Milhões de pessoas em todo o mundo estão expostas a impactos repetidos na cabeça (IRCs) por meio da participação em esportes de contato, serviço militar, violência física e outras atividades. Estes impactos podem resultar em concussões e lesões não concussivas.
A exposição contínua a impactos repetidos na cabeça (IRCs) pode levar a sintomas cognitivos e neuropsiquiátricos duradouros, culminando em uma doença neurodegenerativa chamada encefalopatia traumática crônica (CTE). A CTE é neuropatologicamente caracterizada por agregados da proteína tau hiperfosforilada circundando os vasos sanguíneos no córtex cerebral. Clinicamente, os sintomas da CTE são categorizados como síndrome da encefalopatia traumática (TES), que engloba disfunção cognitiva, problemas executivos e desregulação neurocomportamental.
Um estudo publicado em JAMA Neurology em 28 de agosto de 2023, se concentrou em jovens atletas do banco de cérebros Understanding Neurologic Injury and Traumatic Encephalopathy (UNITE). De 152 doadores cerebrais com menos de 30 anos expostos a IRCs, 63 (41,4%) tinham evidência de CTE. Além dos atletas profissionais, 45 (71,4%) dos atletas diagnosticados com CTE jogaram apenas até o nível de ensino médio ou universitário.
✔ Os principais resultados desse estudo foram:
- A maioria dos doadores eram homens (92,8%).
- 41,4% dos doadores foram diagnosticados com encefalopatia traumática crônica (CTE).
- Dos que tinham CTE, 95,2% tinham CTE leve.
- A maioria dos doadores com CTE jogou futebol americano, e o risco era mais alto entre os que jogaram em níveis profissionais.
- CTE também foi identificado em jogadores de hóquei no gelo (37,5%), jogadores de futebol (17,4%), lutadores (22,2%) e jogadores de rugby (50%).
- Dos jogadores de futebol, a duração da carreira estava associada ao status de CTE.
- 11 doadoras eram mulheres. Apenas uma foi diagnosticada com CTE.
- A pesquisa identificou vários recursos neuropatológicos associados ao CTE, como cavum septum pellucidum, ampliação dos chifres frontais dos ventrículos laterais e entalhe tálamo. Em termos microscópicos, foram identificadas lesões patognomônicas de CTE.
- Os jogadores de futebol mostraram uma relação entre anos de jogo e status de CTE, bem como macrofágicos perivasculares no tecido branco frontal.
- Em termos clínicos, não houve diferenças significativas nos sintomas entre doadores com e sem CTE. Muitos apresentaram sintomas de disfunção neurocomportamental, apatia e depressão.
- O abuso de substâncias foi comum, com 28,6% buscando tratamento para abuso de substâncias durante a vida. Não houve diferenças no uso de substâncias com base no status de CTE.
Importante notar que nem todos os indivíduos expostos a IRCs desenvolverão CTE. A pesquisa destaca a necessidade de melhor caracterização clínica de atletas vivos que foram expostos a IRCs e de acompanhamento de indivíduos sintomáticos. O fato de que não houve diferenças significativas nos sintomas clínicos entre aqueles com e sem CTE pode ser atribuído ao viés de seleção. Também sugere que os sintomas não são específicos para a CTE em estágio inicial.
O estudo apresentou algumas limitações, incluindo viés de seleção e falta de grupos de comparação. Em conclusão, a CTE pode afetar tanto atletas profissionais quanto amadores. As causas dos sintomas, relatados por informantes, são provavelmente multifatoriais. Mais estudos são necessários para esclarecer a associação entre IRCs e o desenvolvimento de sintomas neuropsiquiátricos e neuropatologias em jovens.
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Referência:
McKee AC, Mez J, Abdolmohammadi B, et al. Neuropathologic and Clinical Findings in Young Contact Sport Athletes Exposed to Repetitive Head Impacts. JAMA Neurol. Published online August 28, 2023. doi:10.1001/jamaneurol.2023.2907