Na semana da segunda quinzena de janeiro de 2023, as mídias deram atenção à emergência humanitária em vigência na Tribo Yanomami, que habita o Brasil, estando presente nos estados de Roraima e Amazonas, no Norte.
Entre os males que assolam a tribo - além da vulnerabilidade alimentar extrema e da malária - foi dado destaque à contaminação por mercúrio. Com isso, hoje trago um panorama global transdisciplinar sobre o que é preciso saber sobre esse metal nos aspectos, químico, histórico, legal e de saúde.
1. Química
O mercúrio é o elemento periódico de número 80 e tem como símbolo Hg, derivado da palavra grega "hydragyun", que significa “prata líquida”. Ele tem o mesmo nome de um planeta do sistema solar e de um deus grego, sendo conhecido e utilizado desde os tempos da Grécia Antiga.
Obtido de um mineral chamado Cinábrio (sulfeto de mercúrio), é o único metal líquido à temperatura ambiente (Ponto de Fusão = -38,8 ºC e Ponto de Ebulição = 356,7 ºC).
As doença causadas por contaminação por mercúrio são o hidrargirismo e a síndrome neurológica conhecida como Mal de Minamata.
1.1. Tipos de mercúrio
-Metálico
-Inorgânico
-Orgânico (Metilmercúrio)
O mercúrio ocorre naturalmente e existe em várias formas: elementar (ou metálico), inorgânico (por exemplo, cloreto de mercúrio) e orgânico (por exemplo, metilmercúrio e etilmercúrio). Todas estas formas possuem diferentes toxicidades, com diferentes implicações para a saúde e para as medidas de prevenção da exposição.
O mercúrio elementar é um líquido que vaporiza rapidamente e que pode permanecer até um ano na atmosfera, através da qual pode ser transportado e depositado globalmente. Acaba por se depositar nos sedimentos dos lagos, rios ou baías, onde é transformado em metilmercúrio por bactérias sulfato-redutoras, absorvido pelo fitoplâncton e ingerido pelo zooplâncton e por peixes até chegar ao ser humano em uma acumulação de toxidade trófica onde a excreção é lenta.
2. Aplicações
Dentre as aplicações do mercúrio, temos: pilhas e baterias, equipamentos eletroeletrônicos, lâmpadas fluorescentes, termômetros, esfigmomanômetros, barômetros, termostatos, pigmentos, uso odontológico/amálgamas dentários, mineração artesanal de ouro, cosméticos, medicina, produção de cloro e soda cáustica, interruptores de mercúrio, produção de acetaldeído, produção do monômero de cloreto de vinila e produção de poliuretano.
3. História
A contaminação por mercúrio a uma grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo infelizmente não é novidade. Na primeira metade do século passado, no Japão, habitantes da cidade de Minamata apresentaram sintomas como fortes convulsões, surtos de psicose, perda de consciência e febre. As vítimas haviam consumido peixes pescados na Baía de Minamata, onde uma empresa de produção de PVC, que usava mercúrio na fabricação, descartava os resíduos do processo.
Em 1956, a origem da doença de Minamata foi esclarecida. Cerca de 5 mil pessoas foram atingidas. Além das vítimas que ficaram com sequelas graves, estima-se que o número de mortos tenha chegado a novecentas pessoas. Minamata ficou conhecido como um dos maiores desastres ambientais do planeta.
4. Garimpo
O Brasil não produz mercúrio. Logo, é necessário importar. Segundo a WWF, é criado empresas fantasmas que alegam, por exemplo, serem de produtos odontológicos e químicos para a obtenção de mercúrio, mas no final a destinação é para o garimpo ilegal.
Os garimpeiros realizam levigação (separação sólido-sólido quando é possível arrastar, com auxílio de um líquido, as partículas de um dos constituintes), utilizando uma bateia e colocando-a no leito do rio com água, cascalho e ouro. Ao agitar a bateia por densidade, o cascalho e a areia são arrastados para fora. Para obtenção mais rápida e precisa do ouro, que se encontra disperso, adiciona-se mercúrio para promover aglutinação formando a amalgama com grande densidade.
Nessa fase, a bateia com mercúrio contamina as águas, transformando-se em metilmercúrio e sendo consumido por fitoplânctons, zooplânctons, peixes e frutos do mar.
Posteriormente, ao separar o ouro e o mercúrio, os mesmos são aquecidos. Assim o mercúrio vai para a fase gasosa, sendo lançado na atmosfera.
5. Diagnóstico
Sintomas por Intoxicação aguda:
dor intensa
vômitos (podem ser até sanguinolentos)
sangramento nas gengivas
sabor metálico na boca
ardência no aparelho digestivo
diarréia grave ou sanguinolenta
inflamação na boca (estomatite)
queda dos dentes e ou dentes frouxos
glossite
tumefação da mucosa da gengiva
nefrose nos rins
problemas hepáticos graves
aspecto cinza escuro na boca e faringe
pode causar até morte rápida (1 ou 2 dias)
6. Sintomas sindrômicos:
transtornos nervosos
transtornos digestivos
caquexia
estomatite
salivação
mau hálito
inapetência
anemia
hipertensão
afrouxamento dos dentes
problemas no sistema nervoso central
transtornos renais leves
possibilidade de alteração cromossômica
Clínico - Leva em conta o histórico de exposição ao mercúrio e sua relação com as manifestações clínicas do paciente.
Laboratorial - Evidenciado por exames laboratoriais. Sangue, urina e mineralograma.
A observação do fio de cabelo mostra a quantidade de minerais presentes por um período maior de tempo. O sangue permite o diagnóstico do estado do paciente no presente. O diagnóstico por meio da urina serve para verificar, durante o tratamento, se as substâncias tóxicas em excesso estão sendo liberadas do organismo e, consequentemente, se o tratamento está dando resultado.
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REFERENCIAS
- BBC NEWS BRASIL, “A pior situação humanitária que já vi': os relatos de médico que foi atender os yanomami” disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64365655 Acessado em 24/01/2023.
- CRQ-IV, “Mercúrio”, disponível em: https://www.crq4.org.br/tp150_mercurio . Acessado em 24/01/2023.
- WWF, “Convenção de Minamata sobre Mercúrio: e desafios para implantar”, disponível em: https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/politicaspublicas/convencao_minata/ , Acessado em 26/01/2023.
- CAFÉ COM QUÍMICA – Profº Michel, “ Mercúrio - Utilidades e riscos de um elemento fascinante” , disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VmvXIGsEPfM , Acessado em 26/01/2023.
- QUÍMICA COVRE, “Separações de Misturas” – Editora FTD SA. São Paulo. Volume 1, página 47.
- ELISA, ANALISES CLÍNICAS “ Mineralograma: o exame que detecta intoxicação por metais pesados” , disponível em: https://www.elisamaisvida.com.br/blog/mineralograma-o-exame-que-detecta-intoxicacao-por-metais-pesados , Acessado em 26/01/2023.
- AREASEG, “Mercúrio”, disponível em: https://www.areaseg.com/toxicos/mercurio.html , Acessado em 26/01/2023.