*Observação: O texto abaixo foi escrito no ano de 2019.
Após um longo tempo no limbo devido à residência médica que consome tempo e energia, resolvi escrever um novo texto aqui na Academia Médica. Desta vez irei remeter ao ano de 2015, especificamente à minha primeira publicação no site: O Médico Militar de Carreira.
Passados 4 anos, muita coisa mudou no mundo da Medicina, principalmente no número de formandos e faculdades. E isso teve uma influência profunda na concorrência à carreira militar, tanto no Exército, Marinha ou Aeronáutica. Divulgarei números oficiais publicados no site do CFM.
O sistema capitalista nunca perdoa. A velha lei da oferta e procura nunca falha. Vemos isso na prática atualmente. A velha política de criação de faculdades de Medicina visando teoricamente a preencher os grandes vazios demográficos de médicos no Brasil é uma falácia já conhecida de todos nós. Tudo isso está causando um impacto, tanto na qualidade da Medicina oferecida aos pacientes, quanto no modo de vida deste profissional cada vez mais desvalorizado. Vários fatos relatados de colegas que não conseguem mais achar emprego, plantões sendo oferecidos a preço de “banana”; infelizmente parece um caminho sem volta.
Assistimos atônitos a invasão da Medicina por outras profissões, sem uma reação à altura de nosso Conselho que, para nos punir, logicamente dependendo do processo, não mede esforços. Muitos colegas visando escapar de todo esse caos que está ocorrendo, recorrem aos concursos públicos para se manter estáveis, tanto financeiramente como profissionalmente.
O ponto fundamental deste texto chegou então, meus caros. De acordo com a Demografia Médica de 2018, publicada pelo CFM, no período de 1920 a 2017 o número de registros médicos saltou de 14.031 para 451.777, ou seja, a população médica cresceu aproximadamente 3,7 vezes a mais que a Brasileira, proporcionalmente. Em 2016 tivemos 18.753 egressos do curso de Medicina no Brasil. A perspectiva em 2024 será de 28 mil.
O MEC infelizmente não está cumprindo sua promessa de frear a abertura de novas faculdades, mesmo em locais de estrutura pífia, agradando logicamente os políticos locais, inflando de maneira progressivamente geométrica um mercado já concorrido.
Infelizmente não tenho valores em relação à concorrência no concurso de admissão às escolas de formação de oficiais médicos, porém através de relatos fidedignos de colegas já militares de carreira das três Forças, em relação ao ano de 2015, houve um aumento exponencial da concorrência nestes concursos, os quais eram de certa forma “marginalizados", com a grande oferta e remuneração elevada do meio civil em relação ao meio militar.
Estou observando recentemente uma inversão de tais valores. Mas cuidado com algumas armadilhas. Como disse no meu primeiro texto, não são todos que se adaptam à vida militar. Contudo, para várias pessoas, que de certa forma estão passando apuros no meio civil, creio que seja uma alternativa viável para própria subsistência.
Nos últimos anos venho identificando também um evento que nunca pensei que iria ocorrer: toda sexta-feira é publicado o Boletim do Exército, um documento relativo às várias alterações que ocorrem na semana no âmbito da Força, como por exemplo designação de cursos, premiação de militares com determinadas medalhas, missões a serem realizadas no exterior e assim por diante.
Um item que me chamou a atenção recentemente foi o número de pedidos de demissão do serviço ativo de médicos de carreira. Houve um decréscimo importante em tais pedidos; atualmente me atrevo a dizer que são quase inexistentes, sendo superados pelos engenheiros militares formados no IME (Instituto Militar de Engenharia).
Reflexo da instabilidade criada na carreira médica no meio civil pelos fatos já expostos acima. Outro fator de “atração” na maior manutenção de médicos de carreira nas Forças é o PL 1645/2019 a qual reestrutura a carreira dos militares, com vários benefícios a longo prazo, como aumento de adicionais como os de especialização e de disponibilidade.
Mesmo com o aumento do desconto das pensões militares em nossos holerites que passará de 7,5 % para 10,5% e aumento do tempo de serviço de 30 para 35 anos (reforma da Previdência dos militares), o saldo final no soldo (salário) será positivo, ou seja, haverá aumento a médio e longo prazo. Para maiores informações deste PL (projeto de Lei), clique aqui e confira a explicação detalhadamente. Ao que tudo indica será aprovada com folga no Senado e sancionada pelo Presidente da República.
Concluindo, vejo como alternativa plausível a carreira militar de médico nas Forças Armadas, tendo-se o cuidado de não se frustrar com as várias atividades não-médicas que o profissional terá que enfrentar. Mas para quem tem vocação e para quem se adapta a este modo de vida, atualmente é uma boa forma de sobreviver sem ter se submeter a plantões excessivos ou sem aproveitar de maneira adequada e sensata os familiares. Lembrem-se: pensar somente em dinheiro pode lhe levar à ruína, tanto profissional, familiar e mental. Pensem nisso! Até a próxima.