Quando vemos vídeos de astronautas assim que chegam de uma viagem ao espaço, percebemos que, muitas vezes, eles mal conseguem caminhar. Isso se deve ao fato de que um voo espacial no tecido esquelético pode ter impacto profundamente prejudicial. A diminuição da carga mecânica em microgravidade causa perda substancial de densidade mineral óssea (DMO) e resistência e deterioração da microarquitetura trabecular dos ossos, além do impacto no preparo muscular destes indivíduos.
Estudos bioquímicos de remodelação óssea destacam o metabolismo ósseo alterado durante o voo espacial, de modo que os biomarcadores de reabsorção óssea aumentam durante o voo espacial, enquanto os biomarcadores de formação óssea se retardam, resultando em perda óssea líquida.
Neste sentido, uma pesquisa publicada na revista Scientific Reports buscou avaliar a recuperação da microarquitetura óssea, densidade e força após voos espaciais de longa duração, por meio do exame de tomografia computadorizada quantitativa periférica de alta resolução (HR-pQCT), que tem a maior resolução de imagem in vivo atualmente disponível.
Os participantes do estudo incluíram quatorze astronautas do sexo masculino e três do sexo feminino com idade média (SD) no lançamento de 46,9 anos, altura de 177,7 cm e massa corporal de 79,1 kg. As missões variaram de 4 a 7 meses de duração (média de 170 dias), com oito astronautas em missões com mais de 6 meses de duração (média de 6,5) e nove astronautas em missões com menos de 6 meses de duração (média de 4,9). A missão estudada foi o primeiro voo de longa duração (> 3 meses) para 14 astronautas.
Os pesquisadores fizeram imagens da tíbia e do rádio antes do voo espacial, no retorno à Terra e após 6 e 12 meses de recuperação, e avaliaram biomarcadores de renovação óssea. Eles observaram que, após um ano de missão espacial, 9 dos 17 astronautas não recuperaram sua densidade mineral óssea média, apresentando uma queda de 0,9 a 2,1% nesta. Além disso, foram identificados maiores níveis de marcadores relacionados à remodelação óssea nesses indivíduos. Quanto mais longa a viagem, pior esse efeito, de forma que aqueles que passaram mais que 6 meses no espaço apresentaram uma perda de 3,9% em sua densidade óssea após um ano.
Por fim, os autores concluem que os achados do estudo sugerem recuperação incompleta da resistência óssea, densidade e microarquitetura trabecular em 6 meses de viagem espacial proporcional a 10 anos ou mais de perda óssea terrestre relacionada à idade.
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Referências:
Gabel, L., Liphardt, AM., Hulme, P.A. et al. Incomplete recovery of bone strength and trabecular microarchitecture at the distal tibia 1 year after return from long duration spaceflight. Sci Rep 12, 9446 (2022). https://doi.org/10.1038/s41598-022-13461-1 Disponível em https://www.nature.com/articles/s41598-022-13461-1?utm_source=substack&utm_medium=email