A resistência aos antimicrobianos vem sendo um problema global e crescente que muito nos preocupa. Afinal, as infecções bacterianas resistentes aos antimicrobianos convencionais podem ser de difícil controle e podem até mesmo causar surtos onde forem detectadas. Pensando nisso a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas publica regularmente manuais para orientar o manejo dessas situações, e nesse texto abordaremos rapidamente algumas recomendações para os casos de algumas Enterobactérias, Acinetobacter resistentes aos carbapenemos e a Stenotrophomonas maltophilia. Boa leitura.
Enterobactérias produtoras de β-lactamases AmpC
As β-lactamases AmpC são enzimas β-lactamases da classe C que podem ser produzidas por uma série de Enterobactérias e organismos Gram-negativos não fermentadores de glicose. A produção de AmpC em Enterobactérias geralmente ocorre por um dos três mecanismos a seguir: resistência cromossômica induzível, desrepressão cromossômica estável ou via genes ampC mediados por plasmídeos. Os microrganismos Enterobacter cloacae, Klebsiella aerogenes e Citrobacter freundii apresentam risco moderado a alto de produção de AmpC que seja clinicamente significativo.
Quais as recomendações da ISDA em relação aos antibióticos β-lactâmicos no tratamento dessas infecções?
A cefepima é sugerida para o tratamento de infecções causadas por organismos com risco moderado a alto de produção significativa de AmpC quando as concentrações inibitórias mínimas (CIM) da Cefepima são ≤2 mcg / mL. Se a CIM de cefepima é ≥4 mcg / mL, um carbapenêmico é recomendado, assumindo que a susceptibilidade aos carbapenêmicos seja demonstrada. A ceftriaxona não é recomendada no tratamento dessas infecções, mas pode ser usada como opção em casos de cistite causada por esses organismos quando a susceptibilidade é demonstrada.
A piperacilina-tazobactam não é sugerida para o tratamento de infecções graves causadas por Enterobacterias com risco moderado a alto de produção clinicamente significativa de AmpC induzível. No que diz respeito aos novos agentes anti betalactamases o painel aponta que apesar do aumento da potência desses agentes e do uso de combinação de inibidores de β-lactama-β-lactamase que são efetivos contra as infecções; os mesmos devem ser reservados para o tratamento de infecções causadas por organismos que exibem resistência aos carbapenemicos.
E os agentes que não são β-lactâmicos?
A sulfametoxazol-trimetoprima ou as fluoroquinolonas podem ser consideradas para o tratamento de infecções invasivas causadas por organismos com risco moderado a alto de produção de AmpC clinicamente significativa, por via intravenosa ou como terapia oral redutora, conforme orientado pelo estado clínico, provável fonte de infecção e capacidade para consumir e absorver antibióticos orais, depois de demonstrada a susceptibilidade a estes antibióticos. Nitrofurantoína, sulfametoxazol-trimetoprima ou uma única dose intravenosa de um aminoglicosídeo podem ser considerados para cistite AmpC-E não complicada.
Considerar a escolha mais racional do medicamento para utilizar nestes organismo resistentes é o melhor caminho para evitar a disseminação destes patógenos, estadias prolongadas nos hospitais e custos adicionais com medicamentos.
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Referência
1. Aitken SL. AMR Guidance 2.0 [Internet]. Idsociety.org. 2021 [cited 2021 Nov 23]. Available from: https://www.idsociety.org/practice-guideline/amr-guidance-2.0/
Conteúdo traduzido e adaptado por Diego Arthur Castro Cabral