Texto por Homero Palma: "O que os butaneses têm a nos ensinar sobre a felicidade?"
Em minha prática clínica, atuo nos atendimentos domiciliares, principalmente com pacientes que necessitam de cuidados paliativos. Esta é uma modalidade que envolve a atenção à saúde para pacientes com doenças progressivas, fora de possibilidade de cura e que ameaçam a vida.
Muitas vezes confundimos isso com o “não tem mais nada para fazer”, e esse é um grande engano. Temos sempre MUITO o que fazer como profissionais da saúde, em busca da promoção de um cuidado verdadeiro, buscando auxiliar o paciente e seus familiares a encontrarem um equilíbrio entre o sofrimento com a doença e sua qualidade de vida.
Alguns desses doentes encontram-se no final de sua vida, e esse é um momento de muita reflexão aos envolvidos, principalmente por vivermos em uma cultura em que a morte não costuma ser falada ou pensada, até para não atrair (vai que acontece). O que esquecemos de pensar e refletir é que todos nós iremos morrer em algum momento, cada um de uma forma. Uns de forma súbita e outros de forma mais lenta. Algumas pessoas dentro do tempo esperado (envelhecem, adoecem e morrem), outras de forma inesperada. Quando e como será a nossa vez? Essa é uma dúvida que seguirá incerta para todos!
Em 2015 a BBC News do Brasil publicou uma reportagem com o seguinte título: O sombrio segredo para a felicidade no Butão. Fiquei curioso em conhecer o conteúdo do texto, principalmente pelo título. Que segredo seria esse? Comecei a ler o texto e me surpreendi com algumas informações: o Butão é um país muito pequeno no sul da Ásia, com menos de 1 milhão de habitantes; está entre as nações mais pobres do mundo (segundo a ONU); seu salário mínimo gira em torno de US$ 100 e, para o meu espanto: é considerado um dos países mais felizes do mundo. Mas como?
Aprendi que no Butão, cerca de 2/3 dos cidadãos são adeptos ao budismo, sendo que praticam uma corrente da religião que tem como base uma atividade nada convencional: eles pensam na morte durante 5 minutos, 5 vezes ao dia. Essa ação os fazem lembrar que todos são vulneráveis diante do caminho desconhecido da morte, como mencionado no início do texto. Sendo assim, imaginam que aquele poderia ser o último dia de suas vidas e, por este fato, importantes valores são externados, tais como a empatia, a compaixão, a amizade e o amor... Eis o segredo da felicidade do Butão!
O que estamos esperando para refletir um pouco sobre a morte? Isso ainda te parece mórbido?
Deixe sua opinião nos comentários abaixo para expandirmos esse importante debate sobre a vida, a felicidade e a morte.
Artigos Relacionados
- Não usem o clichê "Sinto muito, infelizmente o paciente foi a óbito”
- Sejam felizes - carta aos colegas médicos