Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), em um artigo publicado no priódico Psychological Medicine, concluiu que a presença de citocinas no sangue pode potencializar os efeitos do uso diário de maconha e, assim, aumentar o risco de desenvolvimento de psicose em adultos.
Resultado semelhante foi observado também quando o consumo da droga ocorreu durante a adolescência, não necessariamente de forma diária.
A psicose envolve sintomas como delírios, perda do senso de realidade e alucinações, além de alterações cognitivas e prejuízos sociais. De acordo com os autores, trata-se da “primeira evidência clínica de que a desregulação imunológica modifica a associação maconha-psicose”. A doença tem vários fatores de risco, como predisposição genética e problemas durante a gestação, mas também ambientais, entre eles experiências traumáticas na infância e adolescência e exposição a substâncias psicoativas, principalmente a maconha.
E sabe-se que o THC é o princípio ativo responsável pelos efeitos psicoativos da maconha.
A pesquisa contou com dados de 409 pessoas, compreendendo pacientes em primeiro episódio psicótico e controles, com idade entre 16 e 64 anos. Foram analisadas variáveis como o padrão de consumo de maconha (diário, não diário ou nunca usou), o tempo de uso (maior ou menor do que cinco anos) e se começou o uso na adolescência ou após.
Foram também feitas medições de diversas citocinas plasmáticas dos voluntários, utilizadas para representar o perfil inflamatório sistêmico dos participantes. Ademais, foram coletados dados clínicos e sociodemográficos, especialmente os conhecidos como variáveis de confusão (idade, sexo, escolaridade, etnia, índice de massa corpórea, consumo de tabaco e de outras substâncias psicoativas). Os resultados obtidos foram independentes das variáveis de confusão.
Os autores encontraram diferenças estatísticas significativas entre o perfil inflamatório dos participantes e o consumo diário ou na adolescência da droga em relação aos pacientes que não utilizavam-na.
Em síntese, os resultados indicam que disfunções no sistema imunológico podem modificar a associação entre consumo de maconha e desenvolvimento de psicose, de modo que a combinação dos dois fatores aumenta as chances de surgimento do transtorno.
O uso diário da droga e a idade de início antes dos 17 anos interagiram significativamente com o escore inflamatório para aumentar as chances de psicose além de seus efeitos individuais e foram associados à psicose apenas entre aqueles com pontuação média-alta nos indicadores inflamatórios.
Referências:
Corsi-Zuelli F, Marques L, da Roza DL, Loureiro CM, Shuhama R, Di Forti M, Menezes PR, Louzada-Junior P, Del-Ben CM. The independent and combined effects of cannabis use and systemic inflammation during the early stages of psychosis: exploring the two-hit hypothesis. Psychol Med. 2021 Mar 19:1-11. doi: 10.1017/S0033291721000726. Epub ahead of print. PMID: 33736715.
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