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Saúde Planetária: intoxicação por mercúrio (Hg). Tudo o que você precisa saber

Saúde Planetária: intoxicação por mercúrio (Hg). Tudo o que você precisa saber
Lilian Galligani
jan. 30 - 7 min de leitura
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Na semana da segunda quinzena de janeiro de 2023, as mídias deram atenção à emergência humanitária em vigência na Tribo Yanomami, que habita o Brasil, estando presente nos estados de Roraima e Amazonas, no Norte.

Entre os males que assolam a tribo - além da vulnerabilidade alimentar extrema e da malária - foi dado destaque à contaminação por mercúrio. Com isso, hoje trago um panorama global transdisciplinar sobre o que é preciso saber sobre esse metal nos aspectos, químico, histórico, legal e de saúde.

1. Química

O mercúrio é o elemento periódico de número 80 e tem como símbolo Hg, derivado da palavra grega "hydragyun", que significa “prata líquida”. Ele tem o mesmo nome de um planeta do sistema solar e de um deus grego, sendo conhecido e utilizado desde os tempos da Grécia Antiga.

Obtido de um mineral chamado Cinábrio (sulfeto de mercúrio), é o único metal líquido à temperatura ambiente (Ponto de Fusão = -38,8 ºC e Ponto de Ebulição = 356,7 ºC).

As doença causadas por contaminação por mercúrio são o hidrargirismo e a síndrome neurológica conhecida como Mal de Minamata.

1.1. Tipos de mercúrio

-Metálico

-Inorgânico

-Orgânico (Metilmercúrio)

O mercúrio ocorre naturalmente e existe em várias formas: elementar (ou metálico), inorgânico (por exemplo, cloreto de mercúrio) e orgânico (por exemplo, metilmercúrio e etilmercúrio). Todas estas formas possuem diferentes toxicidades, com diferentes implicações para a saúde e para as medidas de prevenção da exposição.

O mercúrio elementar é um líquido que vaporiza rapidamente e que pode permanecer até um ano na atmosfera, através da qual pode ser transportado e depositado globalmente. Acaba por se depositar nos sedimentos dos lagos, rios ou baías, onde é transformado em metilmercúrio  por bactérias sulfato-redutoras, absorvido pelo fitoplâncton e ingerido pelo zooplâncton e por peixes até chegar ao ser humano em uma acumulação de toxidade trófica onde a excreção é lenta.

2. Aplicações

Dentre as aplicações do mercúrio, temos: pilhas e baterias, equipamentos eletroeletrônicos, lâmpadas fluorescentes, termômetros, esfigmomanômetros, barômetros, termostatos, pigmentos, uso odontológico/amálgamas dentários, mineração artesanal de ouro, cosméticos, medicina, produção de cloro e soda cáustica, interruptores de mercúrio, produção de acetaldeído, produção do monômero de cloreto de vinila e produção de poliuretano.

3. História

A contaminação por mercúrio a uma grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo infelizmente não é novidade. Na primeira metade do século passado, no Japão, habitantes da cidade de Minamata apresentaram sintomas como fortes convulsões, surtos de psicose, perda de consciência e febre. As vítimas haviam consumido peixes pescados na Baía de Minamata, onde uma empresa de produção de PVC, que usava mercúrio na fabricação, descartava os resíduos do processo.

Em 1956, a origem da doença de Minamata foi esclarecida. Cerca de 5 mil pessoas foram atingidas. Além das vítimas que ficaram com sequelas graves, estima-se que o número de mortos tenha chegado a novecentas pessoas. Minamata ficou conhecido como um dos maiores desastres ambientais do planeta.

4. Garimpo

O Brasil não produz mercúrio. Logo, é necessário importar. Segundo a WWF, é criado empresas fantasmas que alegam, por exemplo, serem de produtos odontológicos e químicos para a obtenção de mercúrio, mas no final a destinação é para o garimpo ilegal.

Os garimpeiros realizam levigação (separação sólido-sólido quando é possível arrastar, com auxílio de um líquido, as partículas de um dos constituintes), utilizando uma bateia e colocando-a no leito do rio com água, cascalho e ouro. Ao agitar a bateia por densidade, o cascalho e a areia são arrastados para fora. Para obtenção mais rápida e precisa do ouro, que se encontra disperso, adiciona-se mercúrio para promover aglutinação  formando a amalgama com grande densidade.

Nessa fase, a bateia com mercúrio contamina as águas, transformando-se em metilmercúrio e sendo consumido por fitoplânctons, zooplânctons, peixes e frutos do mar.

Posteriormente, ao separar o ouro e o mercúrio, os mesmos são aquecidos. Assim o mercúrio vai para a fase gasosa, sendo lançado na atmosfera.

5. Diagnóstico

Sintomas por Intoxicação aguda:

  • dor intensa

  • vômitos (podem ser até sanguinolentos)

  • sangramento nas gengivas

  • sabor metálico na boca

  • ardência no aparelho digestivo

  • diarréia grave ou sanguinolenta

  • inflamação na boca (estomatite)

  • queda dos dentes e ou dentes frouxos

  • glossite

  • tumefação da mucosa da gengiva

  • nefrose nos rins

  • problemas hepáticos graves

  • aspecto cinza escuro na boca e faringe

  • pode causar até morte rápida (1 ou 2 dias)

6. Sintomas sindrômicos:

  • transtornos nervosos

  • transtornos digestivos

  • caquexia

  • estomatite

  • salivação

  • mau hálito

  • inapetência

  • anemia

  • hipertensão

  • afrouxamento dos dentes

  • problemas no sistema nervoso central

  • transtornos renais leves

  • possibilidade de alteração cromossômica

Clínico - Leva em conta o histórico de exposição ao mercúrio e sua relação com as manifestações clínicas do paciente.

Laboratorial - Evidenciado por exames laboratoriais. Sangue, urina e mineralograma.

A observação do fio de cabelo mostra a quantidade de minerais presentes por um período maior de tempo. O sangue permite o diagnóstico do estado do paciente no presente. O diagnóstico por meio da urina serve para verificar, durante o tratamento, se as substâncias tóxicas em excesso estão sendo liberadas do organismo e, consequentemente, se o tratamento está dando resultado.

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REFERENCIAS




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