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Isso não é o que fazemos, mas fazemos pelas pessoas. Um relato!

Isso não é o que fazemos, mas fazemos pelas pessoas. Um relato!
Anna Carolina Flumignan Bucharles
jul. 21 - 5 min de leitura
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Perante uma nova realidade enfrentada pela sociedade durante a pandemia do COVID-19, especialmente por conta das medidas de distanciamento social, foi indispensável a adaptação dos métodos tradicionais de interação social. Nessa nova realidade, as redes sociais foram extremamente usadas como meio de comunicação entre as pessoas. Tendo em vista a disseminação rápida de informação, especialmente internacionalmente, passei a utilizar o Twitter para me manter atualizada, e nessa rede eu tive acesso a um vídeo que teve um grande impacto e que me permitiu avaliar diferentes aspectos profissionais do meu futuro como médica.  

Nessa rede social, pude acompanhar o dia a dia dos médicos internacionais que estavam na linha de frente dando o máximo para ajudar as pessoas que contraíam o COVID-19 e chegavam a estados críticos de saúde, se expondo e trabalhando com um alto volume de pacientes. Eles desempenhavam um papel muito importante para o tratamento desses pacientes, assumindo riscos pessoais. Por meio do Twitter, pude ver que a situação era de uma escala internacional crítica, que médicos ao redor do mundo, bem como outros profissionais de saúde (como enfermeiros) estavam passando por diversos problemas semelhantes aos profissionais brasileiros, como a grande quantidade de óbitos pela falta de leitos e aparelhos para oxigenação, por exemplos, retratando de fato uma pandemia.

Durante o meu uso dessa rede social, me deparei com um vídeo chamado “Emergency Room Diary” (“Diário de uma sala de emergência”), uma animação que foi feita retratando um dia real da luta de um médico que trabalhava na linha de frente da COVID-19 nos EUA. Esse vídeo se inicia com uma família que está se despedindo de seu familiar via videochamada enquanto o médico acompanha a morte desse paciente ao seu lado e tem uma chamada clara, na qual diz: “This isn’t what we do” (“Isso não é o que fazemos”).

Essa frase teve um impacto muito grande de imediato em minha vida, visto que eu estava finalizando meu primeiro ano do curso de Medicina e me fez refletir sobre o futuro da minha profissão, sobre o que eu quero fazer como médica, sobre meu impacto com os pacientes e suas famílias. Sei que passar por uma pandemia, arriscar a própria vida e de suas famílias, não era o objetivo dos profissionais de saúde quando estudavam para suas profissões, certamente nunca imaginariam se encontrar numa situação como essa, em uma pandemia com milhões de mortes, vendo pessoas lutando por suas vidas, lutando pela vida de seus entes, e muitas vezes não sendo possível salvá-los.

Durante meses, mais de um ano depois, ainda tenho essa frase em minha mente, pois para mim ela representa a luta diária de todos os profissionais de saúde que atuaram durante a pandemia. Eles estavam com as mãos atadas. Eles não puderam salvar vidas por falta de infraestrutura, falta de equipamentos e por falta de profissionais, pois médicos também ficavam doentes, médicos também tinham fatores de risco, médicos também morreram de COVID-19. Isso não é o que médicos fazem, quando nos tornamos médicos, nunca imaginamos que estaríamos numa situação em que estaríamos tão impotentes em relação à saúde dos pacientes. Quando nos tornamos médicos, queremos ajudar o máximo possível de pessoas e da melhor forma possível. E é esse tipo de médica que eu quero me tornar.

Hoje, meu pensamento sobre esse vídeo é que eu atuaria na linha de frente, eu lutaria para salvar as pessoas, assim como milhares de médicos fizeram e ainda fazem. Sei que não é uma realidade que foi imaginada, não é uma realidade que ninguém esperava ou queria, porém é uma realidade que precisa ser enfrentada e que não pode passar sem os profissionais de saúde que estão dispostos a lutar por isso. Não é uma realidade que eu gostaria de passar como médica, mas eu iria. Não é atuar de forma impotente, vendo milhares de pessoas morrerem e estarem com as mãos atadas, não é o que médicos fazem, que imaginaram seus futuros, porém é uma realidade que estaria disposta a lutar, a enfrentar. Não é o que fazemos, não é o que nos formamos pensando em fazer, mas fazemos, pelo bem das pessoas, pelo bem do mundo. Não é o que fazemos, mas fazemos pelas pessoas. 

Referências

Johnson SB, Butcher F. Doctors during the COVID-19 pandemic: what are their duties and what is owed to them? J Med Ethics. 2021 Jan;47(1):12-15. doi: 10.1136/medethics-2020-106266. Epub 2020 Oct 15. PMID: 33060186; PMCID: PMC7565272.

Vídeo: https://twitter.com/Craig_A_Spencer/status/1333107226517630979?s=20&t=oy9nzuhNuRDLD3nCFK4HGw

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