Foto acima: A fachada do Hospital Colônia, inaugurado em 1903 (Acervo Daniela Arbex / Livro Holocausto brasileiro)
Por Yan Kubiak Canquerino (@yankubiak-1) - Colaborador da Academia Médica
“Quando eu era criança pequena lá em Barbacena", talvez se você for mais jovem ou meio desatualizado em relação aos programas de televisão, nunca tenha ouvido falar essa frase.
Então deixa eu te contextualizar: Joselino Barbacena é um personagem criado pelos humoristas Chico Anysio e Antônio Carlos Pires, o personagem foi interpretado por este na década de 1990 e atualmente por Ângelo Antônio no programa “Escolinha do Professor Raimundo”. Uma das características do personagem é possuir uma diminuição da capacidade mental e das funcionalidades dentro de padrões atualmente normais para a sociedade.
Caso não conheça a casuística, pode estar pensando que se trata de uma inclusão social apenas, mas o porquê do personagem existir dentro do elenco possui além desse, outro viés tanto ou até mais importante. Joselino BARBACENA, o sobrenome do personagem traz o nome de uma cidade que possui uma das mais horripilantes histórias escritas e vividas pela população Brasileira.
A cidade de Barbacena
Barbacena é uma cidade no interior de minas gerais, conhecida como “cidade dos loucos”, ela recebeu esse nome uma vez que abrigou o maior hospital psiquiátrico do Brasil, o “Centro hospitalar Psiquiátrico” de Barbacena ou simplesmente Hospital de Barbacena. No início o hospital era um centro de referência para a elite tratar os “desajustados”. No entanto, problemas administrativos e a interferência do Estado fez com que mais de 60 mil mortes ocorressem no local entre 1930 e 1979.
Principalmente a partir da década de 1930 passaram a ser internados não apenas pacientes psiquiátricos, mas também homossexuais, lésbicas, pessoas com deficiência e opositores políticos. Hoje ainda existem 190 pessoas que são assistidas pelo Estado e que conseguiram sobreviver a esse cenário apocalíptico que, infelizmente, existiu. Há uma semelhança muito grande entre o caso e as experiências que o mundo viveu durante a segunda guerra, nos campos de concentração da Alemanha nazista, por exemplo: as pessoas costumavam chegar no hospital-prisão nos chamados “trem de doidos” que eram trens que levavam vidas inocentes muitas vezes para um tratamento desumano e injustificável
A história é triste e faz parte da história da psiquiatria no Brasil. Você tem alguma curiosidade para nos contar? Deixe nos comentários e compartilhe nas suas redes sociais.
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