, os médicos podem fazer uma escolha mais precisa do antibiótico, evitando a possibilidade de surdez ou hipoacusia permanente em neonatos com predisposição genética.

Os antibióticos aminoglicosídeos são uma ferramenta poderosa no combate a infecções gram-negativas e têm sido utilizados extensivamente em todo o mundo. São conhecidos pela eficácia e segurança, no entanto, quando administrados em altas doses ou durante longos períodos de tempo, podem levar a nefrotoxicidade e ototoxicidade.

No fim do século XX, ficou evidente que algumas famílias apresentavam uma predisposição à ototoxicidade induzida por aminoglicosídeos (AIO). Nesses casos, até mesmo uma única dose de aminoglicosídeos poderia resultar em perda auditiva profunda e irreversível. Em 1993, pesquisadores conseguiram identificar que essa reação adversa estava ligada a uma variante genômica mitocondrial em MT-RNR1, m.1555A>G.

É nesse contexto que a genotipagem rápida ganha relevância clínica. A identificação rápida da variante m.1555A>G pode fazer a diferença entre a audição normal e a perda auditiva permanente para um neonato. A tecnologia desenvolvida, uma plataforma de genotipagem rápida para a variante m.1555A>G, foi avaliada em um estudo de implementação prospectivo em unidades de terapia intensiva neonatal (NICUs).

Os pesquisadores conseguiram recrutar um total de 751 neonatos para o estudo, a maioria dos quais (713 [94,9%]) foi recrutada em um único centro devido a uma pausa no recrutamento causada pelo surto de SARS-CoV-2 no segundo centro. Desses neonatos, 526 (70%) receberam antibióticos como parte de seu cuidado. O estudo teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Serviço Nacional de Saúde (IRAS 253102) e da Autoridade de Pesquisa Humana.

Através deste estudo, os pesquisadores demonstraram que a genotipagem rápida pode ser implementada no ambiente agudo sem interromper os padrões existentes de cuidados. Baseando-se na frequência populacional da variante m.1555A>G e na utilização mundial de aminoglicosídeos em mais de 7 milhões de neonatos por ano, a adoção de um teste point of care para MT-RNR1 poderia potencialmente evitar milhares de casos de AIO anualmente. Isso é especialmente relevante em países de baixa e média renda, onde os aminoglicosídeos são comumente prescritos.

Esta pesquisa ilustra o poder e o potencial da farmacogenética, uma área emergente da medicina que promete revolucionar a forma como abordamos o tratamento em pediatria. Ao utilizar conhecimento genético individual para orientar a prescrição de medicamentos, podemos melhorar a eficácia do tratamento e minimizar os efeitos colaterais. É um exemplo vívido de medicina de precisão em ação, algo que é fundamental para uma boa tomada de decisão clínica em pediatria.

Para saber mais sobre medicina de precisão, confira nosso curso sobre o assunto na Academia Médica. Este é um campo que está constantemente evoluindo, e é fundamental estar atualizado para oferecer o melhor atendimento possível aos nossos pacientes.



Leia também: 


Referência: 

McDermott JH, Mahaveer A, James RA, et al. Rapid Point-of-Care Genotyping to Avoid Aminoglycoside-Induced Ototoxicity in Neonatal Intensive Care. JAMA Pediatr. 2022;176(5):486–492. doi:10.1001/jamapediatrics.2022.0187



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